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O Nissan Kicks começa a ser vendido em todo o Brasil no dia da abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (5 de agosto). A data foi escolhida porque a marca japonesa é patrocinadora das Olimpíadas de 2016. Mas já o avaliamos na única versão disponível nessa fase em que toda a produção do México está sendo direcionada ao Brasil, seu principal mercado. Ele estreia na configuração SL, topo de linha, que custa R$ 89.990. O motor é o 1.6 flex e o câmbio é automático do tipo CVT (continuamente variável). Fizemos uma viagem-teste de 1.200 km entre São Paulo (capital) e Londrina (PR). (Confira aqui a avaliação completa com o Nissan Kicks)

Foi uma boa oportunidade para avaliar o Kicks não apenas numa metrópole, mas também em auto-estradas, em rodovias de pista simples e na rotina de uma cidade do interior do Brasil. Deu para ver também como o Kicks foi recebido por onde passou. Foi possível medir o conforto a bordo em viagem de longa distância, bem como o consumo e a praticidade do carro.

Partindo da zona sul de São Paulo, peguei o início da Rodovia Régis Bittencourt e o Rodoanel Mário Covas para acessar a Rodovia dos Bandeirantes e tomar o rumo de Campinas. Um caminho mais longo do que o normal, pela Castello Branco, mas eu tinha que passar em Indaiatuba antes. Portanto, após a Bandeirantes, tomei a Rodovia Dom Pedro I, passei por Viracopos e Indaiatuba antes de pegar a Castello Branco. No final dessa grande rodovia, conduzi o Kicks rumo a Ourinhos, na divisa de São Paulo com o Paraná. Chegando ao Estado do Sul, veio a parte mais difícil da viagem, pois a BR-369 é de pista simples até Jataizinho, onde cruza o Rio Ivaí e se transforma em pista dupla até Londrina.

O Nissan Kicks nasceu no centro de design America Rio, um dos cinco da Nissan no mundo. Seu visual exclusivo pode ser identificado pelo “V” que passa abaixo da grade dianteira e segue nos vincos do capô (assinatura mundial da marca), pelo “teto flutuante” quando visto de lado e pela “geometria emocional” formada pelas lanternas de LED traseiras. O teto “flutua” porque uma peça escura de plástico faz a junção entre as janelas laterais e o vidro traseiro. Esse efeito fica ainda mais evidente com o teto em dois tons. As rodas aro 17 completam o visual.

Por fora, o Kicks é irresistível, foi elogiado por todos que o viram. Por dentro, não há aquele excesso de botões que às vezes confunde o motorista. A tela multimídia de 7”, facílima de usar, tem navegador incluído. Eu o usei durante toda a viagem, sem abrir mão de ouvir minhas músicas favoritas pelo aplicativo Deezer e de falar ao celular pelo Bluetooth, de ótima conexão. Além da tela sensível, com ícones grandes, a central multimídia pode ser operada por botões.

O quadro de instrumentos também é multifuncional, com tela colorida de 7”. São 12 funcionalidades, como conta-giros digital, consumo de combustível, bússola, informações de navegação e até controle do chassi. Tudo é acessado por comandos no volante com “conceito joystick”. Na estrada, em nenhum momento me distraí ao ter de usar esses comandos. O volante de raio de giro reduzido proporciona excelente a ergonomia. A posição de dirigir é realmente boa e fácil de encontrar, devido aos ajustes do banco e do volante em altura e profundidade.

Rodando, o Kicks é bem macio. Dirigindo, ele tem uma condução suave. O motor 1.6 flex de 114 cv de potência (com gasolina ou etanol) não faz do Kicks um campeão de aceleradas (o carro leva 12 segundos para fazer 0-100 km/h). Para se ter uma idéia, o 1.8 do Honda tem 36 cavalos a mais. Não digo que o Kicks tenha decepcionado na estrada, pois seu desempenho é suficiente para quem roda a uns 100-120 km/h sem pressa. Mas o preço parece meio desproporcional à potência e performance.

A Nissan acredita que o Kicks será usado principalmente nas grandes cidades, por isso centrou seus esforços na economia de combustível e conseguiu nota B na classificação geral do Inmetro. A confiança no baixo consumo é tanta que o tanque do Kicks tem apenas 41 litros. Numa viagem tão longa, parei várias vezes em postos de gasolina. Nos trechos em que dirigi de forma mais tranqüila, alcançando 120 km/h sem pressa, ele fez 12,5 km/l de gasolina. Quando forcei um pouco a barra nas acelerações, a média caiu para 11,2 km/l. De forma geral, o consumo agradou, pois andei sempre no limite da velocidade, com ar-condicionado ligado, com uma pessoa do meu lado e com algumas malas. Na volta, voltou meio lotado.

O câmbio X-Tronic CVT do Kicks tem função D-Step, que simula trocas de marchas se o motorista dirigir com o pé mais fundo no pedal do acelerador. Mas, sinceramente, acho isso uma bobagem num câmbio cujo diferencial é não ter trocas de marcha. Seria muito mais útil, por exemplo, ter piloto automático (que ele não tem nem nessa versão topo), pois fez falta nas longas retas das rodovias Bandeirantes e Castello Branco.

O foco no uso urbano e na manutenção mais barata que a do HR-V também aparece na escolha da suspensão traseira (eixo de torção e não independente) e dos freios traseiros (tambor ao invés de disco). Apesar disso, o Kicks SL tem itens de segurança importantes para a estrada: controle de tração/estabilidade, estabilizador ativo da carroceria (reduz o perigoso sobe-desce da frente em pisos ondulados), controle dinâmico em curvas (mantém o carro dentro da faixa) e controle do freio motor (evita freadas bruscas dentro das curvas em descida de serra).

O teto laranja só está disponível na cor cinza e sai por R$ 2.500. E três cores têm custo extra: cinza, prata e branco (R$ 1.350 por causa da pintura metálica ou perolizada). Só o preto está embutido no preço. Menos mal a belíssima série especial Rio, de 1.000 unidades numeradas e na cor branca com teto laranja, custe apenas R$ 1.000 a mais (sai por R$ 90.990).

Em Londrina, aconteceu uma situação curiosa. Parei com o Kicks no estacionamento de um restaurante e uma dúzia de funcionários da concessionária Nissan, que fica ao lado, saiu para ver o carro. Todos estavam ansiosos para conhecer o carro e iniciar as vendas. Uma das novidades do Kicks é a câmera de 360o, que detecta objetos em movimento nas manobras de estacionamento. Na prática, entretanto, ela confunde um pouco a atenção do motorista, pois aparece ao lado da câmera de ré durante seu funcionamento. Mas, na cidade paranaense, parei o carro numa vaga tão apertada que, sinceramente, senti mais falta da imagem inteira na tela.

A volta de Londrina para São Paulo é muito mais confortável do que a ida. Afinal, você começa a viagem pelo trecho mais cansativo, cheio de curvas perigosas, especialmente no trecho entre Jataizinho e Cornélio Procópio. Por incrível que pareça, embora sejam estradas (boas) de pista simples, os pedágios no Paraná são os mais caros. Isso irrita os motoristas paranaenses há anos. Mas não há outra opção a não ser pagar. Outra coisa: em Londrina parece existir um cartel da gasolina e do etanol, pois o combustível é caríssimo e quase todos os postos cobram o mesmíssimo preço, coincidência de centavos.

Um ponto realmente alto do Kicks são os bancos. Ele utilizam a tecnologia Zero Gravity, desenvolvida pela Nasa sob encomenda da Nissan. É impressionante como o corpo se acomoda bem nas viagens longas. Segundo a Nissan, o sangue flui melhor e o corpo não cansa (ou cansa muito menos). Num balanço geral, o Kicks foi aprovado nessa primeira viagem. Parece meio caro, mas cumpre seu papel. Agora é com o consumidor, para pesar se o que ele compensa o preço de R$ 89.990 (ou salgados R$ 93.840 no carro avaliado), mesmo com um motor pouco potente e sem piloto automático.

Leia mais sobre o Nissan Kicks, seu posicionamento de mercado e a avaliação completa na edição de agosto da revista Motor Show.