07/08/2020 - 10:56
Sinal dos tempos: o consumidor que antes comprava um sedã como o Ford Fusion, nascido nos EUA e fabricado no México, agora leva SUVs médios como este novo Ford Territory, nascido e produzido na China, que chega em setembro, com pré-venda em condições especiais a partir de hoje (leia aqui). O primeiro Ford fabricado lá e vendido aqui chega para brigar com o pernambucano Jeep Compass e com os mexicanos VW Tiguan Allspace e Chevrolet Equinox. Mas será ele um “negócio da China”? Veremos.
Passamos alguns dias com o SUV e notamos que, nas ruas e estradas, ele chama bastante atenção. Sua carroceria remete a outros modelos da marca, e isso é intencional. O frentista pensou ser o novo Edge, o que é bom para a montadora (“é um legítimo Ford, não um carro chinês”). Ao mesmo tempo, ele é um SUV bonito, cheio de vincos e de personalidade. E grande, o que atrai quem compra carro por metro, em busca de espaço e status.
ESPAÇO DE SOBRA
Na cabine, há altos e baixos. Entre os pontos positivos ficam o acabamento com materiais macios, imitação de madeira e iluminação por LEDs, os bancos ventilados, o enorme teto panorâmico e o console central largo, que dá a sensação de se estar em um carro grande e “chique”.
No Titanium, há, ainda, itens como carregador de celular sem fio, bancos de couro perfurado com ventilação e aquecimento e quadro de instrumentos digital e configurável (com 10”, mas grafismos questionáveis; no modo Sport, o conta-giros devia ter visualização rápida, mas ele é digital, sem ponteiro).
Dentro do Territory, você se sente em um “suvão” imponente, sentado mais alto que nos outros carros. No banco traseiro, com saídas de ar dedicadas, mesmo adultos têm espaço de sobra para as pernas e os assentos que são similares ao dianteiro, em forma e comforto.
Mas se o Territory se destaca pelo tamanho e pelo espaço em relação ao best-seller Compass, Tiguan e Equinox são ainda um pouco maiores por fora, e têm porta-malas mais amplos. Aí está um dos pênaltis deste Ford – que leva só 348 litros, ou, sem o porta-pacotes, 420 (o mesmo que muitos dos SUVs compactos). Para piorar, a tampa traseira é pesada (e não é motorizada como em alguns dos rivais).
Outro ponto negativo do Territory aparece no sistema multimídia – justamente um item que há muito tempo nos acostumamos a elogiar em todos os Ford. Em vez da conhecida e amigável linha Sync, ele traz o confuso “Sync Touch”. A tela é grande e bonita, com ótimo contraste, e há conectividade Apple CarPlay sem fio (Android Auto com fio). Mas a interface não é intuitiva, e a navegabilidade não é nada eficiente. Mudar a temperatura do ar, por exemplo, é uma tarefa nem um pouco rápida.
SUAVE AO VOLANTE
A chave é presencial, e o botão de partida fica do lado esquerdo, como nos Porsche (mas isso se mostrou ruim ao dirigir a noite, quando sua iluminação vira um reflexo no vidro, atrapalhando a visualização do retrovisor).
A posição de dirigir é boa, embora o ajuste do volante seja limitado. Apesar de os engenheiros da marca terem rodado mais de 100 mil quilômetros no Brasil para ajustar motor, câmbio, suspensões, ruído e acústica, ao volante o Territory ainda tem sotaque chinês.
O SUV ficou bastante silencioso e confortável, é verdade, mas as suspensões são exageradamente macias: nas curvas mais fechadas, a frente quer escapar, e o SUV mostra seu peso. Na terra, elas garantem certo conforto, e a boa altura do solo (21,5 cm) evita raspadas. Mas os buracos maiores são recebidos com pancadas secas. Pelo menos a direção é bem precisa – e não exageradamente leve, como na maioria dos modelos chineses.
Na mecânica, o Territory tem motor 1.5 turbo de 150 cv – mesma potência do Tiguan, mas menos que os 172 cv do Equinox –, e um pouco menos de torque que eles. Para reduzir o consumo, trabalha no ciclo Miller (as válvulas de admissão demoram a fechar, para que parte da mistura volte ao coletor de admissão para ser usada no próximo ciclo).
Mas essa medida não adianta muito. Na cidade, pisando de leve no acelerador, até que o SUV nos surpreendeu, marcando, em nosso uso diário, de 8 a 9 km/l. Na estrada, porém, tivemos muita dificuldade para superar os 10 km/l, mesmo em velocidade constante de 120 km/h (2.500 rpm). Aliás, mesmo segundo os números do PBEV-Inmetro, consumo urbano e rodoviários são mais próximos do que o normal – e o último, pior que a média.
Também para economizar gasolina (ele não é flex), a transmissão é do tipo CVT. Acoplada por conversor de torque hidráulico, tem saídas suaves e atua bem na cidade, garantindo suavidade e um desempenho sem decepções. Mesmo no meu bairro, cheio de ladeiras, não faltou força ao conjunto (e o freio de mão elétrico com auto-hold é prático). Embora digam que é uma CVT com oito marchas, as marchas só são simuladas quando se coloca a alavanca no modo manual – e não sempre, como em alguns modelos. Assim, atua como uma CVT normal.
Não há aletas no volante, e, para selecionar entre as oito marcha é preciso antes colocar a alavanca para a esquerda (e este modo é obediente, não reduzindo nem com o kick-down). Curioso é que a 120 km/h, ao mudar para o modo manual ele fica em sexta: sétima e oitavas tem relações pré-definidas que baixam as rotações (1.900 rpm na última marcha), mas o carro fica meio “morto”, sem força para responder às solicitações do pé direito (como em outro chinês, o Caoa Chery Arrizo 5). E, ainda assim, o consumo não melhora.
Há, ainda, o modo Sport, acionado por botão. Ele mantém os giros do motor mais altos e o acelerador mais arisco, mas não adianta muito. Quando você pisa fundo para fazer uma ultrapassagem, por exemplo, a transmissão demora a responder. Nesses casos, é melhor puxar para o modo manual – mas muita gente não gosta ter de ficar trocando marcha em um carro automático. E, no fim das contas, esse é um carro para andar na boa mesmo. O negócio dele é o conforto.
ALTA TECNOLOGIA
O Territory topo de linha vem com um interessante pacote de sistemas semi-autônomos, mas nem todos eles funcionam muito bem. O alerta de mudança involuntária, por exemplo, não atua no volante, e só emite um alerta sonoro. Mas o maior problema é que ele exagera na cautela. Mal calibrado, ele alerta mesmo se você apenas se aproxima das faixas no asfalto – e isso nos irritou até conseguirmos achar o comando para desligá-lo, meio escondido atrás da alavanca de câmbio.
Já monitor de ponto cego (alerta luminoso e, em situações mais críticas, também sonoro) e piloto automático adaptativo funcionaram muito bem. Este último tem “Stop and Go”: mantem a distância do veículo à frente e atua na frenagem até a parada total – e, dentro de três segundos, sai totalmente sozinho.
Função útil no anda e para do trânsito – mas pena que, se ficar parado mais tempo que isso, você tem que acelerar de novo (e reativar o sistema, o que é ruim; em muitos modelos, basta acelerar que ele retoma a velocidade programada anteriormente). Também há um alerta de colisão com frenagem (só funciona no trânsito, a até 30 km/h, que serve justamente para evitar as pequenas (e caras) colisões por distração.
Ah, e o Ford Territory ainda estreia o Ford Pass Connect, sistema que permite controlar diversas funções do carro pelo celular – como dar partida, ligar o ar-condicionado para ir climatizando a cabine, travar e destravar portas, localizar o carro ou ver a pressão dos pneus. Além disso, tem alerta de acionamento do alarme (você pode chamar a polícia sem correr o risco de ir pro carro e o risco de encontrar o ladrão ou sequestrador). O primeiro ano de assinatura deste serviço é gratuito, mas depois disso ele deve passar a ser cobrado.
MAIS POR MENOS. SÓ QUE NÃO
Deixei o preço para o final porque era assim que costumava acontecer nas apresentações dos carros chineses até há algum tempo: depois de mostrar o que o modelo oferecia – em muitos casos mais do que os ocidentais –, revelavam os preços. E aí vinha a grande surpresa. O título “Negócio da China” nunca foi tão usado. Mas o dólar alto e a melhoria na imagem (e na qualidade) dos modelos daquele país mudaram as coisas.
Aqui, por exemplo, a surpresa é o preço ser igual aos dos outros (veja detalhes deles no quadro): a versão SEL custa R$ 165.900, e a Titanium avaliada, R$ 187.900. Preço de Compass Limited diesel, com tração 4×4, ou de Equinox 2.0 turbo, de 280 cv.
Curioso é que na apresentação a marca americana comparou o Territory ao Compass e ao Tiguan Allspace, mas não ao Equinox 1.5 – que parte de R$ 137.260. Falta ao Ford Territory uma versão mais básica, na faixa de R$ 135 a 150 mil. E, nas demais, equiparado em preço ou até mais caro que os rivais vendidos nos exigentes mercados americano e/ou
europeu, o SUV da Ford fabricado na China não mostra muito argumentos para convencer o consumidor.
O Ford Territory pode ser, sim, uma compra interessante, uma nova e atraente opção, cheia de tecnologia e com um belo design. Mas, com estes preços, não dá para dizer que é um negócio imperdível. Respondendo à pergunta do título, o Ford Territory vem da China, mas não é um negócio da China.
OS CONCORRENTES
Ford Territory Titanium
Preço básico R$ R$ 165.900
Carro avaliado R$ R$ 187.900
Motor: quatro cilindros em linha 1.5, 16V, duplo comando variável, injeção direta, turbo Cilindrada: 1499 cm3
Combustível: gasolina
Potência: 150 cv a 5.300 rpm
Torque: 22,9 kgfm de 1.500 a 4.000 rpm
Câmbio: automático continuamente variável (CVT), modo manual com oito marchas Direção: elétrica
Suspensões: MacPherson (d) e multi-link (t)
Freios: disco ventilado (d) e disco (t)
Tração: dianteira
Dimensões: 4,580 m (c), 1,936 m (l), 1,674 m (a)
Entre-eixos: 2,716 m
Pneus: 235/50 R18
Porta-malas: 420 litros (348+72)
Tanque: 52 litros
Peso: 1.632 kg
0-100 km/h: 11s8
Vel. máxima: n/d
Consumo cidade: 9,2 km/l
Consumo estrada: 10 km/l
Emissão de CO2: sem dados
Nota de consumo: não divulgada
Classificação na categoria: não divulgada
EQUIPAMENTOS
Ford Territory SEL (R$ 165.900)
Rodas de liga leve de 17″, pneus 235/55 R17, teto solar panorâmico elétrico, luzes de condução diurna (DRL) em LED, lanternas traseiras em LED, faróis em LED, faróis com temporizador (follow me home), faróis de neblina dianteiros, retrovisores externos na cor do veículo e luzes indicadoras de direção, retrovisores externos com ajuste elétrico, antena tipo barbatana de tubarão
ar-condicionado automático digital com saída para os bancos traseiros, console central com porta-objetos e apoio de braço, bancos traseiros com apoio de braço central e porta-copos integrado, banco traseiro bipartido e rebatível, banco do passageiro com ajuste manual de quatro posições, bolso porta-revistas atrás do banco do motorista e passageiro, vidros elétricos com abertura e fechamento com um toque para cima/baixo (dianteiros / traseiros), parassol com espelho de cortesia e luzes (motorista / passageiro), volante em couro, luzes traseiras de leitura, ajuste manual do volante em 4 posições
assistente de partida em rampas (HLA), controle eletrônico de estabilidade (ESC) e tração (TCS), freios a disco nas 4 rodas, com ABS e EBD, monitor de pressão dos pneus, cintos de segurança dianteiros com ajuste de altura, seis airbags (frontais, laterais e cortina), isofix, espelho retrovisor interno eletrocrômico, câmera de ré, sensores de estacionamento traseiro e dianteiro, chave presencial, tela central multifuncional sensível ao toque HD de 10.1″, Apple CarPlay sem fio, três entradas USB frontais (1 para transferência de arquivo + recarga / 2 para recarga), entrada USB para carregamento traseira, Android Auto, comandos de áudio e voz no volante, seis alto-falantes
Funções do Ford Pass: partida remota com climatizador, travamento e destravamento, alerta de acionamento do alarme no celular (Guard Mode), localização, status do veículo (autonomia, pressão de pneus, nível do combustível), alertas de funcionamento,
Ford Territory Titanium (R$ 187.900)
ITENS DO SEL, MAIS: Rodas de liga leve de 18″, pneus 235/50 R18, teto pintado de preto, luzes de aproximação nos retrovisores, retrovisores externos rebatíveis eletricamente, maçanetas cromadas, bancos parcialmente em couro na cor bege, bancos dianteiros com aquecimento e resfriamento controlável, luz ambiente configurável em sete opções de cores e intensidade, fechamento global de portas, vidros e teto solar, banco do motorista com ajuste elétrico de oito posições, ajuste manual do volante em 4 posições, alerta de colisão e frenagem autônoma de emergência (AEB), sistema de monitoramento de ponto cego, alerta de mudança de faixa, câmera 360º com visualização panorâmica, painel de Instrumentos digital com com tela HD de 10″ configurável, piloto automático adaptativo com Stop and Go, sistema de estacionamento automático, carregador celular sem fio, acendimento automático dos faróis, sensor de chuva, Entradas USB no retrovisor, oito alto-falantes
Cores disponíveis:
Branco Bariloche, Marrom Roma, Prata Maiorca, Preto Toronto, Vermelho Vermont e Azul Santorini