01/09/2025 - 6:00
O mundo automotivo na China funciona a todo vapor. Os carros são reestilizados em pouquíssimo tempo (coisa de 1 ano, dependendo), e novas gerações nascem a cada três anos ou menos. Por essas e outras, a BYD do Brasil tem que lançar um carro novo atrás do outro. Quer um exemplo? O Song Plus chegou aqui no final de 2022, e em maio de 2025 já tinha mudado. Nova cara, novos equipamentos, e um preço que subiu pouco: R$ 250 mil, frente os R$ 240 mil de antes.
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Song Plus 2026 evolui mais do que o esperado
E, surpresa, ele evoluiu até mais do que a BYD divulgou! Grandão e de porte imponente, ele ficou mais estiloso e elegante com essa reestilização. Há quem diga que lembra alguns Porsche, mas prefiro dizer que ele tem “cara de Seal”. Por dentro, basicamente o mesmo ótimo acabamento, com novidades pontuais, como a alavanca de transmissão menor e mais discreta, ou o reposicionamento de algumas luzes ambientes de LED (uma faixa luminosa “desnecessária” abaixo da multimídia deixou de existir, por exemplo). Ficou melhor, como deve ser.
Os tais equipamentos inéditos, incrementos valiosos pelos R$ 10 mil a mais da nova linha do Song Plus, melhoraram muito a vida a bordo. O sistema de som Infinity, por exemplo, tem qualidade surpreendente, e não distorce o que está sendo tocado nem nos volumes mais altos. O head-up display, que projeta informações de condução no parabrisas, é outra coisa rara nessa faixa de preços. A multimídia também foi atualizada e conta com algumas novidades, como o assistente de voz mais simpático: responde se está tudo bem e conversa de forma mais fluída.
Motorização mais esperta
Porém, convivendo com o carro, deu pra ver que outras coisas mudaram. A motorização híbrida plug-in, olhando pela ficha técnica, é igual: inclui um pequeno 1.5 aspirado a gasolina (pouco mais de 100 cv), que mais serve como gerador, enquanto o grande responsável por mover o carro é um propulsor elétrico dianteiro de, aí sim, quase 200 cv de potência. Os 235 cv totais, com torque misto de cerca de 41 mkgf, são os mesmos declarados de antes.

Seu desempenho segue animador, tal qual os 63 km de autonomia elétrica divulgada pelo Inmetro, que é facilmente ampliada: por pouco não fui de SP capital até Sorocaba, 100 km distante, apenas no modo elétrico. Isso, vale lembrar, no uso rodoviário. Na cidade, rendeu ainda mais.

Na hora de esgotar a bateria, percebi que, ao invés de mudar sozinho para o modo híbrido com 20% de carga, ele fez isso com 25%. Estranhei, mas só fui entender o motivo disso ao longo da semana de testes. Esse nível de reserva fica lá para que as baterias nunca se esgotem totalmente, e assim elas sempre têm carga disponível quando o motor elétrico precisa de máxima performance, por exemplo. Ou então, na hora de tirar o carro da inércia, operação feita com tração elétrica. O sistema basicamente guarda energia para não faltar depois…

Mas, porque 25% ao invés de 20%? Com mais reserva de energia, o Song Plus consegue entregar sua máxima performance (aquela que permite o 0 a 100 km/h abaixo dos 8 segundos e afins) por mais tempo, mesmo que o motorista não faça recarga das baterias em fontes externas, como foi meu caso.

Não só isso: ele encara subidas longas com menor atuação do motor a combustão, que também traciona menos as rodas nas altas velocidades. Tudo porque agora ele trabalha com mais carga mínima nas baterias: 25%, ao invés de 20%.

Isso só tem efeito se o motorista passar longe das tomadas e dos eletropostos, usando o Song Plus como se fosse um híbrido convencional, sem recarga em fontes externas de energia. Para quem pluga o carro toda noite num wallbox, não vai mudar nada. Como rodei pelo menos 400 km sem recarregar o carro em eletropostos, a mudança fez bastante diferença.
Motor 1.5 liga menos

Acionando menos o motor a combustão, o SUV da BYD torna-se mais suave e silencioso (embora o som e vibração do 1.5 sejam pouco notados pelos passageiros), e ainda faz render mais o tanque cheio de gasolina, com aproximadamente 57 litros. Terminado o teste com 550 km percorridos, sendo que 70% deles foram na estrada, seu marcador ainda acusava mais de meio tanque de gasolina cheio. Nessa toada, renderia 1.100 km por tanque no total, ou mais.
O que também ajuda é que a regeneração de energia ficou mais forte nessa linha 2026. Mesmo na estrada, ele consegue recuperar mais carga de frenagens e desacelerações do que antes. Cá entre nós, essa era uma falta do Song Plus até então: mesmo no modo máximo, ele regenerava pouco, e desperdiçava muita energia durante a condução por isso. Problema resolvido. De quebra, é uma ajuda para elevar a autonomia máxima (pouco, mas ajuda).
Mecânica mais quieta

Nitidamente, são evoluções feitas com atualizações não tão complicadas de gerenciamento eletrônico, software e programação. Mas, juntas, fizeram bem ao carro. Já na mecânica, uma boa nova é que o sistema de suspensões pareceu mais silencioso e robusto: antes era mais fácil ouvir alguma batida seca ou “batuques” durante a condução em pisos ruins. No exemplar avaliado, tudo quieto.
Song Plus, no geral

Como um todo, o Song Plus agrada. Tem máximo conforto, roda suave e silencioso, e não nega fogo na hora de acelerar. Porém, é bem macio no acerto de suspensões, e sua carroceria tem alto centro de gravidade: inclina mais nas curvas e pode rolar além do esperado no caso de manobras muito rápidas. Não é um carro para performance esportiva, e o que prova isso é sua velocidade máxima limitada em 170 km/h (175 pelo painel). O foco é “vida boa” e economia de combustível.

O porta-malas ficou menor por conta dos acabamentos internos, mas segue amplo para uma família de vários membros. Ronda os 550 litros, contra 575 de antes. Em contrapartida, o espaço interno imenso é o mesmo: assoalho plano, portas grandes, teto alto, ampla área envidraçada e ótimo acabamento fecham o conjunto. Atrás, três adultos podem viajar sem muito desconforto, e contando com saídas do (poderoso) ar-condicionado, portas USB, luzes de leitura com acionamento touch e ajuste de inclinação do encosto traseiro. Todo mundo vai bem, obrigado.
Na frente, porém, os bancos são os mesmos, pequenos. Quem tem mais de 1,85 m de altura vai sentir o topo do encosto de cabeça batendo na nuca, algo que pode ser descômodo a longo prazo. Ajustes elétricos, ventilação e aquecimento são de série para eles. Da mesma forma, o head-up display ficou no meu limite de visão: com 1,87 m de altura, tinha parte das informações cortadas caso me sentasse numa posição muito ereta. A telinha tem ajuste de altura, e estava no mais baixo possível. Não tem jeito: é um carro que leva em conta a baixa estatura média dos chineses (menos de 1,75 m para homens).
Equipamentos de série
Equipamentos? Muitos. Teto panorâmico, sensores de chuva e crepuscular, poderosos faróis em LED, multimídia giratória de 15,6”, internet a bordo, assistente de voz, painel digital bonito e cheio de informações, dois carregadores de celular sem fio, tampa do porta-malas totalmente elétrica, inúmeros assistentes inteligentes de condução, luzes ambientes em LED personalizável, dentre vários outros luxos e funções que já citei aqui no texto. Com exceção da cor interna (que também pode ser preta com marrom), e dos tons de carroceria, tudo vem de série no carro.
Danados
Os chineses são danados. Aprendem rápido, entendem as dores de cada mercado, e vão moldando seus carros para que a concorrência fique numa saia cada vez mais justa. E, as vezes, seus carros evoluem em tantos pontos, que nem a própria marca dá conta de divulgar todas as novidades. Nada que um teste prático de alguns dias não resolva…
