Há aqueles carros que brilham por conta própria. Porque são muito bonitos, porque oferecem alta performance, porque são muito tecnológicos ou equipados, porque oferecem boa relação custo X benefício, ou então, em algumas raras vezes, tudo isso junto.  

Até então, não enxergava o BYD Yuan Pro, SUV elétrico da marca chinesa, em nenhuma dessas “categorias”. Passava despercebido, mesmo com o preço menor que o de alguns rivais a combustão: R$ 182.800. 

BYD Yuan Pro – Foto: Lucca Mendonça

Comecei gostando…

Mas, as vezes a vida nos surpreende, e sabendo disso, decidi passar uma semana a bordo do (até então insosso, a meu ver) SUV compacto. Com ele, sabia que teria que encarar trajetos urbanos e rodoviários, trafegar com mais passageiros a bordo, e utilizar bastante o porta-malas, por conta de alguns compromissos pessoais e profissionais. No total, cerca de 550 km, distância que acabou “batendo” com o odômetro no final dos testes. 

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E quanto mais rodei com esse carinha das fotos, mais fomos nos dando bem. A começar pela posição de guiar: diferente de outros SUVs compactos, ele prefere um posto de condução mais baixo, com painel, console central e laterais de portas elevados, naquele movimento de “abraçar” quem dirige. A visibilidade, ainda assim, não é prejudicada, já que suas janelas são altas, seguindo o parabrisas. Na minha pedida!

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Ergonomia e espaço

O teto alto e plano é outro destaque, e deixa a cabine com um ar de espaçosa. Não importa a altura do ocupante: ele sempre vai passar longe de encostar a cabeça no teto. Sem contar que facilita a mobilidade interna, o “pra lá e pra cá” dentro do carro. Outro aliado nisso é o assoalho totalmente plano, mas esse não é um mérito exclusivo do Yuan Pro, mas sim da maioria dos EVs. Logo de cara, já simpatizei com a ergonomia, ainda que o encosto de cabeça embutido tenha ficado curto para meu tamanho.

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Multimídia grande, alguns botões físicos no console central, um painel de instrumentos digital grande (similar ao da linha híbrida Song) e os comandos de voz do sistema (Hi, BYD”) ajudam nas funções diárias, mesmo que muita coisa importante fique centralizada na tela rotativa do meio do painel (12,8” com as típicas funcionalidades da marca, como internet nativa e possibilidade de baixar apps, como Spotify). Até mesmo o grande volante, exclusivo dele no mercado brasileiro, mostrou boa pega. 

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O espaço traseiro é interessante, aproveitando aquele mesmo teto alto e plano que se mostrou vantajoso na dianteira. Quem senta atrás ainda tem luzes de LED independentes, para leitura, e portas USB dedicadas. No geral, assim como outros SUVs compactos, acomoda dois adultos e uma criança no meio do banco traseiro. Só não sobra muito para o porta-malas, de limitados 265 litros oficiais. Parece maior aos olhos de quem vê.

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(bastante) conforto

Quem fala (muito) alto é o conforto. Em todos os sentidos: acelerações, frenagens, direção, lombadas, buracos, silêncio. Seus 177 cv de potência com pouco menos de 30 mkgf de torque não atiçam o lado esportivo do motorista, mesmo com modo “Sport” de condução ativado. As acelerações e retomadas de velocidade são vivas, como em todo bom elétrico, mas progressivas e contínuas, sem coices, trancos ou coisa parecida. A BYD, ainda assim, fala em menos de 8 segundos no 0 a 100 km/h, que parecem demorar um pouco mais na prática. Os 160 km/h de máxima (167 pelo painel) dão conta do recado de qualquer rodovia nacional. 

BYD Yuan Pro – Foto: Lucca Mendonça

Não, ele não tem viés esportivo, e deixa isso claro já nas linhas da carroceria, diferente do seu irmão maior Yuan Plus, mais invocado. Porém, não faz feio nas curvas rápidas, onde inclina pouco e não demonstra descontroles, nem nas frenagens rápidas, onde os discos nas quatro rodas estão lá para mostrar serviço. Só que o Yuan Pro prefere uma tocada mais suave, aproveitando o acerto macio e com alta capacidade de absorção das suspensões. Elas só não parecem gostar muito de pisos ruins (“reclamam” quando muito exigidas), mas, no asfalto decente, conquistam de cara. 

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O SUV compacto elétrico da BYD não oferece o maior curso de molas e amortecedores, nem tem a maior altura livre do solo, porém absorve com competência a buraqueira mais pesada, e encara com vigor lombadas ou valetas em alta velocidade. Em nenhum momento raspou parachoques, nem encostou o assoalho no solo, mesmo quando carregado. Destaque para os pneus Westlake, que, apesar de não serem de marca conceituada, parecem fazer um bom trabalho geral: cantam muito pouco (sinal de boa aderência), e são macios para encarar obstáculos.

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Bastante coisa é configurável, incluindo o peso da assistência elétrica da direção (mesmo no Sport, que deveria ser mais durinho, ainda é bem macia), ou a atuação dos freios (outro que é sempre suave). Poderia, ainda sim, ter um sistema de regeneração de energia em frenagens e desacelerações mais poderoso, o que ajudaria melhorando a eficiência energética do carro como um todo. Quem sabe até um One Pedal… 

Bateria, alcance, recarga e afins

BYD Yuan Pro – Foto: Lucca Mendonça

E, falando nisso: não dá para avaliar um elétrico sem entrar no “praxe” de baterias, autonomia, consumo e outros papos do tipo. O Yuan Pro é razoável nesse quesito, mas atende com maestria quem não costuma viajar muito. Sua bateria de tração com 45 kWh de capacidade é menor que a de outros SUVs compactos elétricos, e até que a do hatch Dolphin Plus. Só que dá para ir muito além dos 250 km de autonomia declarada pelo INMETRO, inclusive na estrada: seguindo as médias de km/kWh e alcance indicado pelo painel, que, aliás, conversam bem entre si, seriam pelo menos 300 km de rodovias. Claro, mantendo modo Eco de condução, que não limita velocidade máxima, e pé leve ao redor dos 110 km/h. 

BYD Yuan Pro – Foto: Lucca Mendonça

Na cidade, se a condução também não for agressiva, é possível se aproximar dos 400 km por carga. Nesse caso, pode atender uma família na rotina de trabalho/filhos na escola/academia/supermercado etc., e até encarar uma viagem com “papais e filhinhos” a bordo no final de semana. E, é fácil intuir: bateria menor significa recarga mais rápida, mesmo numa fonte fraca como o carregador portátil de tomadas 220V residenciais. A própria BYD fala em 180 km de autonomia após 20 minutos plugado em 65 kW. Esse, inclusive, é o limite do carro.  

Simples, mas “ajeitado”

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O projeto do Yuan Pro é simples, mas esmerado. As tais simplicidades ficam claras em pontos como espessura do vidro das janelas (finíssimos), sistema de som não muito potente, ou mesmo no som das batidas de porta (mais secas, “lata com lata”). Isso não impede, porém que ele tenha um acabamento acima da média, se considerados alguns SUVs compactos a combustão, e refinamentos como apoio de braço no banco traseiro, carpete grosso e felpudo, ou iluminação interna totalmente em LED (em partes, até personalizável nas cores e intensidade). 

Ar-condicionado digital automático, acendimento automático dos faróis, rodas de liga-leve aro 17, chave presencial, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, câmera 360º, carregador de celular sem fio, bancos dianteiros com ajustes elétricos, GPS nativo, e forração interna em couro sintético são de série. Não há teto solar panorâmico, como geralmente gosta o público consumidor desses SUVs, nem tampouco assistentes de condução (ADAS), outro item que o mercado costuma pedir.  

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Porém, é com essas “ausências”, que ele consegue custar menos que as versões topo de linha de VW T-Cross, Chevrolet Tracker, Honda HR-V, Hyundai Creta e cia. E, assim, torna-se mais interessante do que parece…