01/01/2021 - 12:00
Se este carro fosse visto em um desenho animado como “Futurama”, talvez ninguém notasse. Mas, nas ruas de uma cidade grande, o pequeno carro elétrico Citroën AMI – pronuncia-se em francês, com acento em “i”, e significa “amigo”– chama mais a atenção do que uma Ferrari.
Pessoas com smartphones nas mãos tiram fotos, curiosos pedem informações, motoristas dizem “olá” e os milaneses xingam, porque ele está andando devagar demais no anel viário.
Tudo bem, eu admito, 45 km/h é muito pouco. Mas há dois limites a serem respeitados no Citroën AMI: um é o geral, de 50 km/h nas cidades europeias, o outro, intrínseco do AMI – que será homologado como quadriciclo leve para poder ser dirigido já aos 14 anos, portanto com requisitos técnicos de potência, peso e velocidade máxima bem definidos.
Tenho certeza de que não custaria nada aos engenheiros franceses oferecer mais alguns quilômetros por hora, e a mecânica dele sem dúvida teria permitido isso, mas simplesmente não foi possível.
Em todo caso, quando o carrinho chegar às concessionárias, vale experimentar o prazer de um passeio: você descobrirá que a agilidade, as dimensões ultracompactas e a flexibilidade de utilização compensam, em grande parte, o limite de velocidade de apenas 45 km/h.
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Corrida pela economia
O Citroën AMI não é a negação do carro – os nostálgicos dos pistões podem ficar tranquilos –, mas uma opção ao mesmo de baixo custo, além de uma alternativa às scooters (e bem mais segura do que elas). O AMI poderá ser comprado ou alugado e, em breve, também estará em serviços de compartilhamento de veículos (leia mais adiante).
A ideia básica, que teve um efeito bastante positivo na redução do preço do carro (que, graças aos incentivos oferecidos pelo Estado, cai de € 7.750 para apenas € 5.430 – o que equivale a R$ 34 mil), é racionalizar os custos até ao osso. Mas não no sentido de diminuir a qualidade, com utilização de materiais de péssima qualidade.
Sua carroceria, feita de um material chamado ABS, por exemplo, é totalmente reciclável: um dos investimentos mais substanciais na produção de uma carroceria são os moldes de aço, e também de plástico, quanto menos você faz, menos gasta. Por isso que, ao atualizar determinado modelo, portas e outras chapas de metal costumam ser mantidas por décadas.
O Citroën AMI encara esse problema de outro ponto de vista, e usa peças intercambiáveis para a carroceria. Assim, o conjunto do para-choque dianteiro com faróis e porta-placas é idêntico ao traseiro: mudam somente as cores e o tipo de conjunto de luzes.
O mesmo vale para os para-lamas e para as portas. Neste último caso, a simetria das fixações das dobradiças impôs às grandes portas um padrão incomum, que os designers transformaram em particularidade: a porta do condutor é “suicida” (se abre ao contrário), enquanto a do passageiro é do tipo tradicional.
Não há pintura, porque esse também é um processo bastante caro, mas apenas uma cor cinza-azulada que é adicionada à mistura do plástico, e que não deve ser pintada no caso de riscos. E há mais algumas economias “inteligentes”: as tiras de pano para abrir as portas, a ausência do rádio, a produção em Marrocos.
Há outras soluções que talvez sejam até exageradas: eu, por exemplo, teria colocado um retrovisor interno, ao invés de contar apenas com os externos, pequenos e redondos. Não há ar-condicionado, claro, mas só um sistema de aquecimento.
Finalmente, o teto de vidro sem proteção pode ser ruim para o conforto técnico na cabine sob o sol de verão (imagine em um país tropical como o Brasil).
Desalinhados
O Citroën AMI tem apenas dois assentos básicos, mas não desconfortáveis, que ficam ligeiramente desalinhados para aumentar o espaço para os ombros (como no smart fortwo). Com um passageiro ou uma mala do tamanho daquelas de bordo de avião, viaja-se sem problemas.
Obviamente, as limitações legais devem ser respeitadas e deve-se levar em consideração uma certa redução no desempenho em subidas quando totalmente carregado.
O painel parece uma grande escrivaninha, cheia de porta-objetos, enquanto o banco do motorista fica recostado nas rodas traseiras – por um motivo: as peças eletromecânicas – bateria e motor – ficam todas na frente.
O carro se move graças a um pequeno motor a corrente contínua de 48 volts e 8 cv, que zumbe alegremente entre as rodas dianteiras, sem caixa de câmbio e bastante sensível ao acelerador.
Para dirigir, bastam as operações mais elementares: gira-se a chave, ouve-se um “bip” e a marcha para frente ou para trás é engatada usando um seletor localizado onde normalmente fica localizado o ajuste de altura do assento: não é uma alternativa exatamente confortável ou visível, se, por exemplo, você estiver vestindo um casaco.
O pedal do acelerador é bastante sensível, porém progressivo, e em desacelerações, abaixo de 20 km/h, o carro recupera parte da energia. Os freios a disco hidráulico na dianteira e a tambor na traseira fazem seu trabalho, sem um servofreio.
Falta uma assistência na direção, mas ela não é tão necessária: o diâmetro de giro, de sete metros, é pequeno, mas não muito se considerarmos os 2,41 m da carroceria (um número talvez não aleatório: é exatamente a medida da distância entre-eixos do AMI 6, de 1961). Problemas de estacionamento, no entanto, são apenas uma vaga lembrança.
Enfim, uma bela ideia para a cidade, bem no estilo Citroën, que promete chegar às ruas muito em breve. As primeiras entregas, na Europa, estão previstas para janeiro. Ainda não há previsão de chegada ao Brasil, por questões de custo e de mercado. Mas, certamente, ele seria legal para a imagem da marca.
COMO COMPRAR: para todos os gostos
Para comprar o Citroën AMI, no momento, há duas formas: comprá-lo à vista por pouco menos de € 6 mil (R$ 38 mil), incluindo o bônus para veículos elétricos na Itália, ou optar pelo valor mensal de € 19,99 euros (R$ 125) por 48 meses, com entrada de 2.644 euros (R$ 16.800).
Dada a sua natureza de automóvel compartilhável, a Citroën também oferecerá a opção de car sharing, com o serviço Free2Move, por cerca de € 15 euros (R$ 95) por hora, isso ao menos na França.
A pedido, várias pinturas adesivas estão disponíveis para serem aplicadas pelo próprio dono, enquanto duas mais complexas, que também garantem proteção adicional para os para-choques e as grades dianteira e traseira exigem mão-de-obra profissional.
Não foi elaborado um programa de manutenção, considerando a simplicidade do veículo. A garantia é de dois anos para o carro e três anos ou 40.000 km para a bateria.
AUTONOMIA E RECARGA: a tomada de casa pode bastar
Sabe qual é a velocidade média de deslocamento em uma cidade grande? Cerca de 20 km/h, embora obviamente possa variar muito de acordo com o horário. Bem, com seus 5,5 kWh de energia, o AMI pode rodar 75 quilômetros. Vamos supor, porém, que sejam só 70: são três horas e meia no carro.
Para a maioria dos “trabalhadores urbanos”, que não usam transporte público e fazem viagens curtas, pode servir para dois ou três dias de uso, ao final dos quais basta conectar a tomada alojada no batente da porta direita e em três horas o “tanque” está cheio. Sem necessidade de wall box ou conexões especiais: a absorção é de 2,2 kW (10 amperes) e, portanto, uma tomada normal de 3,3 kW é suficiente.
Para tomadas públicas, com Tipo 2 (Mennekes), é necessário um adaptador, que custa cerca de € 50. Se a recarga for feita na garagem, cada abastecimento deve custar cerca de € 1,20 (R$ 7,60), o que significa R$ 10,70 por 100 quilômetros.
Em pontos de carregamento públicos você gasta muito mais: devem ser usados só ocasionalmente. O Citroën AMI tem um painel que indica a velocidade, a quilometragem total e a autonomia restante.
Uma determinada quantidade de informação também pode ser obtida a partir do smartphone, com o download do aplicativo MyCitroën – que, conectado ao carro através de um dongle bluetooth na tomada OBD, permite saber a localização dos carregadores mais próximos, autonomia e quilometragem, além de interagir com a rede de atendimento do fabricante francês.
Citroën AMI
Preço básico (EUROPA) R$ 34.000
Carro avaliado R$ 34.000
Motor: dianteiro transversal, elétrico, corrente contínua
Combustível: a bateria
Potência: 8 cv
Torque: n/d
Câmbio: caixa redutora fixa
Direção: mecânica
Freios: disco (d) e tambor (t)
Tração: dianteira
Dimensões: 2,41 m (c), 1,39 m (l), 1,52 m (a)
Entre-eixos: n/d
Capacidade de carga: 5,5 kWh
Peso: 480 kg
0-100 km/h: n/d
Velocidade máxima: 45 km/h
Emissão de co2 zero g/km 100% elétrico
Consumo: n/d
Autonomia: 75 km