04/05/2025 - 7:00
Hoje, não há SUV 0 km mais barato que o Citroën Basalt, aquele parente do C3 e do Aircross, feito sobre a base modular CMP. Custa pouco mais de R$100 mil na versão de entrada Feel 1.0 com câmbio manual, mas a marca francesa o coloca em promoção por menos de R$93 mil até o início de maio. Pode procurar: não existe nenhum outro rival nessa faixa de preço, normalmente ocupada por hatches compactos.
Mas, vá-lá. Ele tem suas limitações, que permitem esse título de “barato” para o segmento. Uma delas é o motor 1.0 naturalmente aspirado de três cilindros, o Firefly, acoplado ao câmbio manual de cinco marchas, mesmo conjunto de Fiat Mobi, Cronos e Argo, além do irmão C3 Hatch e do Peugeot 208. É o único SUV “milzinho”, sem turbo nem nada, oferecido no mercado brasileiro.

Por essas e outras, foi meu escolhido para uma viagem entre várias cidades do estado de São Paulo (capital, Sorocaba, São José dos Campos, Jacareí, Campos do Jordão e outras), chegando até o sul de Minas Gerais (Sapucaí-Mirim, Gonçalves, Paraisópolis etc), num roteiro que beirou os 1.200 km. Isso tudo com três a bordo mais (bastante) bagagem no porta-malas.
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Motorização bem resolvida
A Stellantis, hoje dona da Citroën, trabalhou bem no escalonamento desse câmbio manual: manteve as quatro primeiras bastante curtas, o que se traduz em agilidade no trânsito urbano, e deixou a 5ª mais longa que nos Fiat, por exemplo. Com isso, há menor ruído e menores rotações do motor nas altas velocidades. Para se ter uma ideia, o conta-giros aponta pouco menos de 3.500 rpm a 100 km/h, situação em que o som do 1.0 Firefly incomoda pouco os passageiros. No geral, aliás, esse Basalt mostrou-se bastante quieto, inclusive no isolamento acústico da barulheira mundana.

Como queimou gasolina durante todo o percurso, ele não rendeu mais que 71 cv de potência e 10 mkgf de torque, mas com etanol é possível melhorar um pouquinho esses números (75 cv e 10,5 mkgf). Por conta do amplo torque em baixa, câmbio curto e concepção com duas válvulas por cilindro, o SUV 1.0 surpreendeu com a boa desenvoltura e agilidade nas arrancadas e retomadas de baixas e médias velocidades. Quando vazio, permite saídas da inércia em 2ª sem esforço algum. Nem do motorista: apesar do trambulador um tanto molenga (emprestado dos Fiat), a alavanca do Basalt fica em posição elevada, facilitando o manuseio.

Mesmo com três a bordo e porta-malas cheio, o SUV da Citroën mostrou bom rendimento geral. Porém, claro, exigiu “pé na tábua”, reduções frequentes e o clássico “liga/desliga” do ar-condicionado, que, mesmo com compressor elétrico, ainda rouba um pouco de carga do motor. Falando nele, gela que é uma beleza! Nem quem vai atrás, onde não há saídas de ar, fica longe de passar calor. Outro que merece elogios é o sistema de som, principalmente considerando preço e proposta do carro.
Em estradas planas, mantendo “motor cheio” a 110 ou 120 km/h, o Basalt trabalha acima da sua faixa de torque máximo. Ou seja, consegue ganhar velocidade com competência, ainda que sua configuração mecânica não privilegie tanto assim o uso rodoviário (o ideal seriam quatro válvulas por cilindro, e, por que não, até um comando variável, tecnologias indisponíveis nesse 1.0). Nos momentos de ultrapassagens rápidas ou retomadas de velocidade, inclusive em subidas, a 4ª marcha estava sempre lá para entrar em ação.
No resumo da ópera, há limitações, porém é um carro que atende uma viagem familiar sem tantos sufocos. Só não pode ter “dó” de esticar o Firefly até maiores giros, nem ter preguiça de apelar para reduções das marchas.

Consumo elogiável
Em percurso urbano com gasolina, rondou os 13,5 km/l, marca bastante fiel à realidade se comparada com o ponteiro de combustível. Economia de combustível é a palavra de ordem, sem dúvidas: na estrada, dificilmente ficou abaixo dos 17,0 km/l em trechos planos, média que rondou os 14,0 km/l após uma longa subida de serra (mantendo-se entre terceira e quarta marcha). Em alguns anos, o carro a combustão mais econômico que avaliei (tirando os híbridos, lógico).

Apesar do tanque não comportar mais que 45 litros, tamanho relativamente pequeno, não é preciso fazer mágicas para que esse combustível renda bastante. Um grande aliado nesse sentido é o econômetro no painel de instrumentos digital de 7” (uma folhinha de árvore que fica mais verde ou amarela, dependendo do estilo de condução do momento), além do valioso indicador de trocas de marchas.
Mais bônus de lá, menos ônus de cá, essa configuração 1.0 manual se equilibrou bem entre entrega de desempenho e baixo consumo de combustível. A balança pendeu mais para o segundo, ainda assim. Mas, não só de potência, torque e quilômetros por litro se vive um carro numa viagem.
Não só economia…

Com ampla altura livre do solo, bom curso das suspensões (herança de C3 Hatch) e nada de pneus baixos com rodas grandes, mostrou-se extremamente valente e guerreiro para enfrentar estradas de terra, (muita) buraqueira e outros percalços de uma viagem interiorana. Mesmo carregado, quando roda mais próximo do solo, não reclamou dos pisos ruins, nem chegou ao chamado “fim de curso” dos amortecedores. Parachoques e assoalho não enroscaram no solo, nem em momentos mais críticos.

E tudo isso com conforto, levando a sério o lema de “tapete voador” que a marca francesa adota. Molas e amortecedores também tem calibração macia, ideal para absorver impactos. Com isso, os ocupantes viajam tranquilos no Basalt, sem muito castigo dos pisos ruins. Se isso prejudica sua dinâmica em curvas ou desvios bruscos de trajetória? Pouco. Para um SUV, o Citroën mostrou segurança e comportamento neutro, mesmo quando próximo do seu limite. Freios e direção, igualmente confortáveis, também fazem um bom trabalho.
(tremendo) espaço interno
Mas, além da economia de combustível e conforto, seu maior mérito é o imenso espaço interno, digno de modelos médios e até grandes. Graças ao entre-eixos espichado (2,64 m), ele oferece folga de sobra para quatro adultos e uma criança, mais indicada para o meio do banco traseiro (mantém-se a largura de um compacto). Na frente, motorista e copiloto vão em posição alta, com boa visibilidade do entorno, e acomodados pelos bancos de tecido e espuma corretos. Quem dirige ainda tem o “luxo” de um apoio de braço central, coisa rara nos modelos de transmissão manual.

Especialmente no banco traseiro, o vão para pernas, pés e cabeça impressiona, permitindo que passageiros grandes viajem, por exemplo, de pernas cruzadas. O porta-malas segue num estilo parecido: tem 490 litros, mas parece ainda maior. Boa!
O que ele oferece?

E, apesar de custar menos que os rivais, não é daqueles que decepciona na lista de equipamentos. Nessa versão Feel 1.0 de entrada já existe o painel de instrumentos digital configurável de 7” (mesmo das versões mais caras), multimídia de 10” com conexões sem fio (também igual a das top de linha), rodas de liga-leve aro 16, conjunto elétrico completo (travas, retrovisores e vidros das quatro portas), volante multifuncional, luzes de leitura traseiras, portas USB para a segunda fileira de bancos, 4 airbags e por aí vai. Recheado.

Não há muito o que discutir quando falamos de um SUV vendido 0 km por R$92.990, ainda mais um de marca tradicional, com motorização conhecida, bons conteúdos de série e que oferece quase tudo que se espera num utilitário (conforto, espaço, porta-malas e, de quebra, economia de combustível). Se você não almeja as melhores acelerações ou retomadas, e ainda curte um câmbio manual, bom negócio!