Por Rafael Poci Déa

Como a Citroën tem deixado claro desde seu reposicionamento de mercado há alguns anos, os carros com o duplo chevron na grade passaram a apostar no custo-benefício. É o que torna atraentes modelos que podem até não ser perfeitos, mas “entregam”, como o C3 (eleito Compra do Ano 2024 na categoria hatch urbano) e o SUV compacto C4 Cactus. E não podia ser diferente com este novo C3 Aircross: além da boa habitabilidade e da motorização moderna, ele ainda tem, talvez como uma de suas armas mais importantes, opções de cinco e sete lugares – que o qualificam para disputar mercado com o Chevrolet Spin, até então única opção “barata” para mais de cinco passageiros.

Desenvolvido no Brasil e fabricado em Porto Real (RJ) usando diversos elementos do C3, com quem divide a linha de produção, o novo Aircross quer provar que sempre tem espaço para mais um (ou até seis…) no segmento de SUVs. Apesar do nome, ele não tem parentesco com o velho Aircross, aposentado em 2020. Feito do zero na plataforma CMP, ele vem nas versões Feel (R$ 112.990), Feel Pack (R$ 119.990) e Shine (R$ 129.990). É preço de Fiat Pulse e Renault Duster. Já o valor da opção de sete lugares avaliada não havia sido divulgado até o fechamento da edição, mas estimamos que fique na faixa de R$ 135.000.

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O design é proporcional, casando bem forma e função da carroceria. Ele compartilha com o hatch portas dianteiras, capô e faróis. Na ponta da fita métrica, tem sempre 4,320 m de comprimento e 2,675 de entre-eixos – a última medida é maior que nos rivais Pulse (2,532), Spin (2,620), Renegade (2,570) e Duster (2,673). Resultado: dentro da cabine, a amplitude agrada à quem deseja espaço extra (afinal, são 34 cm a mais no comprimento do que no hatch). A posição de dirigir elevada e a boa área envidraçada beneficiam a visibilidade (tanto dianteira quanto traseira). Para cortar custos, a cabine também traz do irmão menor painel, comandos, volante e o sistema multimídia de 10,25” (com Apple CarPlay e Android Auto sem fio). O quadro de instrumentos é digital, de 7”, mas simples, e deslizes aparecem na chave pobre demais e no ajuste de altura da coluna de direção, que a faz “desabar” quando é destravada. Mas são falhas que podem ser aceitas em nome da relação preço/espaço.

Afinal, quem tem família sabe como é importante ter porta-malas grande. Aqui, são 493 litros, ante 370 do Pulse, 320 do Renegade e 475 do Duster – mas o Aircross perde para o monovolume Spin, que leva incríveis 710 litros (está prestes a ser renovado). Nas versões com sete lugares, que chegam apenas em março, ainda há um sistema de ventilação no teto para os passageiros da segunda e da terceira fileiras – na última, como de costume, só crianças e adultos de baixa estatura se acomodam, mas há porta-copos e entradas USB. Diferentemente do que ocorre no Spin, quando os bancos extras não estão em uso podem ser facilmente retirados (cada um pesa oito quilos). O estepe é fixado do lado de fora nas versões de sete assentos, e no porta-malas, nas de apenas cinco.

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Para disputar mercado com Spin e os SUVs compactos de sucesso, é preciso ter um preço atraente. Não dá para ser espaçoso e ter bom motor, entre outras qualidades, e ainda ter bom acabamento (Volks e Fiat, entre outras, que o digam). É tudo bem básico e o cluster digital e a central multimídia são meio limitados (mas funcionais e com conectividade sem fio)

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Na traseira, destacam-se as lanternas similares às do hatch, combinadas ao elemento que as conecta, e o para-choque que dá aparência de SUV. Note a distância do solo acima da média, boa tanto para aventuras leves no fim de semana quanto em valetas. Ao lado, os bancos extras (acima, um “armado” e um retirado)

Motor consolidado

Todas as versões utilizam o motor com três cilindros 1.0 turbinado, que vem sempre conectado ao câmbio automático continuamente variável (CVT) com sete marchas. A potência máxima é de 130 cv, com 200 Nm de torque, se abastecido com etanol. Isso resulta em uma relação peso-potência de 9,78 kg/cv, garantindo uma condução surpreendentemente animada já a partir dos baixos giros. Ele é um SUV que responde com prontidão e, apesar do discreto turbo lag (tempo até o turbocompressor “pegar”), ganha e retoma velocidade rapidamente. E a transmissão permite rodar a 100 km/h com a agulha do conta-giros em torno de 2.000 rpm. Mas o isolamento acústico deveria ser melhor: o C3 Aircross deixa o ruído de vento – e o do motor, acima de 4.000 rpm – invadir a cabine.

Confortáveis, as suspensões adotam a arquitetura tipo MacPherson na dianteira e um eixo de torção atrás, e os pneus com perfil 60 contribuem para a absorção das irregularidades do asfalto. Entretanto, “não existe almoço grátis”, e esse rodar mais suave deixa a carroceria rolar demais nas curvas, mesmo nas contornadas em velocidades moderadas. Já a direção é leve ao esterço em baixa velocidade, mas poderia ser ligeiramente mais pesada acima de 80 km/h. O raio de giro, de bons 10,8 metros, auxilia na hora de manobrar em vagas ou locais mais apertados. As frenagens eficientes são asseguradas pelos freios a disco na dianteira com 284 x 22 mm de diâmetro, enquanto os tambores traseiros têm 228 mm, com um acionamento bastante progressivo do pedal. Na cidade, o ângulo de entrada de 23,3º evita as raspadas indesejadas ao transpor lombadas e valetas mais pronunciadas, e a distância em relação ao solo – de ótimos 20 cm – é superior à do rival Jeep Renegade (18,6 cm), que até oferece versão 4×4, por exemplo.

No fim, o Citroën C3 Aircross atrai pelo tamanho e, principalmente, pela cabine que pode levar até sete pessoas. Embora alguns dos cortes de custos possam desagradar aos interessados, eles fazem parte de um projeto “inteligente”: são justamente eles que possibilitam que os preços sejam tão competitivos. Assim como o Renault Logan e muitos outros modelos que já fizeram muito sucesso Brasil – como o próprio Chevrolet Spin –, é tudo uma questão de custo-benefício.

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Citroën C3 Aircross 7 Shine Turbo 200

Preço básico R$ 109.990
Carro avalidado (estimado) R$ 135.000

Motor: dianteiro, três cilindros em linha 1.0, 12V, turbo, injeção direta, comando de válvulas no cabeçote, sistema MultiAir III Combustível: flex
Potência: 125 cv (g) e 130 cv a 5.750 rpm (e)
Torque: 200 Nm a 1.750 rpm (g/e)
Câmbio: automático continuamente variável (CVT), sete marchas simuladas
Direção: elétrica
Suspensões: MacPherson (d) e eixo de torção (t)
Freios: discos ventilados (d) e tambores (t)
Tração: dianteira
Dimensões: 4,320 m (c), 1,720 m (l), 1,678 m (a)
Entre-eixos: 2,675 m
Pneus: 215/60 R17
Porta-malas: 493 litros
Peso: 1.272 kg
Tanque: 47 litros
0-100 km/h: 10s1 (g) e 9s8 (e)
Velocidade máxima: 191 km/h (g/e)
Consumo na cidade: 10,6 km/l (g) e 7,4 km/l (e)
Consumo na estrada: 12,0 km/l (g) e 8,6 km/l (e)
Nota do Inmetro: C
Classificação na categoria: C (Utilitário Esportivo Compacto)