07/05/2022 - 9:00
A imagem acima mostra a alma do novo Kia EV6, modelo que já foi confirmado para o Brasil, onde deve ser lançado ainda este semestre, e esteve na pista de nossa parceira italiana Quattroruote para um primeiro teste.
Para reforçar o fato de que um carro elétrico pode ser divertido, mesmo sem pistões e ronco do motor, os engenheiros da marca coreana decidiram apostar na dinâmica.
O EV6, em certas condições – modo Sport acionado e ESP desligado – mostra um sobresterço divertidíssimo, colocando um sorriso no rosto daqueles que ainda resistem ao avanço dos carros a bateria.
Este detalhe talvez interesse apenas aos poucos obstinados pela direção estilo old school, e não é um fator decisivo no projeto ou desenvolvimento de nenhum carro, seja ele elétrico ou não.
Porém, se o prazer ao volante e a sustentabilidade podem coexistir, esta é uma vantagem adicional muito bem-vinda, que se soma à longa lista de qualidades positivas deste novíssimo Kia que acaba de ser eleito Carro do Ano na Europa.
Além disso, o espírito esportivo era necessário para distingui-lo do irmão de plataforma Hyundai Ioniq 5, que já testamos (leia em motorshow.com.br) e é muito mais focado em conforto e habitabilidade da cabine.
A plataforma modular elétrica E-GMP do grupo é muito avançada, com soluções interessantes: 800V para maior eficiência e velocidade de carregamento, tecnologia V2L para transferir energia do carro a outros dispositivos e entre-eixos grande para ter muito espaço na cabine.
Além da versão com motor elétrico traseiro (229 cv, preço estimado em R$ 400 mil, é a que vem ao Brasil), há uma com um motor extra na frente, somando 325 cv: é a GT-Line avaliada (estimamos em R$ 500 mil, se chegar aqui depois). E uma versão mais potente, chamada só GT, com 585 cv, deve chegar depois.
Os bancos que vêm com estofamento em “couro vegano”, tratado com óleos vegetais para reduzir o impacto ambiental; outros materiais vêm de garrafas PET recicladas. Há entradas USB inseridas na fina concha dos bancos dianteiros
Jogos de luz
Assim que abrimos a garagem da pista de Vairano, Itália, o impacto é semelhante ao experimentado na presença do Hyundai Ioniq 5. O Kia EV6, ao vivo, parece maior do que nas fotos e vídeos.
O design, porém, é totalmente diferente, tipo “retro-tech”: formas musculosas, ombros largos, uso habilidoso de LEDs para dar personalidade ao carro – principalmente na traseira, onde se destaca o arco dos grupos óticos, com os indicadores de direção dinâmicos apoiados no para-choque e camuflados na carroceria até entrarem em ação.
Por dentro, muito espaço, como no modelo da Hyundai, mas com uma sensação diferente. Ao volante do Kia EV6, você se sente parte do cockpit, mais envolto no papel de motorista. Não por causa de dimensões internas menores: a diferença é feita pelo design e por recursos estilísticos como o display digital duplo com duas telas de 12,3” levemente curvadas.
Mas, se a Hyundai fez um túnel central deslizante para o assoalho frontal ficar plano, no Kia EV6 há um elemento suspenso fixo igualmente funcional: a parte superior abriga um compartimento de carregamento para smartphone (ventilado, para não sobreaquecê-lo), dois porta-copos, o seletor do câmbio e comandos do ar-condicionado, dos bancos e do aquecimento do volante, tudo voltado para o motorista e de fácil acesso; na parte inferior dele, há um enorme porta-objetos.
O que muda é o banco traseiro, que não é tão deslizante quanto no Hyundai, mas tem encostos reclináveis para trás para aumentar o conforto, que é garantido também pelo ótimo espaço para as pernas (39 cm). Já a capacidade do porta-malas é de razoáveis 392 litros, 100 a menos do que no Hyundai – mas o bagageiro dianteiro acomoda outros 211 litros.
O ambiente da cabine do Kia EV6 é bastante refinado na escolha de materiais e acabamentos, embora na unidade avaliada, um protótipo pré-série, alguns deles ainda fossem provisórios. Os elementos essenciais, no entanto, são agradáveis ao toque e refinados no design – com diversos componentes derivados de elementos reciclados e revestimentos ecossustentáveis.
Antes de partir, dou uma olhada no painel e nos controles do Kia EV6, com layout que segue o padrão do Ioniq 5. As informações da tela dupla são organizadas de forma clara e facilmente legível: o painel de instrumentos muda de aparência conforme o modo de condução escolhido – Eco, Normal e Sport, selecionados por um botão no volante – e a interface do sistema multimídia e de informações tem navegação fácil.
Entre as funções, pode-se escolher a intensidade do som produzido pelos alto-falantes, e também o gênero: futurista, esportivo ou elétrico puro. A diferença é clara. Não é a mesma coisa que um V12 a combustão, mas é envolvente. Até porque o ruído mais original e intenso deles – o esportivo, na minha opinião – cresce junto com o impulso dos motores elétricos: são só 5,1 segundos no 0-100 km/h.
Traseira animada
Ao longo da reta, aprecio o bom isolamento acústico do habitáculo, e o Kia EV6 parece ter amortecedores mais firmes, até porque a calibragem do Hyundai é tão dedicada ao conforto que certamente não é a referência em agilidade na categoria.
A bordo deste Kia, embora o peso seja tão perceptível, isso não aparece nas curvas: mesmo forçando a mão, a dianteira aponta bem para o ápice da curva e o EV6 a contorna deliciosamente, favorecido por um eixo traseiro que acompanha perfeitamente a manobra.
A partir daí, se você souber pilotar e ajustar a eletrônica corretamente, tal comportamento é amplificado para se tornar, se desejado, um verdadeiro drifting; mas apenas no modo Sport, quando a eletrônica faz funcionar quase exclusivamente o motor traseiro; nas demais opções, percebe-se o trabalho do motor elétrico dianteiro, que ajuda o carro a se realinhar e sair da curva até mais rapidamente.
No geral, o EV6 é mais ágil que o irmão de plataforma, também pela distância entre-eixos reduzida de 3 para 2,9 metros. Apesar disso, a direção, embora seja calibrada para a dinâmica, não é tão rápida nem oferece um feedback tão preciso. E isso atrapalha a experiência.
Os faróis full LED adaptativos são de série na versão GT-Line avaliada, assim como os conjuntos de luzes traseiras com diodos que desenham um arco que atravessa o carro de lado a lado – com os indicadores de direção dinâmicos “camuflados” nas extremidades do para-choque (no detalhe acima). À esquerda dele, as rodas de 20” e o novo logo da Kia, e, abaixo, as maçanetas externas retráteis e a textura agradável na parte superior do painel
Já em relação à eficiência, com uma bateria de 77,4 kWh, a marca declara uma autonomia de 484 quilômetros (no ciclo WLTP); em nossos testes práticos, porém, o alcance real do Kia EV6 ficou em só 354 quilômetros em ciclo misto, chegando no máximo a 446 na cidade. Mas, além disso, o fator recarga sempre entra em jogo, obviamente.
Nesse ponto, o Kia EV6 se destaca: pode usar carregadores de 240 kW, que o fazem ganhar cerca de 100 quilômetros de autonomia em apenas cinco minutos – enquanto ir de 20% a 80% da bateria leva menos de 20 minutos. A questão mais complicada é encontrar um desses carregadores.
KIA EV6 GT-LINE AWD
Motores: elétricos síncronos, ímãs permanentes, um dianteiro e um traseiro
Combustível: a bateria
Potência: 100 cv (dianteiro) + 225 cv (traseiro) = 325 cv
Torque: 605 Nm
Câmbio: caixa redutora com relação fixa
Direção: elétrica
Suspensões: MacPherson (d) e multilink cinco braços (t)
Freios: disco ventilado (d/t)
Tração: integral
Dimensões: 4,70 m (c), 1,89 m (l), 1,55 m (a)
Entre-eixos: 2,90 m
Pneus: 255/45 R20
Porta-malas: traseiro de 392 litros (511 até o teto, 1.300 com bancos rebatidos) / dianteiro de 211 litros
Bateria: íons de lítio,77,4 kWh
Peso: 2.090 kg
0-100 km/h: 5s1 (teste)
Velocidade máxima: 200 km/h (limitada)
Consumo cidade: 5,6 km/kWh (teste QRT)
Consumo estrada a 90 km/h: 4,8 km/kWh (teste)
Consumo rodovia a 130 km/h: 3,4 km/kWh (teste)
Consumo médio: 4,5 km/kWh (teste) / 5,6 km/kWh (WLTP)
Emissão de CO2: zerog/km
Consumo nota: B
Autonomia: 354 km (teste) / 484 km (WLTP)
Recarga: 33h07 (tomada comum), 7h38 (wallbox 22 kW), 1h02 (DC 50 kW, de 20 a 80%),
28 min (de 20 a 80%, DC 240 kW)
Nota do Inmetro: B*
Classificação na categoria: B (Grande)*
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