10/09/2021 - 9:22
Chegou a hora do carro elétrico no Brasil? Para sermos sinceros, infelizmente não. Ou só para quem tem dinheiro sobrando. Já temos mais de 20 modelos à venda, é verdade, mas, somados, não chegam a 800 emplacamentos neste ano (confira aqui os mais vendidos do ano passado). Muito pouco. E não porque falta-lhes autonomia para viagens ou qualidade, mas sim a infraestrutura para a recarga e, principalmente, um bom preço (normalmente obtido com incentivos do governo). Este novo Fiat – e outros que estão chegando – deixam isso claro. O JAC E-JS1 até que é mais barato, por ser mais simples, mas este Fiat 500e e o Mini Cooper S E partem de R$ 240 mil. Por isso mesmo, a Fiat espera vender pouco mais de 100 carros este ano – apenas para “marcar território” mesmo.
Uma pena, porque o Fiat 500e é um carro elétrico urbano extremamente desejável. Amor à primeira vista. Afinal, pela segunda vez, a Fiat redesenha o clássico 500 de 1957 sem cometer um erro sequer. O hatch compacto ficou moderno e atraente, embora ainda seja o “velho 500”, na essência, por fora e por dentro (na Itália, esta terceira geração, que se segue ao modelo original e à sua releitura retrô de 2007, é chamado de Nuova 500).
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Detalhes como as novas lanternas e faróis de LED, as wing arrows (indicadores de direção integrados à carroceria) e as maçanetas embutidas se combinam a uma boa dose de cromados que remetem ao 500 original, formando um design conhecido, e, ainda assim, moderno. Soma-se a isso uma dose massiva de sistemas de assistência ao motorista e tecnologia digital, uma boa bateria e uma série de serviços que colocam o neófito da marca na mobilidade elétrica neste novo mundo. No Brasil, ao menos por enquanto, o Fiat 500e tem uma versão única: a Icon, topo de linha na Europa, a mesma das fotos desta reportagem, que nosso colegas da Quattroruote já avaliaram na Itália.
Ao volante do Fiat 500e
Usamos o teste dos nossos colegas porque a Fiat não disponibilizou o carro para test drive no Brasil até o momento. Mas, com exceção das rodas aro 17 e da cor azul mais clássica, não disponíveis aqui, e do teto solar, que vem de série no “nosso” Fiat 500e, os carros são iguais (o modelo daqui é, inclusive, fabricado na Itália). A versão Icon tem acabamento bastante sofisticado, digno de um carro premium, e uma lista de equipamentos muito generosa, que inclui itens como o já citado teto panorâmico, além de chave presencial, leitor de placas de trânsito, farol alto automático, ACC, retrovisores com desembaçador e freio de estacionamento elétrico.
Ao encostar na maçaneta (também eletrificada), a porta se abre. Uma olhada no painel é suficiente para ver que se está em um 500. Mas, ainda assim, tudo foi remodelado e levado a uma nova dimensão. As medidas internas são praticamente iguais às da versão a combustão, mas a sensação é de maior amplitude. Não é necessário um túnel para a alavanca de câmbio, então a parte inferior fica desobstruída, arejando um pouco o ambiente – e com a vantagem de oferecer mais espaço para objetos, graças a um compartimento estreito, porém amplo, entre os bancos dianteiros.
A posição de dirigir, à sua maneira, também contribui para aumentar o prazer ao volante: o assento está um pouco mais baixo, os ajustes são mais amplos que na versão a combustão e a coluna de direção agora também pode ser ajustada em profundidade, para que você possa se afastar do painel com o corpo para “respirar” melhor.
Abrimos a porta novamente, agora por dentro. Não para sair, mas para testar o botão de abertura elétrico: ele fica ao alcance da mão, bem prático. Um comando semelhante, à direita do volante, é usado para ouvir as primeiras notas da trilha sonora de Amarcord, um prelúdio para ligar o novo 500 e que nos acompanha durante os primeiros metros em baixa velocidade, para ser ouvido no exterior, de forma totalmente original, pelos pedestres.
Para se mover, aliás, basta conhecer o alfabeto das transmissões automáticas e apertar um dos botões – D, N, R ou P – na base do console central: fácil, fácil. Sob os olhos, um aparato digital rico, incomum para um carro urbano com pouco mais de 3,5 metros de comprimento: um quadro de instrumentos de 7” com informações de bordo, escolhidas com cliques nos botões do volante, e uma bela tela central de 10,3” para o sistema UConnect 5: em poucos segundos, emparelho meu iPhone, coloco-o na superfície de carregamento por indução e conecto o CarPlay (ou Android) sem fio. Há um roteador wi-fi integrado e a interface é organizada, fácil de entender e personalizável. O sistema, para falar a verdade, não atende bem aos comandos dos dedos, mas o bom assistente de voz resolve o problema.
Ágil ou sherpa
Usando o seletor de modos de condução, instalado no túnel central, escolhemos o Normal: o Fiat 500e tem uma arrancada encorpada, como já nos acostumamos a esperar de um carro elétrico, sem surpresas. A aceleração de 0-100 km/h levou 8,7 segundos no teste da Quattroruote, contra 9 segundos nos dados oficiais; com só 118 cv, não é um número nada ruim. E o melhor é que a direção não sofre muito de torque steer (“puxada”) quando você descarrega todo a força (22,4 kgfm) no meio de uma curva, um ponto crítico de muitos carros elétricos que usam tração dianteira – como o Mini Cooper S E que você verá na reportagem a seguir. Na verdade, o que mais surpreende ao volante do 500e é o conforto. Não tanto pelo silêncio dentro da cabine (embora haja algum ruído de fundo, principalmente em velocidades maiores), mas pela capacidade de absorção da suspensão, muito eficaz em buracos e imperfeições do piso: a sensação é de um carro sólido.
Passamos ao modo Range, em que a regeneração aumenta bem e permite dirigir o Fiat 500e usando só o acelerador, graças à poderosa recuperação de energia. Ah, e quando os freios são necessários, as distâncias de parada são dignas de um superesportivo: 36,1 m a 100 km/h. Ainda há o modo Sherpa, que, como os famosos guias nepaleses, é para ser usado quando você está com pouca bateria e precisa chegar em casa a qualquer custo: o ar-condicionado é desligado e a velocidade fica limitada a 80 km/h – mas, em caso de emergência, se você pisar fundo, tudo volta ao normal.
Agora, o detalhe com o qual todos se preocupam quando se trata de carros elétricos: a autonomia. São 320 quilômetros oficiais, mas 240 “reais” – número maior do que garantem outros elétricos com baterias de capacidade semelhante (o Mini Cooper S E e o Honda e, por exemplo, garantem cerca de 200 quilômetros com cada recarga). Se você rodar só na cidade, território ideal para carros elétricos, a Fiat fala em 460 quilômetros em condições ideais – mas, na média, você vai rodar 300. Considerando os cinco dias úteis da semana, são 60 quilômetros por dia sem precisar recarregar. E a recarga custará a partir de R$ 30, quase um décimo do que abastecer com gasolina.
Nas viagens, por outro lado, é preciso mais atenção. E aí, mais do que a autonomia, é a usabilidade que entra em jogo. Um aplicativo para celular ajuda a planejar rotas considerando a autonomia ou fazendo paradas estratégicas. Se você tiver sorte de achar um carregador ultrarrápido pelo caminho, ganha 50 quilômetros “de estrada” em cinco minutos – ou o “tanque” cheio em 35 minutos. É o tempo de um lanchinho rápido.
Raio-X do Fiat 500e: simplicidade e integração
No primeiro elétrico “made in Turin” a simplicidade construtiva intrínseca dos carros a bateria. O coração do Fiat 500e é obviamente a bateria de íons de lítio, com 192 células prismáticas que têm um conteúdo de energia nominal de 42 kWh (cerca de 37 usados). O conjunto é instalado em uma caixa resistente parafusada sob o assoalho do carro e pesa um total de 293 kg (densidade de energia efetiva de 0,13 kWh/kg). O motor síncrono trifásico com ímãs permanentes, produzido pela GKN, é parte da eletrônica de potência. Ele é conectado não pelos habituais cabos externos cor de laranja, mas por barras metálicas no interior do contentor, de forma a garantir maior segurança. O conjunto é então montado em uma estrutura que, por sua vez, é fixada à carroceria.
Como em todos os carros elétricos, no Fiat 500e não há embreagem e caixa de câmbio: a transmissão é limitada a um caixa redutora, que reduz a velocidade de rotação do motor para a das rodas e do diferencial. O carregador de bateria de bordo gerencia potências de até 11 kW em corrente alternada trifásica (com intensidade de 16 amperes) ou monofásica a 48A, conforme rede de distribuição; nos carregadores rápidos de corrente contínua, a potência de carregamento pode chegar a 85 kW. Graças a uma válvula motorizada, quando a temperatura externa é baixa, o ar-condicionado resfria a bateria com o ar de fora, sem acionar o compressor, reduzindo o consumo de energia.
FIAT 500e
Preço básico R$ 239.990
Carro avaliado R$ 239.990
Motor: dianteiro elétrico, síncrono, ímãs permanentes
Combustível: a bateria
Potência: 118 cv a 4.200 rpm
Torque: 22,4 kgfm de 0 a 3.733 rpm
Câmbio: caixa redutora com relação fixa
Direção: elétrica
Suspensões: MacPherson (d) e eixo de torção (t)
Freios: disco ventilado (d) e tambor (t) Tração: dianteira
Dimensões: 3,631 m (c), 1,683 m (l), 1,527 m (a)
Entre-eixos: 2,322 m
Pneus: 195/55 R16 (testado 205/45 R17)
Porta-malas: 185 a 550 litros
Bateria: íons de lítio, 42 kWh
Peso: 1.352 kg (testado: 1.440 kg)
0-100 km/h: 8s6 (QRT) / 9s (oficial)
Velocidade máxima: 150 km/h
Consumo cidade: 7,3 km/kWh (QRT)
Consumo estrada: 5,4 km/kWh (QRT)
Emissão de CO2: zero g/km
Consumo nota A
Autonomia: 320 km (oficial)
Tempo de recarga: 6h (7,4 kW) / 4h (22 kW) / 18h31min (tomada normal, teste QRT) / 80% em 35 min ou 50 km de autonomia em 5 minutos (carregadores ultrarrápidos)
Nota do Inmetro: A (estimada)
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