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Tenho um primeiro gostinho ao volante ao longo da Interstate 80, uma das maiores estradas dos Estados Unidos, junto com a I-15 – ambas se cruzam em Salt Lake City. A cidade leva o nome do vizinho Great Salt Lake (Grande Lago Salgado), e fica perto também do Lago Bonneville, onde corridas de velocidade ocorrem desde os anos 1930, quando Malcolm Campbell estabeleceu o primeiro recorde e tornou famosa a planície da Bonneville Speedway. Todo ano a California Timing Association organiza em agosto a Semana da Velocidade: em 1970, o Blue Flame ultrapassou os 1.000 km/h. Não há lugar mais adequado para a “primeira vez” com o Ford GT.

O contexto é adequado, mesmo que nas estradas americanas sejamos obrigados a respeitar rigorosamente os limites de velocidade. Não dá para brincar, pois qualquer distração pode custar caro. E esse carro atrai simplesmente todos os olhares, com suas portas que abrem para cima, seu design de “carro de pôster” – ainda mais destacado nessa cor amarela – e, para coroar, o aerofólio ativo que se eleva a 145 km/h, alertando para a polícia que passou do limite.

O curto caminho até o circuito é suficiente para conhecer o carro, ajustar a posição de guiar, me familiarizar com painel digital… Tudo fácil, porém novo para mim – como a pista do Utah Motorsports Campus, essa sim difícil de ser decifrada, rápida e técnica (e por isso mesmo escolhida pela Ford para o batismo do supercarro). Na pista, a coisa muda de figura: o seletor de modo de condução no volante do GT altera a eletrônica, a mecânica e a aerodinâmica. Apertem os cintos de quatro pontos, estamos prontos para partir.

AERODINÂMICA ATIVA

Seleciono o modo Track para melhorar o comportamento de pista: o carro abaixa 5 cm e mudam respostas das suspensões, com amortecedores derivados dos modelos de corrida. Além disso, a asa traseira entra em modo ativo e as tomadas de ar dianteiras se fecham. Tudo em menos de dois segundos. Cada curva da carroceria, cada tomada de ar, defletor ou apêndice tem uma função específica. A aerodinâmica é tão importante quanto no original e revolucionário GT40 – que com suas 40” de altura (1 metro) triunfou nas míticas 24 horas de Le Mans ininterruptamente de 1966 a 1969.

Esse é o primeiro Ford quipado com um aerofólio ativo. Ele se eleva automaticamente quando se atinge 145 km/h, volta à posição mais baixa a 130 km/h, e ainda muda de perfil como os flaps de um avião, criando leve turbulência para aumentar a eficiência em 40%. Também tem a função aerofreio, quando a “asa” sobe e muda de inclinação para ajudar o carro a parar. Ajuda em frenagens no limite, garantidas por freios Brembo e auxiliadas também por rodas aro 20 com pneus Michelin Pilot.

CONFIANÇA IMEDIATA

Embora seja filho do novo milênio e sua fixação tecnológica e tenha tanta eletrônica quanto um Boeing 787 Dreamliner, o grã-turismo abandona (quase totalmente) botões e interruptores. Eles podem distrair na hora de uma direção mais esportiva. A única exceção é o volante, quase tão complicado quanto o de um Fórmula 1.

O pára-brisa é de Gorilla Glass, mesmo material usado na tela de um iPhone. E, assim como nos smartphones, o GT conta com um aplicativo específico para seus dados de telemetria. O peso é contido (1.400 kg), graças ao amplo uso de fibra de carbono, e a cabine com dois lugares e muito pouco espaço lembra a de um jato.

A carroceria é esculpida em torno do motor central: o mesmo compacto e poderoso V6 3.5 de alumínio que equipa picapes Série F e domina campeonatos desenvolve aqui mais de 650 cv com dois turbocompressores e mais de 70 kgfm a 5.900 rpm. É o EcoBoost mais poderoso, fazendo o GT chegar a 348 km/h com uma aceleração assustadora.

NOVO DESAFIO

Se o GT de pista nasceu para vencer a Ferrari 488 e o Porsche 911 RSR, a versão de rua quer ser o esportivo mais avançado e de melhor desempenho do mundo. Como em um McLaren ou em uma Ferrari, a sensação geral é de se sentar ao volante de um carro de corrida, mas que ao mesmo se mostra simples e honesto no maior esforço de seu projeto: passar confiança ao motorista. A prova é que, volta após volta, seu tempo só melhora. É impressionante como a perfeita distribuição de peso e a aerodinâmica ativa permitem abusar da potência nas saídas de curva. Nada mal para um fora-de-série nascido para as pistas, mas que adora as ruas.


Ficha técnica:

Ford GT

Preço básico: R$ 2.000.000*
Carro avaliado: R$ 2.000.000*
Motor: 6 cilindros em V 3.5, 24V, comando variável, injeção direta, biturbo
Cilindrada: 3497 cm3
Combustível: gasolina
Potência: 656 cv a 6.250 rpm
Torque: 75,9 kgfm a 5.900 rpm
Câmbio: automatizado, dupla embreagem, sete marchas
Direção: hidráulica
Suspensões: braços curtos e longos (d/t), altura e rigidez ajustáveis
Freios: disco de carbocerâmica (d/t)
Tração: traseira
Dimensões: 4,76 m (c), 2,000 m (l), 1,11 m (a)
Entre-eixos: 2,71 m
Pneus: 245/35 R20 (d) e 325/30 R20 (t)
Porta-malas: 11 litros
Tanque: 58 litros
Peso: 1.385 kg
0-100 km/h: não divulgada
Velocidade máxima: 348 km/h
Emissão de CO2: 516* g/km
Nota do Inmetro: Não participa

*Europa