Por Rafael Poci Déa

A segunda geração do Ford Territory representa uma mudança da água para o vinho. Esqueça aquele fraco modelo anterior, lançado em 2020, que não agradou nossa equipe. Sim, o SUV continua sendo importado da China, mas evoluiu muito. Para começar, o design externo, que antes mal se identificava com a linguagem visual da marca, agora se inspira nos “primos” Kuga e Escape, vendidos em outros mercados. Está “adaptado” à família, com destaque para as linhas mais horizontais, e mais refinado das rodas à capota, passando pelos acabamentos internos – e, mais importante, pela antes péssima experiência de condução. À venda apenas na versão Titanium de R$ 209.990, ele quer atrapalhar a vida de modelos como os Jeep Compass Série S T270 (a partir de R$ 240.990) e Commander T270 (R$ 178.290 a R$ 240.990), além do Toyota Corolla Cross (nessa faixa, já com motorização híbrida) e do Volkswagen Taos (R$ 186.280 a R$ 212.480).

As medidas do SUV cresceram: agora ele tem 4,630 m de comprimento, 1,936 de largura, 1,706 de altura e 2,726 de entre-eixos (eram 4,580, 1,936, 1,674 e 2,716 metros, respectivamente). Como consequência, o antigo porta-malas “de hatch”, que foi alvo de merecidas críticas na época, passou dos parcos 348 para bons 448 litros (1.422 ao rebater os encostos dos bancos traseiros) e tem a  motorizada. O espaço dentro da cabine também melhorou, especialmente para quem viaja no banco traseiro, que agora têm bom espaço para as pernas e para os joelhos, além de um assoalho plano (bom para o quinto ocupante) e saídas de ar dedicadas. Fica evidente a atenção aos detalhes, com destaque para o quadro de instrumentos digital que forma um belo conjunto com a central multímidia (com Apple CarPlay e Android Auto sem fio). Ambos têm telas de 12,3”, e ainda há entradas USB dos tipos A e C, carregador por indução, teto panorâmico e bancos revestidos de couro em duas cores com costuras azuladas (os frontais são ventilados e ajustáveis eletricamente – em dez direções para o motorista e em quatro para o carona).

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Mais eficiente

Se as dimensões e a qualidade da cabine não ficam devendo nada aos rivais da Jeep e da Toyota, por exemplo, a equipe local de engenharia leva o mérito pela dirigibilidade agora bem acertada, mais ao gosto do consumidor brasileiro. O SUV continua usando o motor de quatro cilindros 1.5 turbo com injeção direta da família Ecoboost, mas agora no mais “tradicional” ciclo Otto em vez do ciclo Miller (que é voltado para a eficiência energética). Outros aprimoramentos aparecem nos comandos de válvulas, na injeção direta, no coletor da admissão (de plástico, substituindo o de alumínio) e no inédito turbocompressor de baixa inércia, que reduz o tempo de resposta.

Para completar, agora o motor – que ainda ficou 4,5 quilos mais leve – é acoplado não mais àquele indecente câmbio automático continuamente variável (CVT) com marchas simuladas da geração anterior, mas a uma transmissão automatizada com dupla embreagem banhada a óleo de sete marchas (o antigo problemático Powershift tinha um projeto diferente, com a caixa seca). Na frieza dos números, o Territory passou de 150 cv e 224,5 Nm de torque para 169 cv e 250 Nm. O resultado prático da adoção deste novo powertrain? Esqueça o comportamento “pacato” daquele Territory de primeira geração: o utilitário esportivo passou a responder com prontidão, transmitindo respostas muito mais rápidas ao comando do pé direito. As sete marchas são trocadas de modo praticamente imperceptível e bem ágil, garantindo uma performance de fato muito superior, se comparada àquela do antigo modelo.

O design do novo painel é bonito, mas não muito original. Há um seletor de marcha giratório, solução que tem sido abandonada por algumas marcas pelo elevado risco de acidente. O console central elevado e largo dá sensação de luxo, e há um bom vão debaixo dele para guardar objetos. O espaço no banco traseiro, que já era um dos destaques do SUV, por causa do seu tamanho acima da média, e agora melhorou. Há saídas de ar traseiras e, para quem viaja no assento do meio, o assoalho plano ajuda

Estão disponíveis os modos de condução Eco, Normal, Serra/Colina e Esportivo, que alteram diversos parâmetros do veículo, como as respostas do motor e do câmbio. Só é uma pena que ele continue sem oferecer a possibilidade de o motorista trocar sequencialmente as marchas, seja pela alavanca, seja por borboletas junto ao volante. Já as suspensões merecem muitos elogios pela maneira com que filtram/absorvem as irregularidades do piso, ao mesmo tempo em que ajudam bem no controle da carroceria em curvas contornadas rapidamente. A arquitetura frontal é do tipo tradicional, MacPherson, com amortecedores dotados de batentes hidráulicos, e na traseira há um sofisticado sistema multilink, resultando em um acerto geral que lembra bastante o de seu principal alvo no mercado nacional, o Jeep Compass. A tração é apenas dianteira, como na maioria dos SUVs urbanos de hoje em dia, e as rodas com aro 19” vestem pneus da Goodyear (EfficientGrip SUV) com medidas 235/50.

Além de andar bem e cuidar dos ocupantes com um ótimo isolamento acústico da cabine, o Territory ainda tem uma lista de “anjos da guarda” que ajudam a garantir a segurança. Há controlador de velocidade adaptativo com função para e anda (stop&go), monitores de pontos cegos, alerta de tráfego cruzado traseiro, assitente de permanência na faixa, câmeras 360º, frenagem autônoma de emergência, seis airbags (frontais, laterais e de cortina) e sensores estacionamento na dianteira e na traseira, entre outros itens.

Muito criticado pela imprensa especializada e pouco procurado pelos consumidores brasileiros, parece que enfim chegou a hora do Ford Territory tentar virar o jogo. Se antes não recomendávamos sua compra, agora sugerimos que seja ao menos considerada por quem busca um SUV médio com espaço interno acima da média ou não quer cocomprar um dos best-sellers do mercado.

Divulgação

Ford Territory Titanium

Preço básico R$ 209.990
Carro avaliado R$ 209.990

Motor: quatro cilindros em linha 1.5, 16V, turbo, injeção direta, duplo comando de válvulas com variação na admissão e no escape
Combustível: gasolina
Potência: 169 cv a 5.500 rpm
Torque: 250 Nm entre 1.500 e 3.500 rpm
Câmbio: automático sequencial, sete marchas, dupla embreagem banhada a óleo
Direção: elétrica
Suspensões: MacPherson (d) e multilink (t)
Freios: discos ventilados (d) e discos sólidos (t)
Tração: dianteira
Dimensões: 4,630 m (c), 1,935 m (l), 1,706 m (a)
Entre-eixos: 2,726 m
Pneus: 235/50 R19
Porta-malas: 448 a 1.422 litros
Peso: 1.705 kg
Tanque: 60 litros
0-100 km/h: 10s3
Velocidade máxima: 180 km/h (limitada eletronicamente)
Consumo na cidade: 9,5 km/l
Cosumo na estrada: 11,8 km/l
Emissção de CO2 129 g/km
Consumo nota b
Nota do Inmetro: C
Classif. na categoria: B (Extra Grande)