O Honda Fit nasceu no Japão, um lugar onde coexistem mosteiros zen e arranha-céus, fábricas hiper-tecnológicas e antigas pousadas nas quais ainda se apreciam os mais tradicionais sushis e saquês. Portanto, não é de surpreender que a Honda tenha decidido dar um pouco de emoção ao que talvez seja o mais racional dos carros: o Fit – ou Jazz, na Europa, onde tivemos o primeiro contato com a quarta geração do hatch/monovolume.

Assim, este novo Honda Fit, que chega ainda este ano como linha 2021, ou no máximo no começo do próximo, ao Brasil, já deve mostrar logo de cara sua versão mais emocional, com cara de hatch aventureiro, querendo ser SUV compacto.

Ela se chama Crosstar, e, embora não tão alterada em relação ao novo Fit tradicional quanto o WR-V brasileiro é hoje, deve ficar posicionado acima dele – ou até substituí-lo – como uma nova opção no estilo dos SUVs compactos. Com a mecânica híbrida avaliada, que aqui pode até virar flex, deve custar em torno de R$ 110 mil.

Um novo mundo

Esta nova geração do Honda Fit chega com uma grande novidade: o powertrain híbrido. Sim, haverá versões tradicionais (aqui devem trocar o 1.5 pelo 1.0 turbo, como na Europa). Mas o destaque são as versões híbridas. E se o Crosstar tem cara de aventureiro urbano, ser híbrido o torna ainda mais atraente para a selva de pedra. Afinal, a cidade sempre foi o melhor ambiente para o Fit, e deve continuar a ser onde passará a maior parte do tempo.

Então, prepare-se para ficar longe do posto de gasolina: com média de 25,8 km/litro em nossos testes, dá pra percorrer mais de 1.000 km com um único tanque no uso urbano. Já a estrada, como veremos adiante, não é ambiente ideal para ele (para nenhum híbrido): marcamos média de “apenas” 14,5 km/l. Mesmo assim, a média geral de consumo ainda foi de incríveis 20 km/l. A versão sem os adereços aventureiros foi ainda melhor, com uma média urbana de incríveis 30 km/l (veja mais abaixo).

Prático e funcional

Antes de acelerar, vamos olhar bem para as linhas deste Crosstar: comparado ao Honda Fit “normal”, a carroceria é cerca de três centímetros mais alta. Como em todo bom aventureiro, há extensas proteções de plástico preto nos pára-choques, na parte inferior lateral e nos arcos das rodas. Mais que proteger o Fit de arbustos e galhos secos, vão encarar guias, cercadinhos e outras portas nos estacionamentos nos desafios urbanos.

O design do painel quebra pontes com o passado mais recente, mostrando um certo minimalismo. Mas a verdadeira genialidade do carro está em outros lugares. Na cabine, por exemplo, um dos méritos históricos do Fit: a disponibilidade de espaço, verdadeiramente notável, principalmente considerando suas contidas dimensões externas. Não importa o tamanho dos passageiros ou da carga a ser levada, nele sempre cabe de tudo. No banco traseiro, um adulto quase pode esticar as pernas (o espaço, em média, é de ótimos 35 cm).

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O único problema, este novo, é que o trem de força híbrido ocupa muito espaço no porta-malas, roubando consideráveis 59 litros em comparação ao Fit de terceira geração. O total é de 304 litros. Nada tão grave, pois, como dissemos, é um carro de uso urbano. E, felizmente, os “assentos mágicos” continuam lá, sensacionais para carregar objetos de formas incomuns (e dá para acomodar embaixo deles parte do que não couber no porta-malas).

E o novo Fit continua cheio de porta-objetos: além das duas generosas bolsas nas portas, eles estão no túnel entre os bancos e na base do console, além de haver os dois clássicos porta-garrafas nas extremidades do painel (não por acaso, bem na frente das saídas de ar) e um porta-luvas duplo com tampa. E, agora, ainda há bolsos atrás dos bancos dianteiros, ideais para guardar o smartphone de quem viaja ali atrás – que ainda pode carregá-lo por meio de uma tomada USB dedicada.

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Essa grande praticidade, aliada a um novo minimalismo no design do painel (embelezado com inserções de tecido), ofuscam uma qualidade que se preocupa mais com a montagem. Porque, se ela é irrepreensível, não há lá dentro sequer vestígios de materiais macios ao toque (tendência). Em suma, é um carro que conquista com a racionalidade, como sempre. Um exemplo? No caso de uma garrafa virar, os bancos têm um tecido que é impermeável.

E o novo Fit enfim tem um sistema multimídia que impressiona (acima). Tem tela sensível ao toque de 9,1 polegadas e estreou recentemente no Honda “e”, o primo de emissão zero (leia mais no quadro). Mais difícil é elogiar a instrumentação: a tela colorida é pequena (7”) e meio confusa na organização das informações. Fácil de usar, apenas o botão à esquerda do painel, que permite alterar o brilho dos monitores em um piscar de olhos.

Na Europa, o novo Fit/Jazz vem com sistemas de auxílio ao motorista, como alerta de mudança de faixas, mas por questões de custos, ao menos a princípio, não devem ser oferecidos no Brasil. Um monitor de ponto-cego, no entanto, seria bem-vindo, uma vez que, por causa da forma da carroceria, há, como sempre houve, um grande ponto cego.
Suavidade como marca.

O Fit sempre foi para rodar suavemente, sem pressa. E assim é o acerto do sofisticado powertrain híbrido, que favorece uma atuação suave no pedal da direita. Com o pé leve, o quatro cilindros 1.5 a gasolina de 97 cv sempre atua com máxima discrição (se necessário) ajudando o elétrico de 109 cv, sem que o motorista nem perceba.

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Dirigindo assim, nem se nota a ausência da caixa de câmbio, substituída por uma caixa de redução: o rodar é suave e livre de histeria. Se, no entanto, você pedir desempenho, o motor a gasolina – que forma, junto com o elétrico, uma combinação capaz de garantir ao japones até um certo brilho – se manifestará no cabine com ruído acentuado: quando solicitado, ele sobe de giro para produzir a energia necessária para o gerador, e, assim, acionar o motor elétrico (que, neste caso, passa a ser conectado diretamente às rodas).

(Clique na imagem abaixo para ampliá-la em uma nova aba; feche para voltar)

Embora não transmita emoções fortes ao volante, O Fit vai de 0-100 km/h em 10 segundos e é bem ágil na cidade. Além disso, direção e suspensões conversam muito bem entre si, como se fossem a extensão natural um do outro. O primeiro é voltado para o conforto, mas ainda capaz de oferecer precisão e boa progressividade. As segundas misturam bem as necessidades de dirigibilidade e de absorção, mesmo deixando rolar a carroceria de modo contido, mas perceptível.

Na cidade, o silêncio reina a bordo. Mas, na estrada, com o quatro cilindros sempre ativo (a 120 km/h, trabalha em velocidade bastante alta), você se vê obrigado a elevar a voz um pouco mais do que o necessário para conversar. Melhor é curtir o Fit onde ele sempre foi melhor, e ficou ainda melhor como híbrido: na cidade.

Quem não faz questão do aventureiro, ganha em racionalidade. Com estética mais limpa, a versão normal usa a mesma mecânica e tem consumo melhor ainda. Marcamos 30 km/l de média na cidade, ante os 25,8 do Crosstar. A carroceria mais alta fez a diferença, pois piora o coeficiente aerodinâmico, e os pneus também são diferentes. O diâmetro maior das rodas do Jazz aventureiro traz junto um aumento na taxa de transmissão e, portanto, na mesma velocidade, o sistema trabalha de modo diferente.

 

 

 

 

 

 

Honda Fit Crosstar ECVT Executive

Preço Básico (ESTIMADO) R$ 75.000
Carro Avaliado (ESTIMADO) R$ 110.000

Motores: a gasolina quatro cilindros em linha 1.5, 16V, comando variável + elétrico síncrono, ímã permanente
Combustível: bateria/gasolina
Potência: 97 cv a 5.500 rpm do motor a gasolina / 109 cv do elétrico = 109 cv (máximo do sistema)
Torque: 13,3 kgfm de 4.500 a 5.000 rpm / 25,8 kgfm do motor elétrico
Câmbio: dianteiro, caixa de redução com relação fixa
Direção: elétrica
Suspensões: MacPherson (d) e eixo de torção (t)
Freios: disco ventilado (d/t)
Tração: dianteira
Dimensões: 4,09 m (c),1,73 m (l), 1,56 m (a)
Entre-eixos: 2,52 m
Pneus: 185/60 R16
Porta-malas: 304 a 1.203 litros
Tanque: 40 litros
Peso: 1.325 kg
0-100 km/h: 9s6 (teste QRT)
Vel. máxima: 175 km/h (teste QRT)
Consumo cidade: 25,8 km/l
Consumo estrada: 22,4 km/l (vicinal) e 14,5 km/l (expressa)
Emissão de CO2: 110 g/km
Nota:
A(Europa)
Nota do Inmetro: não lançado no Brasil