Como num jogo de tabuleiro, as vezes as fabricantes de carros precisam voltar uma ou duas casas. Foi o que aconteceu com a JAC aqui no Brasil: ela largou mão dos modelos a combustão, e focou totalmente nos elétricos. Não deu certo. Por isso, no ano passado, voltou algumas casas e passou a oferecer por aqui a picape Hunter, com motor turbodiesel, bem diferente dos elétricos, silenciosos e “amigos do meio-ambiente”. E a tal da Hunter me surpreendeu… 

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Hunter tem cara de brava

Maior que algumas rivais do segmento, ela tem cara de brava (muito, a ponto de assustar criancinhas por aí), e, como esperado, foca na relação custo X benefício. Essa das fotos é a versão HDX, topo de linha, que sai por R$ 265 mil. Ainda há a HD de R$ 260 mil e, se você quiser gastar menos, a 4Work de R$ 240 mil. A mais simples, basicamente, dispensa teto-solar, estribos laterais, santantônio e racks de teto, mantendo ainda um pacotão de equipamentos. Interessante, né? 

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Primeiras impressões

Só que precisava conhecê-la na prática. De cara, o acabamento não chega a ser o melhor da categoria, mas convence pelos materiais decentes e visual que não cansa. Logo ao entrar, as portas dianteiras grandes ajudam no embarque e desembarque, e na ergonomia, ela convence. Mesmo com coluna de direção ajustável só em altura, o cinto é regulável em altura, e os bancos tem bom ângulo de configuração. Bacana. 

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Motorização

Ao ligar, silêncio notório. O 2.0 turbodiesel que habita sob o capô, com quatro cilindros, Common Rail, 191 cv de potência e cerca de 47 mkgf de torque, tem operação suave e quieta. Mesmo em maiores rotações (ainda assim baixas, não muito além dos 3.000 rpm em acelerações vigorosas), incomoda pouco os ocupantes. Ele casa com uma transmissão automática de oito marchas, a consagrada caixa ZF 8HP, que equipa desde Audi Q3 até Fiat Titano, sua arquirrival.  

JAC Hunter HDX – Foto: Lucca Mendonça

Essa caixa automática da ZF mostra uma melhor relação com o 2.0 turbodiesel da JAC do que com o 2.2 Multijet da Fiat, por exemplo. Na Hunter, é bem coxinizado e não vibra ou dá trancos, fazendo as passagens e reduções nos momentos corretos. No modo Eco, adianta as trocas ao máximo, inclusive em subidas, o que não atrapalha tanto a dirigibilidade: esse turbodiesel chinês é surpreendentemente forte em baixos giros, e faz a Hunter encarar subidas íngremes a 1.200 ou 1.300 rpm, por exemplo. Isso, claro, faz toda a diferença no uso off-road: é forte e não se esforça. 

JAC Hunter HDX – Foto: Lucca Mendonça

Consumo

Rodei 900 km com a Hunter. Bastante. E, por pouco, ela não conseguiu cumprir essa semana de testes com apenas um tanque, que comporta 80 litros. Mantida quase sempre no modo Eco, e rodando sem pressa, como curtem as picaponas turbodiesel de quatro cilindros, ela rondou os 9,0 km/l na cidade e passou dos 12,0 km/l na estrada, em média. Com pé pesado e explorando a curva de força, certamente eles vão ficar menos interessantes. Mas, se a tocada for econômica, vai além… 

JAC Hunter HDX – Foto: Lucca Mendonça

Mais econômica da categoria? Não. Uma Ranger 2.0 turbodiesel faria melhor. Só que, com tração 4×4 e os 47 mkgf de torque da Hunter, esses números são elogiáveis. E, sabe o câmbio de trocas adiantadas e relações longas? Ele certamente contribuiu positivamente para esse bom consumo. E dá-lhe modo Eco! 

JAC Hunter HDX – Foto: Lucca Mendonça

Eletrônica calibrada

Aliás, toda a programação eletrônica de câmbio, motor e acelerador parece responder bem ao seletor de modos de condução. No Eco tudo fica “murcho” para poupar combustível, no “Sport” o foco é performance, e o “Normal” equilibra tudo isso. É algo que já diz muito sobre a picape da JAC, afinal, normalmente, os carros da marca não costumam ser muito responsivos aos ajustes e configurações disponíveis.  

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Quer mais exemplos? O seletor de peso da direção (algo raro no segmento) realmente faz a diferença na assistência elétrica, a ativação da tração 4×4 é rápida e fácil, e até os dados informados pelo computador de bordo parecem bater com a realidade. A instrumentação mostrou precisão, e a multimídia, apesar de difícil de operar, já está num passo adiante de modelos elétricos anteriores da JAC aqui no Brasil.  

Picape madura

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De qualquer forma, tudo gira em torno de um lema: maturidade de produto. E, como é boa em fazer caminhões, a JAC também acaba sabendo criar picapes bem calibradas. Na Hunter, a direção elétrica é precisa e fácil em manobras, lembrando ajustes de outras rivais consagradas da categoria. O mesmo vale para as suspensões, com esquema Duplo A na dianteira e os clássicos feixes de molas na traseira: a regulagem é um pouquinho rígida, mas a compensação vem com os pneus macios da Giti. Esses, aliás, se dão muito melhor no asfalto do que fora dele.  

JAC Hunter HDX – Foto: Lucca Mendonça

“Na hora do vamo ver”

Provei o lado “Sport” da picape numa situação inusitada. Encontrei um SUV camuflado numa grande rodovia do interior paulista, e, claro, decidi persegui-lo. Estrada vazia, modo de condução ajustado, direção com peso maior, e aí ela entregava tudo que podia. Na reta, apesar do volante com certa trepidação, e de algum efeito de oscilação vertical da carroceria com as ondulações da pista, a caminhonete se mostrou segura e muito “na mão”. Bem mais do que eu esperava, especialmente nas altas velocidades. 

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Curva à frente. O SUV camuflado, também chinês, fez bonito com suspensões independentes e tudo mais. E a Hunter…também! Reduzi a velocidade, mas do jeito que ela entrou na curva, conseguiu contornar e sair, sem sustos. Aqueles pneus Giti, macios, cantam bastante em curvas rápidas, só que se mostraram comportamento acima da média nessas horas de tocada mais esportiva.  

JAC Hunter HDX – Foto: Lucca Mendonça

Sim, também é numa curva que se conhece o carro, e ali vi que essa picape mereceu a devida atenção nas calibrações mecânicas. Logo em seguida, aprovei com méritos também os quatro freios a disco ventilado: tem acionamento por pedal progressivo e são poderosos.  

Boa de guiar

JAC Hunter HDX – Foto: Lucca Mendonça

Viagens a parte, ela também provou ser fácil de usar na cidade. Motor e câmbio suaves, direção leve, janelas grandes e câmeras/sensores para todos os lados estavam lá para ajudar. Apesar de algumas “brigas” entre as suspensões dianteiras (com calibração macia) e traseiras (ajustadas para levar os 1.400 kg de carga que a Hunter promete), o conjunto da obra agrada na condução e conforto a bordo. Aproveitando o ensejo, sua caçamba é grande, cheia de pontos de ancoragem, só que pena com a tampa pesada e ausência de iluminação dedicada.  

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Equipamentos

Na lista de itens que a Hunter deve, também estão assistentes inteligentes de condução (ADAS), mas essas tecnologias certamente a deixariam consideravelmente mais cara. Ainda assim, o pacotão é farto: teto-solar (raridade no segmento), bancos em couro sintético marrom, bancos dianteiros com ajustes elétricos e aquecimento, multimídia vertical de 13”, painel de instrumentos digital de 7”, conjunto óptico inteiro em LED, sensor crepuscular, retrovisores com rebatimento elétrico e aquecimento, ar digital automático com saídas traseiras, iluminação ambiente em LED e câmeras 360º. 

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Também espere sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, chave presencial, partida por botão, luzes de cortesia nas portas dianteiras, freio de mão eletromecânico com Auto Hold, luzes ambientes em LED personalizável e bonitas rodas de liga-leve diamantadas aro 18. E, na cabine, botões físicos e práticos para comandar tração, ar-condicionado, desembaçador, seletor de modos de condução e por aí vai, que facilitam o uso diário. Só que apenas o volante tem teclas físicas para mexer no som. 

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Grata surpresa, mas as vendas… 

Pelo preço que custa, e o que oferece de série, a JAC Hunter não tem só cara de agressiva. Cumpre seu papel na motorização, dirigibilidade, espaço interno, conforto e equipamentos, mesmo que o mercado ainda olhe ela como certo desdém: foram só 330 unidades emplacadas desde janeiro no Brasil, conforme dados da Fenabrave. Talvez faltem concessionárias, ou então mais divulgação… 

JAC Hunter HDX – Foto: Lucca Mendonça