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Foi difícil relaxar na noite que precedeu o teste do Jeep Wrangler. Sentia um misto de inquietação e entusiasmo em rever esse “velho amigo”, com quem me encontrei pela última vez há dois anos, à época na sua terceira geração (chamada JK). Acordei às 4h30 e iniciei uma tensa contagem regressiva até o horário do test-drive. Pode parecer exagero para a maioria, mas não é: estaria novamente ao volante deste ícone do fora de estrada.

Descendente direto do Model CJ, da Segunda Guerra Mundial, a primeira geração do Wrangler (YJ) surgiu em 1986. Sua personalidade inconfundível ao longo do tempo lhe rendeu participações em filmes, seriados e desenhos, como Jurassic Park, MacGyver e Os Simpsons. Cara a cara com ele, pude reparar nas mudanças desta geração JL, desenvolvida em Auburn Hills, Michigan, e construída na cidade de de Toledo, Ohio. Ele é como já dizia o cantor Bruce Springsteen: “Born In The USA” (Nascido nos Estados Unidos).

A cor laranja Punk’n Metallic destaca a carroceria “quadradona” e os robustos para-lamas estão mais altos e ganharam luzes diurnas. Outras novidades aparecem nos faróis arredondados, com arranjo interno semelhante ao do Renegade. A clássica grade de sete barras fica saltada, o capô foi arredondado e o para-brisa mais inclinado ajudou na aerodinâmica (uma concessão). Atrás, destaque para as novas lanternas. Os tradicionais easter eggs (pequenas surpresas de design) do exterior estão nas rodas e no vidro do para-brisa, fazendo uma referência ao modelo CJ (estão destacados na foto ao lado). Um charme à parte!

Diferente, mas sem perder a essência, o Wrangler ficou 90 kg mais leve com o uso de alumínio na estrutura, capô, portas, tampa do porta-malas e moldura do para-brisa. Do alto dos meus 1,70 m, precisei me arremessar para dentro da cabine – são 27,4 cm de vão livre do solo. Lá dentro, tudo mudou. O quadro de instrumentos possui tela TFT de 7” e a central multimídia é a UConnect de 8,4”. Com Android Auto e Apple CarPlay, ainda mostra informações do funcionamento do motor e do fora de estrada (inclinômetro longitudinal/transversal e ângulo de esterço, por exemplo). O tradicional interior lavável possui drenos no assoalho para escoar a água.

O comprimento de 4,785 m deste novo Wrangler com quatro portas (que ganha o sobrenome Unlimited) é um pouco menor que o do Fiat Toro (4,915 m), e o entre-eixos de 3,008 m ajuda no espaço para as pernas de quem viaja no banco traseiro. Semelhante a um Lego, é possível remover suas portas, baixar seu para-brisa – após soltar quatro pontos de fixação – e, com a ajuda de amigos, até tirar o teto. Tudo de modo bem simples e sem complicações.

O desbravador de trilhas

Sem a capota, com os cabelos ao vento, tentava conter minha empolgação, pois estávamos na mesma unidade exibida no Salão do Automóvel de São Paulo, no ano passado – ou seja, “filho único”. Sob o enorme capô, uma das grandes inovações dessa geração: um motor 2.0 turbo de 271 cv de potência a 5.250 rpm e 40,8 kgfm de torque a 3.000 rpm, associado a um também novo câmbio automático de oito marchas (o anterior tinha um V6 Pentastar 3.6 de 284 cv e 35,3 kgfm e câmbio de cinco marchas). Embora a potência tenha diminuído, é o torque mais alto que faz a diferença. No uso urbano ou rodoviário, o Wrangler anda com desenvoltura e as suspensões macias não deixam a carroceria inclinar demais, além de deixá-lo bastante equilibrado. Uma experiência de condução única.

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Saindo do asfalto, encaramos um trajeto de fora de estrada que não usou 5% de sua capacidade off-road. A configuração avaliada ostenta no capô o logotipo Rubicon, referência a uma das trilhas mais radicais e difíceis do mundo. Localizada na região do Lake Tahoe entre a Califórnia e Nevada, tem 35,4 km de extensão e recebeu nota 10 em grau de dificuldade. Essa versão será oferecida – pela primeira vez no Brasil – a partir do segundo semestre deste ano (sem valor divulgado). Comparado ao Sahara, cujo preço sugerido é de R$ 259.990 (duas portas) e R$ 274.990 (quatro portas), se diferencia pelos para-choques em aço com os ganchos para reboque, pneus lameiros BF Goodrich de 33 polegadas e suspensão elevada em 5 cm. Além disso, o Rubicon possui a tração Rock Trac com os eixos Dana 44, assim como chapas grossas instaladas embaixo do veículo para proteger contra batidas.

Voltando à trilha: a alavanca da tração tem quatro posições (2WD traseira, 4WD High, Neutro e 4WD Low). Um recurso bastante interessante é o Tru-lok – bloqueio eletrônico dos diferenciais dianteiro e traseiro, ou mesmo dos dois, por meio de um botão no console central. A caixa de transferência tem relação reduzida de 4:1 e, ao pressionar a tecla Sway Bar, a barra estabilizadora dianteira é desconectada eletronicamente, permitindo maior articulação da suspensão no uso em trilha – o que ajuda bem na tração. Os ângulos de ataque e de saída são de 43,9° e 37°, respectivamente, e sua capacidade de imersão é de até 76 cm (a até 8 km/h). Foi um teste curto, mas intenso. E mostrou que esse Jeep é como um bom vinho: os anos passam e ele fica cada vez melhor.


Ficha técnica:

Jeep Wrangler Rubicon

Preço básico (2p): R$ 259.990
Carro avaliado: R$ 290.000*
Motor: quatro cilindros em linha 2.0, 16V, injeção direta, turbo
Cilindrada: 1995 cm3
Combustível: gasolina
Potência: 271 cv a 5.250 rpm
Torque: 40,8 kgfm a 3.000 rpm
Câmbio: automático sequencial, oito marchas
Direção: eletro-hidráulica
Suspensões: eixos rígidos (d/t)
Freios: disco ventilado (d) e sólidos (t)
Tração: 4×2, 4×4 sob demanda, 4×4 part-time e 4×4 com reduzida
Dimensões: 4,785 m (c), 1,877 m (l), 1,868 m (a)
Entre-eixos: 3,008 m
Pneus: 255/75 R17
Porta-malas: 548 litros
Tanque: 81 litros
Peso: 2.034 kg
0-100 km/h: 7s6**
Velocidade máxima: 180 km/h**
Consumo cidade: 9,3 km/l*
Consumo estrada: 10,2 km/l*
Emissão de CO²: 245 g/km
Nota do Inmetro: C*
Classificação na categoria: D (Fora de Estrada Grande)*

*estimado