O Mercedes GLA 2021 chegou, e em nova geração. Diferentemente da antiga, ela não é mais fabricada no Brasil – a marca encerrou novamente a produção de automóveis por aqui. O GLA 200 AMG Line chega como versão única apostando em um visual apimentado com um kit da preparadora AMG, mas traz sob o capô um tímido motor 1.3 turbo de 163 cv.

São R$ 325.900 em um carro com motor 1.3? Sim, exatamente. Mas, antes de falar como ele anda, vamos falar da nova plataforma, do que ele oferece no pacote visual AMG, na cabine e também na lista de equipamentos – muita gente dá mais importância para isso hoje do que para a mecânica em si.

NOVAMENTE IMPORTADO

Com uma nova plataforma, o Mercedes-Benz GLA de segunda geração chega com uma grande mudança de posicionamento. Isso porque após desistir da segunda tentativa de ter uma fábrica de automóveis no Brasil, a Mercedes voltou a importar o GLA, e, para piorar, o dólar está nas alturas. 

Diante deste novo cenário, mais que uma marca Premium, a Mercedes-Benz quer se firmar como marca de luxo. Daí só ter a versão “top” – mesmo que, neste caso, com o motor mais básico oferecido globalmente.

Então, nem modelo de entrada da marca o Mercedes-Benz GLA é mais. Daí vir só nesta versão mais cara que o GLB – seu também renovado irmão maior, um SUV de sete lugares com a mesma mecânica, mas que custa menos (R$ 300 mil) e tem uma proposta  mais “família”, menos esportiva que a deste “esportivado” (versões mais potentes e caras do GLA, inclusive AMG “legítimas”, virão depois)

ESPORTIVADO

Esportivado? O termo começou com versões top de alguns hatches que não traziam mecânica diferente daquela usada pelas versões normais e se popularizou com modelos até mais populares – mesmo com motores 1.0 aspirados – que trazem um visual “invocado”, com adereços esportivos. Para quem a imagem é mais importante que o conteúdo (o oposto dos “sleepers” – carros com visual normal, mas que andam muito.

Olhando por fora, o visual do GLA 200 AMG Line impressiona: os para-choques são os mesmos dos esportivos da AMG, com sua forma de A-wing (asa em formato de A), e da preparadora oficial da marca também vêm a grade, diamantada e cromada, e as grandes rodas com aro de 20 polegadas. Para completar, dois “powerdomes” no capô: “domos de força/potência”, como que ressaltos para abrigar o “motorzão” lá dentro – no caso, só um quatro cilindros.

SHOW DE CABINE

O pacote esportivo também aparece dentro da cabine. Além do acabamento do tipo fibra de carbono no console e nas portas, ele traz pedaleiras esportivas e volante de base achatada, como nos AMG, além de bancos também esportivos.

Esses bancos, além de acomodarem muito bem o corpo, têm ajuste de comprimento do assento – o único manual, pois o resto é elétrico, e, como nos Mercedes maiores, com os comandos localizados na porta (só o do suporte lombar fica no próprio banco).

E os atrativo da cabine não terminam por aí. As medidas cresceram em ótimos 10 cm na altura interna, 3 cm na largura e o mesmo no entre-eixos – há espaço suficiente para quatro adultos viajarem com muito conforto. E o acabamento é impecável, com materiais nobres como couro (sintético, mas não parece) e Alcantara (tipo um veludo).

Há ainda carregador de celular sem fio no console central e um teto panorâmico que ilumina e amplia a cabine, dividido em dois setores – o da frente abre, o de trás não, e ambos têm cortinas elétricas que protegem muito bem quando o sol está forte demais.

Mercedes-Benz GLA 200 AMG Line

A lista de equipamentos do novo Mercedes-Benz GLA 200 AMG Line inclui ainda itens como entrada/partida sem chave, ar-condicionado de duas zonas com saídas de ar traseiras, retrovisores com rebatimento elétrico automático, seletor de modo de condução, sensor de chuva e tampa do porta-malas com acionamento elétrico, além de sistemas avançados de assistência ao motorista – já voltarei a eles (veja a lista completa aqui). Os faróis são full-LED, mas, pelo preço cobrado pelo carro, podiam ter o sistema de luz alta automática.

BELAS TELAS 

E claro que não podemos deixar de falar do maior destaque da cabine: o novo painel herdado do Classe A, com duas telas de 10,2 polegadas totalmente integradas, que resulta em um dos melhores ambientes para o motorista do mercado.

O quadro de instrumentos de 10,2 polegadas é um show. Além de diferentes opções de estilo, é possível configurar individualmente as informações que são exibidas dentro de cada um dos mostradores – velocímetro e conta-giros –, além de substituí-los por relógio, mapa, indicador de sistemas de auxílio ao motorista, música que está tocando…

Ainda é possível optar pelo modo tela inteira, que reduz os instrumentos tradicionais e prioriza os outros tipos de informações citados, e há um modo “sutil”, super-cool, que cria um ambiente leve, que mal parece o de um quadro de instrumentos.

Todo o tipo de informação está ali, inclusive a útil exibição da marcha engatada, e os menus são bem organizados. Você leva um tempo para se acostumar com os comandos, mas depois que pega o jeito, é muito fácil de controlar tudo, seja por meio dos comandos de voz (“Ok, Mercedes”) ou dos botões e de um mini-touchpad no lado esquerdo do volante.

Se você não quiser usar os micro touchpads do volante, há um touchpad no console central, com os tradicionais atalhos da marca – navegação, carro, etc. Aliás, esses atalhos são perfeitamente integrados com o Android Auto, e as informações do sistema aparecem sempre na tela do cluster, se você quiser (só faltou conexão sem fio com o sistema).

A tela central, também de 10,2 polegadas, é sensível ao toque e colocada em total continuidade com a do cluster. Mostra dados multimídia, informações do carro – de gráficos de potência/torque usado (abaixo) a gráficos de consumo.

Além disso, ela permite configurar tudo – de sistemas de assistência ao motorista ao  ar-condicionado –, com facilidade, seja pelo outro mini-touchpad no volante, do lado direito, ou pelo touchpad central.

MAIS SUV, MENOS HATCH
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Assim como o visual — confira galeria completa acima — ficou mais de SUV do que “hatch bombado”, como era primeira geração, ao volante do Mercedes GLA 2021 as sensações ao volante também mudaram um pouco. Passamos uma semana com o carro, e rodamos mais de 500 quilômetros.

Ao abrir a porta, o banco do motorista se move para facilitar o acesso. O ajuste do volante é bem amplo, deixando fácil achar uma posição de dirigir boa. O banco não chega a ficar exageradamente alto, mas sobe o suficiente para dar aquela sensação de estar mais alto tão apreciada nos SUVs (e que o antigo Mercedes GLA não tinha muito).

As marchas são selecionadas por uma alavanca junto ao volante de base achatada, e, para trocas manuais, há belas aletas. O bom é que isso libera espaço no console central – que, além dos citados touchpad e atalhos, tem porta-copos e um generoso porta-objetos com tampa e interior revestido para evitar ruídos.

Começo o teste com o seletor de modo de condução no “Comfort”. As respostas são suaves, tanto do motor quanto do câmbio, e não falta fôlego nem agilidade para circular pela cidade. Nas desacelerações, parte da energia cinética é recuperada na bateria.

Mudo o seletor para o Eco, e, nas desacelerações, ao aliviar o pé direito andando em velocidade constante, ou em descidas leves, ele passa a desacoplar o câmbio (fazer “banguela”) para poupar combustível.

Além disso, sem indicar em lugar nenhum e sem que você perceba, com cargas leves no acelerador ele desativa dois dos quatro cilindros, ajudando a poupar combustível. Na cidade, isso significou marcas na faixa de 10 km/l (como indica o PBEV/Inmetro).

Nas ruas esburacadas do meu bairro, os pneus de perfil baixo até tentam atrapalhar um pouco o trabalho das suspensões, que chamam a atenção por seu ajuste realmente excepcional. O conforto chega a ser surpreendente.

Ainda no uso urbano, o sistema de auto-hold do Mercedes GLA 2021 é o melhor do mercado: para acioná-lo, após parar o carro “no freio”, basta dar mais uma leve pressionada no pedal para ele acioná-lo (uma indicação aparece no painel). Então ele atua quando você de fato quer, e não sempre que você para o carro (o que às vezes é inconveniente).

Para completar, o assistente de estacionamento sempre mede as vagas, indicando onde você cabe. E ele faz quase tudo: depois que você o aciona e engata a ré, ele esterça, freia, troca marchas… faz tudo e te avisa quando termina. O mesmo na hora de sair. Ah, e quando você desliga o carro, ele ativa automaticamente o freio de mão elétrico.

MAIS CARRO QUE MOTOR?

Mercedes-Benz GLA 200 AMG Line

Na estrada, andando a 120 km/h, o conta-giros do novo Mercedes GLA 2021 marca pouco mais de 2.000 rpm em sétima marcha, com baixíssimo ruído. Novamente, não se sabe quantos dos cilindros estão atuando, mas com frequência o motor “descansa”, em marcha lenta, com o câmbio desacoplado (modo Eco).

Assim, o consumo rodoviário fica facilmente na faixa de 15 km/l, bem melhor que o número oficial. Mas era o que esperávamos de um motor 1.3 turbinado: se não para reduzir o consumo, para que serviria o downsizing?

E isso não significa que o desempenho deste Mercedes GLA 2021 seja ruim. Ele é só um pouco mais lento que no 0-100 km/h, e agora leva 8,7 segundos (eram 8,1 no 1.6 de 156 cv, que tinha os mesmos 25,5 kgfm de torque, mas entregue 420 rpm antes).

Por outro lado, enquanto os dados oficiais de consumo da geração anterior eram de 10 km/l na cidade e 12,7 na estrada, o novo Mercedes GLA 2021 faz 10,7 km/l na cidade 12,8 na estrada – uma diferença pequena, mas ainda assim o consumo melhorou.

Ajusto o seletor no modo Sport (na verdade o Sport+ virou Sport) e o fato é que o motor é brilhante, muito surpreendente. Tem uma entrega progressiva, mediada pelo câmbio de dupla embreagem muito bem escalonado, e é capaz de levar o Mercedes GLA 2021 a velocidades acima das permitidas com facilidade.

Caso opte pelas trocas manuais, as aletas são de metal, e não compensam só o tato: são também muito rápidas nas respostas.

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Sim, o motor 1.3 do Mercedes GLA 2021 entrega o que é preciso 95% do tempo, e fará a maioria dos motoristas felizes. Mas a aceleração de 0-100 km/h e as retomadas não são dignas de um verdadeiro carro esportivo, o que faz com todo o visual de AMG parecer um tanto exagerado diante do que o carro de fato entrega.

Para um motor 1.3, é de fato impressionante, mas em um carro que custa mais de R$ 320 mil… bem, a marca não pode se dizer surpresa se o consumidor achar pouco.

Em algumas situações, o “motorzinho” parece ter que se esforçar muito, e ainda assim as retomadas demoram um pouquinho mais do que o desejado. Achamos que deveria ter vindo com um motor 2.0 de mais de 200 cv, pelo menos.

Mas isso não significa que o Mercedes-GLA tenha perdido as qualidades dinâmicas. Como bem notamos nos testes e como comprova a existência das versões AMG, apesar de faltar motor, sobra chassi: as suspensões, confortáveis no cenário urbano, se mostram extremamente capazes de controlar a carroceria, mesmo agora que ela ficou mais alta.

Completando a prazerosa experiência ao volante, está a direção. Ah, o sistema de direção da Mercedes, sempre tão perfeito. Leve quando se precisa, pesada e progressiva quando se deseja, ela é bastante direta, ajudando a tornar a comunicação homem-máquina extremamente satisfatória.

NA TERRA

Mercedes-Benz GLA 200 AMG Line

A proposta do Mercedes GLA 2021 é de “SUV urbano”, como sempre foi. Não há tração 4×4 e a altura livre do solo é de apenas 14,3 cm – não muito, mas boa para o que se destina. Ainda assim, pegamos algumas dezenas de quilômetros de estradas de terra.

Neste cenário, as suspensões voltaram a surpreender – lembrem-se, os pneus são 235/45 R20. Conseguimos desenvolver uma boa velocidade, sem ruído de suspensão batendo ou “sofrendo”, e as frenagens foram muito eficientes.

Os sistemas eletrônicos avançados de vetorização de torque, controle de tração e de estabilidade ajudam a manter o carro nos trilhos mesmo em pedriscos mais soltos. Não é o cenário ideal nem pensado para ele, mas você poderá chegar bem ao sítio, sem sustos ou desconforto.

QUASE SEMIAUTÔNOMO

Apesar de o Mercedes GLA 2021 ter sistemas semiautônomos avançados, não é assim que a marca os vende – por cautela e por falta de regulamentação para tais recursos aqui no Brasil.

O regulador de velocidade adaptativo (ACC), por exemplo, funciona dos 20 aos 210 km/h. Usa radares e câmeras para, além de seguir a velocidade do carro da frente, também seguir sua trajetória, possibilitando que o motorista tire as mãos do volante. 

Mas isso só pode ser feito apenas por alguns segundos: logo o sistema dá uma bronca e exige que o motorista coloque as mãos de volta. 

Também há um assistente ativo de manutenção em faixa, que, além de alertar, também atua nos freios e no volante para puxar o carro de volta para a pista.

O mesmo acontece quando você muda de faixa sem avisar: se houver um carro no ponto cego, o Mercedes GLA 200 AMG Line evitará o acidente.

Então, embora os sistemas semiautônomos não possam assumir o volante, eles dão um bela ajuda para evitar acidentes. 

E ainda há alerta de colisão dianteira com frenagem automática de emergência, secagem de freios na chuva, alerta de colisão traseira e um “assistente de desembarque”, que avisa se você for abrir a porta e estiver vindo um carro. Só faltou a luz alta automática!

VALE O QUANTO CUSTA?

O preço do Mercedes GLA 2021, de salgados R$ 325.900, chamou a atenção. Ele pode ser completíssimo, o acabamento de fato é impecável e a mecânica não decepciona – até você olhar para a concorrência.

Sim, alguns não terão um visual tão belo, outros serão menos equipados, mas, em termos de desempenho, nesta faixa, o Mercedes GLA 2021 fica para trás. Se para você isso é uma prioridade, melhor esquecer este Mercedes e procurar um Volvo ou um BMW.

Mas se o que você procura em um SUV urbano é o refinamento e conforto ao rodar, acabamento impecável e sistemas de suspensões e direção irrepreensíveis, este novo GLA, pelo menos nestes pontos, fica acima da média.

Vale a pena? A esse preço, fica difícil recomendá-lo. Mas tudo depende de quanto você pode gastar e do que busca em um carro.

FICHA TÉCNICA

Mercedes-Benz GLA 

Preço básico: R$ 325.900
Carro avaliado: R$ 325.900

Mercedes-Benz GLA 200 AMG Line

Motor: quatro cilindros em linha 1.3, 16V, turbo, injeção direta, desativação de cilindros
Cilindrada: 1332 cm3
Combustível: gasolina
Potência: 163 cv a 5.500 rpm
Torque: 25,5 kgfm de 1.620 a 4.200 rpm (g/e)
Câmbio: automatizado dupla embreagem, sete marchas
Direção: elétrica
Suspensões: MacPherson (d) e multilink (t)
Freios: discos ventilados (d) e discos sólidos (t)
Tração: dianteira
Dimensões: 4,410 m (c), 1,834 m (l), 1,611 m (a)
Entre-eixos: 2,729 m
Pneus: 235/45 R20
Porta-malas: 435 a 1.430 litros
Tanque: 48 litros
Peso: 1.485 kg
0-100 km/h: 8s7
Velocidade máxima: 210 km/h
Consumo cidade: 10,7 km/l
Consumo estrada: 12,8 km/l
Nota do Inmetro: C*
Classificação na categoria: A (Grande)

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