Pelo preço deste Fiat Argo Trekking 1.8 AT completinho – quase R$ 80 mil –, você compra um SUV compacto não tão equipado. O que vale mais a pena? Depende do que pretende fazer com o carro.

Se for para rodar só no asfalto e levar as crianças na escola, a maioria dos SUV será mais espaçosa e terá um porta-malas maior. Agora, se for para rodar em ruas com paralelepípedo, pé de moleque ou estradas de terra – ou mesmo no asfalto ruim–, este hatch aventureiro pode lhe servir até melhor.

Como já destaquei na avaliação do Argo Trekking 1.3 (leia aqui), suspensões para rodar em pisos ruins são algo que a Fiat faz muito bem desde a época da linha Adventure. Podem não ter o melhor comportamento dinâmico, mas elas são sem dúvida robustas, de funcionamento silencioso e bem isoladas, garantindo um rodar sempre confortável. Pode-se dizer que são melhores, de fato, que as de muitos “SUVs” compactos.

ERA O QUE FALTAVA

(Flávio Silveira)

Quando o Argo Trekking 1.3 estreou, não senti falta de motor, mas sim do câmbio automático. Bem, ele chegou. A má notícia é que, junto, é preciso levar o motor 1.8. Sim, o velho E.torQ já faz tempo depõe mais contra do que a favor dos Fiat. Já voltaremos a isso. Antes, vamos ver o que mais o Argo Trekking 1.8 AT oferece que o 1.3 não oferecia.

Bem, basicamente, além da mecânica, o Argo Trekking 1.8 tem a mais, de série, apenas rodas de liga-leve idênticas às do 1.3 (nele são opcionais). E o Trekking 1.8 tem, também, opcionais bacanas, que o 1.3 não tem.

O Trekking 1.3 sai por R$ 62.490 e cobra R$ 2.500 pelas rodas e R$ 1.200 pela câmera de ré, chegando a R$ 66.190. Já o Trekking 1.8 parte de R$ 69.990 e cobra o mesmo pela câmera de ré, indo a R$ 71.190. Igualmente equipados, portanto, a diferença é de R$ 5.000. Pouco, considerando o upgrade de motor e câmbio.

Já o Argo avaliado era “completão”. Além da câmera de ré, tinha chave presencial, retrovisores com rebatimento elétrico e “luz de poças”, ar-condicionado digital, o belo painel com tela central de 7” como a do Renegade, os úteis sensores de chuva e crepuscular, além de retrovisor interno eletrocrômico (pacote de R$ 3.660, recomendamos). Grave falha está na ausência do controle de estabilidade, que não é nem sequer opcional.

O modelo avaliado também tinha o pacote com apoia-braço, volante em couro, piloto automático, aletas para trocas de marcha, bancos em couro e banco traseiro bipartido (R$ 2.990). Total: R$ 77.840, cerca de R$ 500 a mais que o Jeep Renegade “peladão” (STD), mas menos que o Renegade igualmente equipado (que seria o Longitude, de R$ 106.190).

SIMPLES, PORÉM BONITA

Argo Trekking 1.8

A cabine é outro ponto alto do Argo Trekking 1.8. No acabamento, gostamos do interior todo preto (teto inclusive). Dá um ar chique e esportivo ao carro. Já os acabamentos são todos de plástico duro, mas com texturas em formas que dão uma sofisticação extra. Não fica devendo nada – pelo contrário, até supera – SUVs médios como o VW T-Cross (mas não o Renegade).

O volante tem aro grosso uma boa pegada, além de base chata acabamento de couro perfurado – elemento emprestados do esportivado Argo HGT (leia aqui). O  quadro de instrumentos com a tela grande e colorida tem muitas informações, e o ar-condicionado automático e digital, dois itens que vêm da linha Jeep, adicionam mais alguma sofisticação. Os bancos de couro opcionais também agradam, mas  sentimos falta desse material na alavanca de freio de estacionamento.

Argo Trekking 1.8
(Flávio Silveira)

O espaço interno não se destaca, e de fato para quem anda com adultos no banco traseiro vale a pena pensar em investir em um carro maior. Mas, para uso de solteiros e casais sem filhos ou com filhos pequenos, está ótimo. Assim como o porta-malas de 300 litros (só 20 a menos que no Renegade).

À ESPERA DE UM TURBO

Na experiência ao volante, porém, é que o Argo Trekking 1.8 fica devendo. Com o motor maior e o câmbio automático, ele gasta muito mais e não entrega um desempenho tão superior ao do modelo 1.3 manual. Faz falta um motor turbo.

Claro que é natural que um carro automático não seja tão bom quanto um manual nestes pontos, afinal há as perdas do conversor de torque, etc. Mas, o problema maior é o motor ultrapassado. Não que seja exatamente ruim.

Na cidade, as saídas de semáforo são bastante suaves, e este motor aspirado entrega sua boa força de modo progressivo. Não é preciso subir muito de giro, e o câmbio automático é muito bem calibrado para isso, mantendo sempre uma sensação agradável. Mesmo quando se pisa mais fundo no acelerador, ele dificilmente “amarra” marchas. 

Argo Trekking 1.8
(foto de Flávio Silveira)

No ambiente urbano, porém, é onde o Argo Trekking 1.8 “bebe” mais. O Inmetro aponta apenas 6,6 km/l com etanol e 9,4 com gasolina, bem menos que os 8,5 e 12,1 km/l da versão 1.3. Nota do Inmetro: B para o 1.3, D para o 1.8. É o preço a se pagar pelo conforto do câmbio automático.

Na estrada, a diferença de consumo não é tão enorme – 8,6 e 11,9 km/l (e/g) no 1.8 ante 9,6 e 13,5 km/l no 1.3 –, mas sua vantagem fica menor. O desempenho fica devendo (0-100 km/h com etanol: 11s4 no Argo 1.3, 10s8 no 1.8). Além disso, seu funcionamento é áspero, e a 120 km/h, a 2.500/2.600 rpm, o som do motor está sempre presente na cabine.

UM BOM MOTIVO PRA LEVAR O 1.3?

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Voltando aos preços, será que este Argo Trekking 1.8 vale os R$ 2.000 a mais que o Argo 1.8 Precision? Sim, certamente, pelas suspensões e pelo visual incrementado. Agora, será que vale a pena pagar nele R$ 5.000 a mais que na versão 1.3? Talvez ciente das deficiências do motor maior e se adequando ao mercado, sim, pois a diferença não é tanta.

Mas é bom fazer bem as contas, pensando em consumo. O Argo Trekking 1.8 automático pode ser vantagem no uso urbano, pelo conforto, mas, como mostramos, gasta mais (quem roda 90% na cidade, 1.000 km por mês, vai gastar R$ 4.949 por ano com o 1.8 e R$ 3.887 com o 1.3, com a gasolina a R$ 3,96). Já para quem usa o carro principalmente na estrada, a caixa automática pode não ser vantagem tão grande. Mas, por outro lado, a diferença no consumo diminui.

(foto: Flávio Silveira)

De qualquer modo, deixamos a pergunta: por que “casar” esta mecânica 1.8 com câmbio automático com os opcionais mais sofisticados? Costume da indústria. Mais justo seria oferecer os mesmos opcionais no Trekking 1.3 e deixar a escolha para o consumidor. 

No fim, não dá para afirmar que este Argo Trekking 1.8 seja mau negócio. Com suspensões melhores que as de muitos “SUVs”, tanto ele quanto a versão 1.3 aguentam estradas ruins ou de terra bem melhor, como dissemos. Mas, em relação à mecânica, nós recomendamos esperar pelo motor 1.3 turbo que chega em breve (leia mais aqui).

Fiat Argo Trekking  1.8 AT

Motor: quatro cilindros em linha 1.8, 16V
Cilindrada: 1747 cm3
Combustível: flex
Potência: 135 cv (g) e 139 cv a 5.750 rpm (e)
Torque: 18,8 kgfm (g) e 19,3 kgfm a 3.750 rpm (e)
Câmbio: automático sequencial, seis marchas
Direção: elétrica
Suspensão: MacPherson (d) e eixo de torção (t)
Freios: Disco sólido (d) e tambor (t)
Tração: Dianteira
Dimensões: 3,998 m (c), 1,724 m (l), 1,568 m (a)
Entre-eixos: 2,521 m
Pneus: 205/60 R15
Porta-malas: 300 litros
Tanque: 48 litros
Peso: 1.231 kg
0-100 km/h: 11s1 (g) e 10s4 (e)
Velocidade máxima: 189 km/h (g) e 191 km/h (e)
Consumo cidade: 9,4 km/l (g) e 6,6 km/l (e)
Consumo estrada: 11,9 km/l (g) e 8,6 km/l (e)
Emissão de CO2: 130 g/km*
Com etanol: zero
Nota do Inmetro: D
Classificação na categoria: C (SUV compacto)

Roberto Assunção