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O Nissan Kicks é, acima de tudo, um carro inteligente – tanto para o proprietário quanto para o fabricante. Ele não tem aquele brilho técnico na entrega de potência e nas suspensões traseiras, mas consegue dar ao motorista uma combinação excelente de tecnologia realmente útil com dirigibilidade agradável e praticidade superior. Enquanto a Nissan economiza em alguns custos de produção, o consumidor economiza na manutenção. Isso sem contar o charme, a esportividade e a presença imponente. Por tudo isso, o Kicks já se candidata como o anti-HR-V, o crossover da Honda que lidera o segmento com 30.882 unidades vendidas no primeiro semestre. (Confira aqui também uma avaliação de 1.200 km que fizemos com o Kicks).

O novo crossover nasceu no centro de design America Rio, um dos cinco da Nissan no mundo. Seu visual exclusivo pode ser identificado pelo “V” que passa abaixo da grade dianteira e segue nos vincos do capô (assinatura mundial da marca), pelo “teto flutuante” quando visto de lado e pela “geometria emocional” formada pelas lanternas de LED traseiras. O teto “flutua” porque uma peça escura de plástico faz a junção entre as janelas laterais e o vidro traseiro. Esse efeito fica ainda mais evidente com o teto em dois tons (opcional de R$ 2.500). “Algumas opções de design são um pouco caras para produzir, mas dão um resultado incrível no carro”, comenta o designer-chefe Robert Bauer.

É o caso dos faróis e das lanternas com aletas aerodinâmicas, completando os vincos que dão musculatura à carroceria. As belas rodas aro 17, diamantadas com fundo preto, completam o visual. Se por fora o Kicks é irresistível, por dentro é minimalista – nem por isso menos atraente. Não há aquele excesso de botões que às vezes confunde o motorista. A central multimídia (também com “design flutuante”) é composta de uma tela multi-touch colorida de 7”, facílima de usar, com navegador incluído. O mais importante é que essa tela sensível, apesar de ter ícones grandes, também pode ser controlada por botões (um ponto a favor da Nissan perante concorrentes que os abandonaram em seus painéis).

Uma das novidades é a câmera de 360o, que detecta objetos em movimento nas manobras de estacionamento. Na prática, entretanto, ela confunde um pouco a atenção do motorista, pois aparece ao lado da câmera de ré durante seu funcionamento. O sistema Nissan Connect também permite o emparelhamento de smartphones e o uso de aplicativos como Facebook e Google. O quadro de instrumentos também é multi-funcional, com tela TFT (colorida) de 7”, e faz sua estreia mundial em veículos Nissan. São 12 funcionalidades, entre elas conta-giros digital, consumo de combustível, bússola, informações de navegação e até controle do chassi.

Tudo é acessado por comandos no volante com “conceito joystick”. O painel com acabamento acetinado se completa com um volante de raio de giro reduzido e um airbag redesenhado para caber dentro do pequeno miolo, para melhorar a ergonomia. A posição de dirigir é realmente boa e fácil de encontrar, devido aos ajustes do banco e do volante em altura e profundidade. Os bancos são bastante confortáveis, pois utilizam a tecnologia Zero Gravity, desenvolvida pela Nasa sob encomenda da Nissan. O acabamento de couro pode ser preto ou ainda, opcionamente, nas cores cinza ou bege (custam R$ 500).

Rodando, o Kicks é bem macio. Dirigindo, ele tem uma condução suave. O motor 1.6 flex de 114 cavalos (com gasolina ou etanol) não faz do Kicks um campeão de aceleradas (leva 12 segundos para atingir 100 km/h). Seu motor perde feio para o 1.8 de 140 cv do Honda HR-V, que faz 0-100 km/h em 10s8. Mas a Nissan acredita que o Kicks será usado principalmente nas grandes cidades, por isso centrou seus esforços na economia de combustível e conseguiu nota B na classificação geral do Inmetro (o Honda tirou C). A confiança no baixo consumo é tanta que o tanque do Kicks tem apenas 41 litros (10 a menos que o HR-V). Na média cidade/estrada (55/45%), o Kicks faz 12,3 km/l com gasolina e 8,7 km/l com etanol.

Seu rival marca 11,2 com gasolina e 7,7 com etanol. O dono de um Kicks certamente vai gastar cerca de R$ 30 a menos com combustível a cada 1.000 km, porém terá de ir com maior frequência ao posto abastecer (70 km mais cedo com gasolina e 36 km com etanol, o que não é muito). O câmbio X-Tronic CVT do Kicks tem modo Sport e função D-Step, que simula trocas de marchas se o motorista dirigir com o pé mais fundo no pedal do acelerador. O foco no uso urbano e na manutenção mais barata também aparece na escolha da suspensão traseira (eixo de torção e não independente) e dos freios traseiros (tambor ao invés de disco).

Apesar disso, o Kicks SL tem itens importantes para rodar com segurança na estrada: controles de tração/estabilidade, estabilizador ativo da carroceria (reduz o sobe-desce da frente em pisos ondulados, o que é perigosíssimo), controle dinâmico em curvas (mantém o carro dentro da faixa) e controle automático do freio motor (evita freadas bruscas dentro das curvas em descida de serra). Apesar de ser pioneira na fabricação de crossovers e liderar as vendas mundiais do segmento, a Nissan está extremamente cautelosa com o Kicks. Temendo desconhecimento por parte do público, os executivos do Brasil optaram por chamar o carro de “SUV urbano”. Uma bobagem que acumula três erros. Tira dele a herança de uma dinastia de crossovers de sucesso: Murano (2003), Qashqai (2007), Juke (2010) e X-Trail (2014).

Reduz a qualificação do Kicks ao nível de versões aventureiras urbanas como o Volkswagen Cross Up e o Fiat Mobi Way. Remete ao conceito de utilitário esportivo com carroceria sobre chassi, ruim de guiar, do qual até picapes como a Fiat Toro e a Renault Oroch fugiram. E tudo isso num carro que tem a missão de fazer da Nissan uma “marca atrevida”. “Queremos ser reconhecidos como o japonês atrevido e não como o japonês chato”, segundo Arnaud Charpentier, diretor de marketing. Fora do Brasil, sem medo de usar o termo crossover (facilmente explicável como a junção de qualquer outra carroceria com um SUV), a Nissan já vendeu 6,6 milhões desses veículos desde o lançamento da primeira geração do Murano, há 13 anos.

Pouco atrevida também na opção de cores externas, a Nissan oferece o Kicks em preto (sem custo extra) ou em cinza, prata e branco (todas com custo de R$ 1.350, por terem pintura metálica ou perolizada). O teto laranja só está disponível na cor cinza e sai por R$ 2.500. Enquanto estiver sendo produzido no México, o Nissan Kicks será vendido apenas nesta versão SL por R$ 89.990. A série especial Rio, de 1.000 unidades numeradas, custa R$ 90.990 e é diferenciada pela cor (branca com teto laranja). A partir do final do ano, quando iniciar a produção na fábrica de Resende (RJ), devem chegar duas versões mais baratas e a Nissan espera vender pelo menos 30.000 Kicks/ano.

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Ficha técnica:

Nissan Kicks SL 1.6 CVT

Preço básico: R$ 89.990
Carro avaliado: R$ 93.840
Motor: 4 cilindros em linha 1.6, 16V
Cilindrada: 1598 cm3
Combustível: flex
Potência: 114 cv a 5.600 rpm (g/e)
Torque: 15,5 kgfm a 4.000 rpm (g/e)
Câmbio: continuamente variável (CVT) com função D-Step (seis marchas simuladas)
Direção: elétrica
Suspensões: McPherson (d) eixo de torção (t)
Freios: disco ventilado (d) e tambor (t)
Tração: dianteira
Dimensões: 4,295 m (c), 1,760 m (l), 1,590 m (a)
Entre-eixos: 2,610 m
Pneus: 205/55 R17
Porta-malas: 432 litros
Tanque: 41 litros
Peso: 1.142 kg
0-100 km/h: 12s0 (e)
Velocidade máxima: 175 km/h (e)
Consumo cidade: 11,4 km/l (g) e 8,1 km/l (e)
Consumo estrada: 13,7 km/l (g) e 9,6 km/l (e)
Nota do Inmetro: B
Emissão de CO2: 108 g/km (com etanol = 0 g/km)
Consumo nota: A
Classificação na categoria: A (Utilitário Esportivo Compacto)