08/09/2025 - 6:00
Confesso que não conhecia essa atual geração do Sentra. Quando o carro chegou por aqui, em 2023, alguns pontos me incomodavam: o uso de um motor 2.0 aspirado no lugar de outro turbo, preços de Corolla e o tal freio de estacionamento acionado pelo pé, como naquelas caminhonetes antigas (de fato, um incômodo). Mas, agora dei uma chance para esse sedan médio, e quase todas as minhas opiniões foram por água abaixo.
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Sentra Advance: quanto custa e o que oferece?
Essa versão das fotos é a Advance, de R$ 174,5 mil, que também oferece a melhor relação custo X benefício. Tem preço dos Corolla mais baratos, e já vem bem completo com bancos em couro, ajustes elétricos para o motorista, aquecimento de bancos dianteiros, ar digital automático, alerta de colisão frontal, frenagem autônoma de emergência, farol alto automático, monitores de ponto-cego, alerta de tráfego cruzado traseiro, rodas aro 17 diamantadas, sensor crepuscular, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, câmera de ré, conjunto óptico full-LED…ufa!
Mas, não só isso. A opinião de quem conheceu o Sentra foi quase unânime: o carro é bonito, estiloso, e chama a atenção por onde passa. Não tem as linhas meio “estranhas” do Novo Civic 11, nem tampouco o visual “batido” do Corolla. E, melhor: tirando alguns detalhes, a versão Advance parece muito a Exclusive topo de linha (que, inclusive, oferece pouco conteúdo extra e é R$ 24 mil mais cara!).
Ergonômico
Logo de cara, nota-se o quão bom pode ser um sedan médio. O posto de condução do Sentra, em que pese os sete anos dessa geração, passa na frente de qualquer SUV: os bancos são pra lá de confortáveis, e tudo parece estar onde deveria, incluindo pedaleira, ângulo da coluna de direção e volante. Esse, aliás, fica bem plano, com pouquíssima inclinação em relação ao motorista. Coisa de Audi e BMW.
A cabine é bem acabada e aconchegante. Tudo próximo, fácil de mexer, ainda que o painel de instrumentos mostre informações num português meio castelhano (o carro é feito no México), e a multimídia já sinta o peso da idade. Convence a posição de guiar não tão baixa, que permite melhor visibilidade, bem como o silêncio geral a bordo. Nessa versão, o sistema de som tem seis alto-falantes e qualidade razoável, nada muito além. Na Exclusive, são oito falantes assinados pela Bose.
Atrás, um tremendo espaço interno. Dois adultos viajam com pernas cruzadas ali, enquanto quem vai na frente nem precisa se apertar contra o painel. De fato, a vida a bordo do Sentra é das melhores: no banco traseiro o assoalho é quase plano, existem portas USB, iluminação dedicada e apoio de braço. Erro grave, apenas, deixar de fora dali as saídas de ar-condicionado. Lá atrás, o generoso porta-malas de 466 litros, como em todo sedan que se preze, é mais longo e largo do que alto.
Sentra Advance: testei (e gostei)
Esperava desse motor 2.0 de aspiração natural certa morosidade em giros baixos, com máxima entrega em rotações elevadas, até como sugerem os dados de ficha técnica: 151 cv de potência a 6.000 rpm e 20 mkgf de torque a altos 4.000 rpm, ambos com gasolina (tem esse pênalti, ele não é flex). Ainda mais contando com o gerenciamento da força por uma transmissão CVT que simula oito marchas. Estava errado…
O 2.0 aspirado rende como se fosse turbo em baixos giros. Desperta cedo, e conta com boa parte do torque ao redor dos 2.000 rpm. O Sentra encara subidas, faz ultrapassagens e ganha velocidade rapidamente nessa faixa de rotação. Bingo! Rodei 450 km com o carro entre cidade e estrada, e sequer cheguei perto dos tais 4 mil giros do pico de força. Não precisei. Nem com quatro a bordo.
Elogios a parte para a transmissão CVT, que parece muito mais uma caixa convencional. Zero “patinação”, ótima simulação das oito pseudo-marchas (inclusive com trocas manuais por paddle-shifts), modo Sport funcional e aliança de silêncio com suavidade que dificilmente não conquistam o público desses carros. Apesar de compartilhar o nome “XTronic” com os CVT de Kicks Play e Versa, essa transmissão está em outro patamar de dirigibilidade e funcionamento.
Ok, tudo bem. Esse motorzão 2.0 é grande, e apesar das evoluções técnicas (ganhou injeção direta de combustível, por exemplo), é de uma família antiga da Nissan, a MR, datada de duas décadas atrás. Em compensação, deixa feliz alguns conservadores que torcem o nariz para os pequenos motores turbo de hoje em dia, a exemplo do 1.3 TCe da Renault-Nissan, que muita gente pede para esse Sentra.
Honestamente, talvez fosse muito colocar os 170 cv e 27 mkgf num sedan desses. O consumo poderia ficar até mais alto com o 1.3 turboflex. Isso porque, nesse Advance 2.0, foi possível chegar a excelentes 16,5 km/l na estrada, com picos de 18,3 km/l nas melhores situações. Na cidade, rondou os 11,0 km/l, batendo os 13,0 km/l. Todas essas médias foram atingidas com o modo Eco ligado, vale falar. Só é preciso se acostumar com o limitado tanque de 47 litros. Mal de Nissan: Versa e Kicks Play tem 41 litros, e a nova geração do Kicks não passa dos 48.

Quem compra um Sentra quer conforto e bem-estar. Porém, nem por isso ele nega fogo numa tocada mais esportiva e dinâmica. Pelo contrário. Com baixo centro de gravidade, distribuição de peso inteligente, carroceria próxima do solo e pneus Michelin de primeira linha, ele encara curvas rápidas com a competência de poucos: mesmo nas mais fechadas, nem dava indícios de sair da trajetória, muito menos de sair do prumo.
Contribui para esse excelente resultado a direção com ajuste fino: precisa, rápida e direta, como em poucos SUVs (impossível não comparar). É daquelas que não tem assistência elétrica tão leve e anestesiada, focando mais na experiência de condução. Bacana!

Além disso, o carro freia bem com os discos nas quatro rodas e, com suspensões independentes, é também macio para encarar a buraqueira. As rodas traseiras com fixações separadas, e concepção multilink, são as mesmas que contribuem para essa dinâmica de carroceria que elogiei ali em cima. Tudo muito afinado num bom trabalho de engenharia, isso fica claro.
SUV é melhor pra buraqueira, lombadas altas e valetas? Sem dúvidas. Mais baixo, o Sentra sente mais esses obstáculos, o que requer mais cuidado na condução. Pode enroscar um parachoque, por exemplo. Mas, não há utilitário com tração dianteira que seja tão acertado quanto ele numa curva rápida, frenagem de emergência, desvio brusco de trajetória, ou mesmo numa ergonomia do motorista. Isso eu garanto.
Nissan Sentra: lembra dele?
Muito se ouve de consumidores querendo fugir dos SUVs para comprar um Corolla. Ou um BYD King, híbrido plug-in. Pouca gente acorda, toma café e decide ir até uma concessionária Nissan para fechar negócio num Sentra. Muitos desses até chegam na etapa três desse processo, mas acabam levando um Novo Kicks pra casa. Tá tudo bem…o mercado atual deixa os sedans de escanteio. Não tem jeito.

Segundo a Fenabrave, no primeiro semestre de 2025, 18,4 mil Corolla ganharam as ruas, enquanto o Sentra pouco passou dos 2,5 mil emplacamentos. Esse cara merece muito mais atenção, sem dúvidas.
E você, interessado num sedan médio 0 km, já pensou em sair da concessionária Toyota e dar um pulinho na Nissan? Vale a chance, hein?