PreviousNext

 

Ajusto o piloto automático para 70 km/h. Ao me aproximar de uma curva fechada, o A4 reduz para 50 km/h, sem que eu tenha feito nada. Viro o volante para contornar a curva, ainda sem tocar nos pedais, e quando ela acaba o carro retoma os 70 km/h. Um pouco adiante, uma placa alerta sobre a redução do limite para 50 km/h. O Audi lê esse sinal de trânsito e altera – de novo por conta própria – o ajuste do piloto automático, eliminando qualquer chance de eu ser multado por distração. Assim é o novo A4, um carro com tanta tecnologia embarcada que em certos momentos quase que dispensa o motorista.

Sem dirigir o carro, porém, os clientes distraídos podem achar que o novo A4 2016 ganhou só um facelift, um ajuste no design. Mas essa é de fato uma nova geração, a quinta (ou nona, se considerarmos as de seu ascendente/predecessor Audi 80, que nasceu em 1972). Nada menos que 90% das peças são novas – e sua plataforma MLB, inclusive, ganhou o sobrenome Evo. O modelo passou por uma verdadeira revolução – embora “uma revolução silenciosa”, como explica Victor Oliveras, gerente de desenvolvimento técnico do carro. E o engenheiro justifica as mudanças externas sutis: “O A4 tem uma imagem a manter, e é melhor mudar pouco a pouco”. Faz sentido. O sedã não virou fastback, “cupê de quatro portas”, não seguiu modismos. Preserva seus três volumes clássicos e bem definidos; as mudanças mais notáveis estão na grade maior, no capô mais vincado e nos novos faróis (bixenônio básicos, LED ou LED Matrix opcionais) e lanternas. E mesmo com essa sutileza na evolução de estilo, a marca aprimorou sua aerodinâmica: o coeficiente de forma (Cx) é 0,23, é o melhor da história da Audi.

Audi
Audi

Mudanças bem mais notáveis são vistas na cabine. “Um interior revolucionário”, se empolga Oliveras (e está certo). No design, referências ao esportivo TT: telas “dentro” dos botões do ar-condicionado e painel de instrumentos com tela de 12” configurável (Virtual Cockpit). Outra bela novidade é o phone box, no console (para conectar e carregar o smartphone – sem fio –, basta colocá-lo no console). A central multimídia ganhou conectividade com Apple CarPlay e Android Auto, e com um chip SIM, o A4 vira hotspot, mostra previsão do tempo, toca rádios da internet e exibe imagens do Google Earth no painel, entre outras coisas.  Alto-falantes (19!) da dinamarquesa Bang&Olufsen com  “áudio 3D” são opcionais.

 

Audi
A tela central é fixa e as saídas de ar cobrem quase toda a extensão do painel. O volante tem miolo menor

Já os sistemas de assistência ao motorista inéditos na categoria – como o citado no início do texto, que usa os mapas do GPS e sensores para não só aumentar a segurança como reduzir o consumo. “Prevendo” curvas, rotatórias e variações de limite, o A4 dirige do modo mais econômico, mais inteligente que o motorista. Além dele, há outras tecnologias antes encontradas só em carros mais luxuosos: alertas de colisão e mudança de faixa, monitores de ponto cego e de tráfico traseiro (quando se dá ré, ele avisa sobre carros vindo na transversal) e piloto automático adaptativo (ACC) com assistente de trânsito (acelerar, freia e, a até 65 km/h também controla o volante – mas o motorista não deve tirar as mãos dele (se o fizer por muito tempo, leva bronca).

 

Audi
O sistema de ajuda em congestionamentos usa radares e assume a direção do carro. Mas não vale tirar as mão do volante

E as mudanças vão além. No motor, a Audi reviu seu processo de downsizing (diminuição do tamanho do motor e adoção de turbo, como fazem atualmente quase todas as marcas) e a nova estratégia é de rightsizing (fazer o motor do tamanho certo). Se o A4 tinha trocado seu 2.0 (180 cv) pelo 1.8 (170 cv) no ano passado, agora voltou a ter um dois litros – porém novo e mais potente. São 190 cv e iguais 32,6 cv de antes, mas agora disponíveis de 1.450 a 4.200 rpm (quando começa a potência máxima). Mesmo assim, gasta menos até mesmo que o novo 1.4 de 150 cv (diferente do usado pelo A3 Sedan nacional). A versão 2.0 TFSI ultra avaliada é a que chega ao Brasil no primeiro trimestre de 2016, provavelmente sem o sobrenome ultra, nas versões Attraction e Ambiente (e a 1.4, de impressionante desenvoltura, pode chegar mais tarde). O segredo para economia sem dever esportividade – além do duplo sistema de injeção que o 1.8 anterior já tinha – é que agora a pressão do turbo aumentou para o motor trabalhar com fase de compressão mais curta e de expansão mais longa (similar ao ciclo Miller, o que possibilitou aumentar a taxa de compressão para 11,65:1). Para completar, o câmbio CVT (Multitronic) foi abandonado: agora o A4 é oferecido só com um ótimo manual de seis marchas (não no Brasil) ou com o dupla embreagem S tronic, também todo refeito.

Na prática, o que senti no test drive nos arredores de Veneza foi um desempenho mais que suficiente (0-100 em cerca de 7s3, contra 8s3 do 1.8 e 8s2 do antigo 2.0) com um consumo impressionante (que chega a 25 km/l na estrada – com gasolina pura no ciclo europeu). As trocas de marcha estão ainda mais rápidas e o comportamento da carroceria nas curvas melhorou, principalmente nas versões com controle de chassi (Audi Drive Select), que têm amortecedores adaptativos eletromagnéticos. Eles podem ficar rígidos ou macios conforme escolher o motorista. Mesmo sem esse opcional, as suspensões agora são de cinco braços (five-link) na dianteira e na traseira e ficaram mais leves, com amortecedores monotubo de liga de alumínio. Já a direção ficou mais comunicativa, menos artificial e – o melhor – tem o Dynamic Steering, que varia sua resposta de acordo com a velocidade e modo escolhido. Para completar, o nível de ruído caiu drasticamente – “equivalente ao do A8”, diz Oliveras.

Com essa revolução, o preço do A4 deve subir um pouco – passando a se iniciar na faixa ao redor de R$ 150.000 na versão Attraction, subindo para cerca de R$ 180.000 na Ambition e chegando a uns R$ 200.000 com as assistências ao motorista (pacote opcional).

No fim, se o A4 tinha ficado atrás dos rivais BMW Série 3 e Mercedes Classe C –  pois é o último desse trio clássico do luxo alemão a se renovar – chegou a hora de dar o troco. O A4 pode ainda não dar a mesma emoção ao volante que o primeiro, de tração traseira, mas está bem na frente em luxo e tecnologia. Em relação ao segundo, a dirigibilidade é similar, voltada ao conforto, mas o A4 também ganha em tecnologia. E de quebra consegue, com essa sua revolução, cumprir uma outra missão: se distanciar do irmão A3 Sedan, que tinha virado uma espécie de rival dentro de casa. Bela jogada da Audi.

FICHA TÉCNICA
Audi A4 Sedan 2.0 TFSI ultra S tronic
Preço estimado: R$ 150.000
Motor: 4 cilindros em linha, 16V, duplo comando continuamente variável, válvulas com variação de abertura (Valvelift), injeção direta e indireta, turbo, start-stop
Cilindrada: 1984 cm3
Combustível: gasolina
Potência: 190 cv de 4.200 a 6.000 rpm
Torque: 32,6 kgfm de 1.450 a 4.200 rpm
Câmbio: automatizado, sete marchas
Tração: dianteira
Direção: elétrica
Dimensões: 4,726 m (c), 1,842 m (l), 1,427 m (a)
Entre-eixos: 2,820 m
Pneus: 205/60 R16 (básico) / 225/50 R17 (opcional)
Porta-malas: 480 a 965 litros
Tanque: 54 litros
Peso: 1.480 kg
0-100 km/h: 7s3
Velocidade máxima: 210 km/h
Consumo cidade: 16,1 km/l (ciclo europeu)
Consumo estrada: 25 km/l (ciclo europeu)
Nota do Inmetro: não participa (ainda não homologado)