15/11/2023 - 9:50
Foi em 1992 que a Honda importou seus primeiros carros para o Brasil – Accord, Civic e poucas unidades do NSX (New Sportscar eXperimental). Este último, no mesmo ano, viraria o NSX-R, primeiro modelo do clã mais radical da marca. A partir daí, a letra R passou a nomear as variantes extremas de Accord, Civic e Integra. E, agora, depois de vender em nosso mercado o Civic VTi na década de 1990 e o Si nos anos 2000, a Honda finalmente nos brinda com o Type R.
Baseado na 11ª geração do sedã, custa exagerados R$ 429.900, mas traz o que há de melhor da engenharia nipônica. Em comum com o híbrido Civic e:HEV, só tem o nome e o som agudo da buzina – o resto foi modificado em prol do máximo prazer de dirigir. Seguindo a filosofia do alívio de peso e da técnica aprimorada, o Civic Type R surgiu na geração EK9, com o motor 1.6 aspirado B16, responsável por enviar 160 cv de potência (eram 100 cv/litro, com 0 a 100 km/h em 6,8 segundos).
Vinte e seis anos depois, temos esse “canhão” para acelerar, seja em track days, seja no cotidiano. Segundo a marca, o Civic Type R é o tração dianteira mais rápido do mundo (fez menos de 7’45” no circuito de Nürburgring, Alemanha).
+ ZR-V desembarca no Brasil para rechear linha de SUVs da Honda; confira
+ Compra do ano 2024 – Sedã Médio: Honda Civic
Visual invocado
A carroceria ficou mais baixa e larga – comparada à do anterior, cresceu 3,8 cm no comprimento, 3,5 no entre-eixos e 1,5 na largura, enquanto a altura foi diminuída em 2,8 cm. E todos os “exagerados” detalhes externos são, na realidade, funcionais.
O radiador ficou quase 50% mais eficiente graças ao fluxo de ar direcionado à tomada sobre o capô de alumínio, extratores laterais reduzem a turbulência e, por fim, a asa traseira com fixações em alumínio produza até 59 quilos de força descendente (downforce) a 200 km/h. As rodas
têm aro 19, pneus Michelin Pilot Sport 4S 265/30 ZR19 e exibem freios em duas peças da Brembo, com discos de 13,8”. Coisa de carro de corrida. Mas o Civic Type R não é de números vertiginosos, pois é um carro sensorial. Sob o capô, o motor 2.0 16V turbo com injeção direta vem da geração passada, é verdade, mas evoluiu muito: tem turbocompressor de baixa inércia e volante do motor aliviado, favorecendo a subida de giro e, portanto, a agilidade. Produz 297 cv – menos que os 319 do americano, devido ao nosso combustível – e 420 Nm, e é sempre combinado à caixa manual de seis velocidades.
Ainda assim, “nosso” Type R é um verdadeiro “jato”, com 0-100 km/h abaixo de seis segundos. O câmbio é uma obra de arte da engenharia, com engates incrivelmente curtos e precisos, e o pedal da embreagem tem acionamento leve, sem cansar a perna no trânsito pesado. É marcha em cima de marcha, e ele ainda faz punta-tacco automaticamente nas reduções. Andando a 60 km/h na cidade, ele não reclama nem pede giro. É até dócil se não for provocado – mas entrega um comportamento radical quando se pressiona mais o pedal da direita.
Lembro muito bem do comportamento dos Civic Si equipados com os 2.0 16V K20, 2.4 16V K24 e 1.5 turbo, o último deles vendido no Brasil. Mas, aqui, o buraco é mais embaixo, pela voracidade com que o Type R mostra as garras e faz o motorista grudar no encosto dos bancos esportivos a cada acelerada. Conforme devora o asfalto, mostra a magnífica calibração das suspensões, com uma dinâmica ímpar nas curvas contornadas rapidamente: a dianteira aponta precisamente, a carroceria não rola um milímetro, e o Civic mostra pouquíssima tendência de sair de frente. A direção é rápida no esterço e retorno e, nas trocas de marcha, ainda é possível ouvir a válvula de alívio do turbocompressor e o ronco produzido pelas três saídas de escape circulares assimétricas com controle ativo. São quatro modos de condução: Comfort, Sport, +R e Individual.
Eles alteram seis parâmetros: motor, direção, rigidez dos amortece dores, ronco do escape, punta-tacco e painel. No Comfort, as reações são comedidas, suspensões e direção ficam leves para o uso diário. O Sport é o meio termo, deixando a experiência divertida, mas é no +R que o Civic assume um comportamento mais direto e o ronco do motor muda.
Na pista com o Type R, altos e baixos. Na arrancada, as rodas dianteiras derrapam, a eletrônica atua, e ele deslancha… mas é preciso esperar para sentir toda a força: são “só” 250 Nm a 2.000 rpm, com o pico de 420 Nm vindo apenas 2.600 a 3.500 rpm – quando o motorista recebe um leve “soco” nas costas. Pouco depois, a shift light acende, junto da indicação sonora de que chegou à potência máxima aos 6.500 rpm, a linha vermelha aparecendo a 7.000 (saudade dos SI 2.0 aspirados que iam a 8.500 rpm… mas ao menos aqui há o dobro de torque). Seguem-se deliciosas mudanças de marcha no câmbio de alavanca e engates curtos, com precisão nipônica. Mas não é perfeito: pode ser o melhor e mais rápido esportivo de tração dianteira, mas, ainda assim, podemos dizer que é tracionado pelas rodas “erradas”. Até certo ponto – o que é extremamente surprendente, mostra neutralidade, com a traseira “acompanhando” elegantemente a dianteira. Mas, no limite, sobresterça. Não se esqueça de corrigir aliviando o pé, e não “dando motor” como se faria em um tração traseira – o que tira parte da diversão. E a sonoridade é frustrante: mesmo com a válvula de ajuste, é legal, mas não igual ao do Mercedes-AMG A35, também 2.0, com tração integral e mais rápido – e não tão mais caro. (Flávio Silveira)
Para uso em track days, o sistema LogR tem uma grande quantidade de informações exibidas na tela central de 9”, e também via aplicativo (iOS e Android). Ao todo, 12 itens podem ser exibidos: temperatura da água/externa/ar da admissão, ângulo da direção, taxa de yaw (direção de rotação), pressões atmosférica, de freio, óleo do motor e turbo e posição do pedal. Outros dados são força G de aceleração, frenagens e nas curvas.
Mesmos sendo um carro esportivo, o Type R não descuida de conforto e segurança. A lista inclui controlador de velocidade adaptativo, mitigação de colisão, sistema de permanência em faixa, luz alta automática, dez airbags, ESP e alertas de ponto cego e de tráfego cruzado traseiro. Com esse pacote, o preço sobe a R$ 434.900. Não é barato, mas veja-o como um presente: esqueça os números e concentre-se na experiência sui generis.
Honda Civic Type R
Preço básico: R$ 429.900
Carro avaliado: R$ 434.900
Motor: quatro cilindros em linha 2.0 16V, duplo comando de válvulas com variação na admissão e no escape, turbo, injeção direta
Combustível: gasolina Potência: 297 cv a 6.500 rpm
Torque: 420 Nm de 2.600 a 3.500 rpm
Câmbio: manual, seis marchas
Direção: elétrica
Suspensões: MacPherson (d) e multilink (t)
Freios: discos ventilados (d/t)
Tração: dianteira
Dimensões: 4,598 m (c), 1,890 m (l), 1,407 m (a)
Entre-eixos: 2,735 m
Pneus: 265/30 R19
Porta-malas: 337 litros
Peso: 1.451 kg
Tanque de combustível: 47 litros
0-100 km/h: 5s4
Velocidade máxima: 275 km/h
Consumo cidade: 8,8 km/l
Consumo estrada: 11,1 km/l
Nota do Inmetro: D (dados estimados)
Classificação na categoria: C (Esportivo)