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Santarém, no encontro dos rios Amazonas e Tapajós, inspira aventuras. De lá partem barcos para as mais isoladas regiões da Selva Amazônica, de lá turistas de todo o mundo seguem para Alter do Chão, onde uma linda praia de água doce aparece na época da seca. Acima de tudo, para os fãs de aventuras sobre rodas, foi lá que chegou em 1980 o primeiro Camel Trophy – rali off-road radical que explorava regiões inóspitas do planeta.
E foi de lá também que partiu a sua quinta edição, em 1984, a bordo de modelos Land Rover (como seriam 18 das 20 edições, sete delas com o Discovery de segunda geração).

Agora, como antes, a inspiração é a mesma: ir onde ninguém foi. Mas será que de verdadeiro modo de vida para aqueles aventureiros malucos esse lema virou puro marketing? Teria a essência do Discovery se perdido nessa terceira geração, que chega ao Brasil para enfrentar Volvo XC90, Audi Q7 e cia? Teria o “jipão raiz” virado um “SUV nutella” como tantos, que não fazem muito mais que levar as crianças à escola com conforto? A nova plataforma – que aposentou a construção sobre chassi com carroceria integrada e adotou um monobloco de alumínio espacial, ficando 480 kg mais leve –, além de certos mimos a bordo, levam a crer que sim. Mas a capacidade off-road não é uma coisa da qual a Land Rover abra mão facilmente. Foi o que esse SUV provou em estradas de terra e trilhas na selva. O Discovery, dizem os técnicos da marca, é hoje o mais capaz dos Land Rover.

De Santarém a Alter do Chão são 28 km em uma estrada de asfalto lisinho. Mas percorremos 154 km para chegar lá, porque, assim como nos Camel Trophy, mais importante do que origem e destino são os caminhos percorridos. E se aqueles aventureiros usavam 100% dos carros em trilhas imprevisíveis, os 40% da capacidade off-road do Discovery que usamos nesse “passeio” entre Santarém e Alter do Chão já impressionaram. O motor V6 turbodiesel tem ronco digno de V6 a gasolina, 258 cv e, mais importante, 61,2 kgfm de torque. É força de sobra para superar qualquer obstáculo. Ela é transmitida às quatro rodas pela caixa automática de oito marchas e um diferencial central com bloqueio eletrônico.

A interação entre eles – e com o motorista, por meio do volante e dos pedais –, é mediada pela eletrônica do sofisticado sistema Terrain Response, que adapta todo o chassi do utilitário-esportivo ao terreno escolhido. As opções são Normal,Grama/Cascalho/Neve, Lama/Buracos, Areia e Subida de Pedra (as versões de topo têm o Terrain Response 2, que adiciona o reconhecimento automático de terreno; nas demais, o “upgrade” é opcional por apenas R$ 800). Observando a selva ao redor e também acima, pelos dois tetos panorâmicos, seguimos em lento comboio. Uma chuva fora de época deixou trechos alagados.

Apertamos o botão para subir a suspensão a ar para a altura off-road: o curso é de 500 mm e o vão livre do solo chega a 29,3 cm (14,5 acima da altura normal). Os primeiros 7,5 cm o motorista faz subir; os últimos 7 cm o carro eleva sozinho quando “entende” estar em situação extrema. E enfim, aquela água toda não foi nada para o Discovery, ainda mais considerando que sua capacidade de imersão máxima é de 90 cm. Chuva também significa lama, outro desafio superado, com um pouco menos de facilidade. Na verdade, era para ser um trecho só de erosões (“facões”) e o iniciamos no modo Subida de Pedra (suspensão elevada para maiores ângulos de ataque e saída, reduzida ativada).

Em uma ladeira mais lamacenta, porém, os pneus “mistos” de série não ajudaram nada e o carro da frente teve dificuldade para subir. Mudamos nosso seletor para o modo Lama/Buracos, que prioriza a tração em superfícies de baixa aderência, e subimos com facilidade. O legal é que a tela de 10,2” da central multimídia (8” na versão básica) mostra em detalhes tudo que acontece com o SUV: posição das rodas, perda de aderência, movimentação da suspensão, bloqueio do diferencial… Mais tarde, com o sol quente em um trecho seco perto do leito do Tapajós, dispensamos a reduzida e seguimos no modo Areia, que evita trocas de marcha e deixa o acelerador bem mais “lerdo” que o normal, justamente para levar o torque às rodas mais lenta e progressivamente. Moleza.

O consumo nas trilhas foi de bons 6 km/l, e na estrada, de razoáveis 11 km/l. Ah, e para levar as crianças à escola (onde quer que ela seja), além de muito espaço e sete lugares (com acionamento elétrico dos assentos e das duas tampas do porta-malas), claro que há tudo que um modelo de R$ 363.000 a R$ 429.000 deve ter. Várias tomadas USB, assoalho plano, porta-objetos, ar-condicionado de quatro zonas, alerta de ponto cego e até geladeira… faltam só recursos semi-autônomos e Android Auto/Apple CarPlay. Enfim, esse novo Discovery é um supercarro de família. Mas também um supercarro para a família: troque os pneus e estará pronto para encarar um Camel Trophy.


Testando os limites

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Depois da aventura na selva, fomos testar os limites do Discovery em uma pista de testes feita sob medida para mostrar tudo do que o carro é capaz. As valetas testavam os ângulos de ataque e saída (34o e 30o, respectivamente, com a suspensão elevada) e uma rampa testa os limites de inclinação: em um ponto o SUV encarava, quase simultaneamente, uma subida de 28o e uma inclinação lateral de 23o. Havia também uma “caixa de ovos” que parecia mais de ovos de elefante, verdadeiras crateras. É, a trilha podia ter sido mais difícil.


Ficha técnica:

Land Rover Discovery HSE

Preço básico: R$ 363.000
Carro avaliado: R$ 389.000
Motor: 4 cilindros em V 3.0, 24V, turbodiesel
Cilindrada: 2993 cm3
Combustível: diesel
Potência: 258 cv a 3.750 rpm
Torque: 61,2 kgfm de 1.750 a 2.250 rpm
Câmbio: automático sequencial, oito marchas
Direção: elétrica
Suspensões: duplo A de curso longo (d) e multi-link (t), molas pneumáticas, ajuste de altura
Freios: discos ventilados (d/t)
Tração: integral, reduzida, bloqueio eletrônico do diferencial, seletor de terreno
Dimensões: 4,970 m (c), 2,073 m (l), 1,846 m (a)
Entre-eixos: 2,923 m
Pneus: 255/55 R20
Porta-malas: 258-926-2.406 litros (sete-cinco-dois passageiros)
Tanque: 85 litros
Peso: 2.230 kg
0-100 km/h: 8s1
Velocidade máxima: 209 km/h
Consumo cidade: 8,7 km/l
Consumo estrada: 10,3 km/l
Nota do Inmetro: E
Emissão de CO2: sem dados
Classificação na categoria: E (Utilitário Esportivo Grande)