No Salão de Paris de 1901, Ferdinand Porsche, em parceria com uma empresa austríaca chamada Lohner, revelou o Semper Vivus (“Sempre Vivo” em latim). Depois disso, um período de longos 122 anos separou o primeiro carro híbrido da história do Porsche Panamera 4S E-Hybrid aqui ao lado. Mais próximo do 911 do que nunca, ele encanta não só pelo consumo, mas, principalmente, pela experiência ao volante. Sua esportividade vem do motor V6 2.9 turbo associado a um propulsor elétrico, com uma condução marcada pela exatidão e por uma incrível capacidade de serpentear nas curvas, como se sua carroceria não tivesse mais de cinco metros de comprimento. Tudo é muito bem pensado, projetado, calibrado e afinado.

Na traseira, ao tradicional nome do carro, aparecem o sobrenome 4S, que indica a tração integral, e o e-hybrid: o verde é uma referência a ser “ecológico”

À incontestável usabilidade dos Porsche, seja dos 718 ou do próprio 911, aqui soma-se a praticidade das portas extras – à época do lançamento, ele dividiu os puristas, e ainda desagrada a alguns. Mas lembremos do 356 alongado (Type 530) e dos estudos de variantes de quatro portas do 911, do 928 e do projeto 989. Este Porsche oferta muito espaço para as pernas e joelhos de quem vai atrás, graças aos generosos 2,950 m de entre-eixos, ao passo que o porta-malas vai de 403 a 1.242 litros (ao rebater o banco). A tampa motorizada facilita abertura fechamento, mas parte considerável da capacidade é sacrificada tanto pelo estepe quanto pela bolsa contendo os cabos para o carregamento do sistema híbrido.

Porsche Panamera
O aerofólio sobe em alta velocidade, mas pode ser acionado a qualquer hora

A posição de dirigir baixa remete à do 911 e, à esquerda do painel, fica a chave física para dar a partida – herança dos modelos das 24 Horas de Le Mans. Ergonomicamente irretocáveis, os comandos estão sempre à mão, sendo o quadro de instrumentos 100% digital e configurável, enquanto o volante de aro fino traz o seletor giratório dos modos de condução, e a tecla Sport Response ao centro. Mas o sistema multimídia, de novo, podia ser mais intuitivo de operar e ter conectividade com Android Auto (só há Apple CarPlay).

Powertrain híbrido

O casamento do motor a gasolina V6 2.9 turbinado com o elétrico gera um total de 560 cv de potência e brutos 750 Nm (76,5 kgfm) de torque. Ora usando gasolina, ora eletricidade, um verdadeiro balé mecânico se junta à esplêndida transmissão de dupla embreagem PDK (Porsche Doppelkupplungsgetriebe), permitindo levar as mais de duas toneladas do cupê de quatro portas da imobilidade até os 100 km/h em 3,7 segundos, com 298 km/h de máxima.

A partida é seguida de um silêncio absoluto, e o motor elétrico movimenta o Porsche sozinho em velocidades constantes/baixas ou em manobras, por exemplo – quando o único barulho emitido é o dos largos pneus Continental 275/35 R21 na dianteira e 325/30 R21 na traseira – para uma pegada mais esportiva.

Estão disponíveis modos de condução E-Power, Hybrid Auto, Sport e Sport Plus. O primeiro usa apenas a energia armazenada no conjunto de baterias de íons de lítio e permite um alcance máximo de 54 quilômetros sem emitir um grama de poluentes. As respostas são instantâneas, ao menor toque no pedal do acelerador. No modo Hybrid Auto, o cérebro eletrônico do Panamera decide qual dos motores irá atuar, indo do silêncio dominante ao ronco arrebatador emitido pelas quatro saídas de escape (pela central multimídia, é possível acionar o sistema de escape esportivo, assim como a asa traseira). É neste modo que o Porsche mostra sua eficiência – durante frenagens e desacelerações, a energia é recuperada, ajudando a carregar a bateria. Com ela cheia, registramos médias urbanas de incríveis 27 km/l (sem trânsito), e depois, de 15 a 18 km/l com congestionamentos moderados, sempre com o ar-condicionado ligado.

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Atrás, comandos separados do ar e espaço para dois, devido ao alto túnel central. Os bancos são ótimos, mas estepe e carregador roubam espaço do porta-malas

Assim como em alguns híbridos da Volvo, este Panamera tem os modos E-Hold, que preserva a carga da bateria para ser usada posteriormente, em momento mais adequado, e o E-Charge, que utiliza o motor a combustão para aumentar a carga da bateria durante os deslocamentos.

Mesmo entregando um consumo magnífico, o Panamera não nega fogo em nenhuma situação: a coisa muda muito de figura no modo Sport, mas o Sport Plus é ainda mais arrojado. Ao selecioná-lo, a suspensão abaixa automaticamente e a direção assume uma calibração mais firme – não ao ponto de incomodar no uso cotidiano. Basta tomar cuidado ao transpor valetas e lombadas, por causa da menor altura em relação ao solo.

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Acima, a aleta de subir marcha e o seletor de modo de direção no volante. Ao lado, a alavanca de câmbio rodeada de ajustes mecânicos e a miniatura do mapa no cluster. Abaixo, telas do confuso sistema de infotainment

A ótima afinação do conjunto permite entrar muito rápido em curvas: a dianteira aponta com extrema facilidade. Colado ao chão e com um baixo centro de gravidade, não mostra tendência de sair de frente nem de traseira. A ótima dinâmica é ajudada pela tração integral, enquanto seus freios são muito potentes, slotados e perfurados. Ao pressionar a tecla Sport Response, o Porsche se configura para entregar o máximo desempenho possível por 20 segundos: torna-se visceral, e a sensação ao afundar o pé no acelerador é de levar um soco na boca do estômago! Cuidado.

No fim das contas, sem abrir mão da mística que faz um Porsche ser um Porsche, o Panamera consegue oferecer a praticidade das quatro portas aliada a um consumo encantador – isso tudo sem abrir mão do desempenho magnífico dos modelos da mais icônica marca de esportivos alemã.Porsche Panamera

Porsche Panamera 4S E-Hybrid

Preço básico R$ 749.000
Carro avaliado R$ 775.906

Motores: seis cilindros em “V” 2.9, 24V, turbo, injeção direta, duplo comando, variação na admissão e escape + elétrico
Cilindrada: 2894 cm3
Combustível: gasolina + bateria (híbrido plug-in)
Potência: 440 cv de 5.650 a 6.600 rpm + 136 cv = 560 cv
Torque: 550 Nm de 2.000 a 5.500 rpm + 400 Nm = 750 Nm
Câmbio: automatizado, oito marchas, trocas sequenciais
Direção: elétrica
Suspensões: braços sobrepostos (d) e multilink (t), pneumáticas
Tração: integral
Dimensões: 5,049 m (c), 1,937 m (l), 1,423 m (a)
Entre-eixos: 2,950 m
Pneus: 275/35 R21 (d) e 325/30 R21 (t)
Porta-malas: 403 a 1.242 litros
Tanque: 80 litros
Peso: 2.225 kg
0-100 km/h: 3s7
Velocidade máxima: 298 km/h
Consumo cidade: 18,3 km/l
Consumo cidade: 18,7 km/l
Emissão de CO2: 61g/km
Consumo nota: A
Nota do Inmetro: A
Classificação na categoria: A (Esportivo)