Texto adaptado Flávio Silveira
Reportagem Marco Rocca

Foi antes da virada do milênio – 1996 na Europa, 1999 no Brasil – que nasceu a febre das minivans, hoje totalmente superadas pelos SUVs. A Renault Mégane Scénic – e, depois, sua arquirival Xsara Picasso e outras – faziam sucesso por aliar dimensões externas de carros compactos (4,16 metros de comprimento no caso da Scénic, o mesmo que tem um Chevrolet Onix hoje) à habitabilidade de carro maior, graças ao teto alto e ao bom uso do espaço. Quase três décadas depois, o modelo, que perdeu o nome Mégane pelo caminho, também abriu mão do acento no “e”, e segue o caminho do hatch e começa uma nova vida como E-Tech. Sim, agora é um BEV (veículo elétrico a bateria), e as formas de minivan dão lugar às de um crossover-SUV, sem abrir mão do espaço e da versatilidade. E de mobilidade adequada: a versão com bateria de 87 kWh (60 na básica) promete 625 km de autonomia no superotimista ciclo WLTP europeu.

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Sobre o espaço:
• porta-malas tem 549 litros, contra 506 litros da antiga minivan.

• A distância entre-eixos de 2,78 metros e o assoalho plano típico dos elétricos deixam o banco traseiro bem confortável.

• Tudo isso com menos de 4,50 metros de comprimento, para facilitar as manobras na cidade.

Como no caso do Megane, não há couro nos bancos, mas os materiais agradam aos olhos e ao toque. No geral, a percepção é de ótima qualidade: o design é intrigante, os acabamentos são refinados e há muitos porta-objetos pela cabine, como o que fica entre os bancos dianteiros.

Acima, o painel com o esquema e L invertido que combina quadro de instrumentos de 12,3” e o sistema de infoentretenimento de 12”, sob o qual fica o carregador de celular por indução – abaixo, bem ao lado do sistema “escondido” no apoio de braço traseiro para os passageiros encaixarem tablets e celulares (Crédito:Divulgação )

Os controles no volante são um tanto peculiares: um botão redondo altera os modos de direção e as aletas no volante escolhem entre quatro níveis de regeneração.

Mas o lado direito da direção acabou ficando meio cheio demais: acima, a alavanca do câmbio, depois os comando dos limpadores de para-brisa e, mais abaixo, do áudio – é preciso memorizar bem as posições.

A interface do sistema de infoentretenimento, por outro lado, é intuitiva e rápida. O interessante é que, por ser baseado no Android Automotive, ele oferece uma experiência mais próxima daquela de um smartphone, com uso mais intuitivo, e adota o Google Maps como navegador.

Quem viaja no banco traseiro, além de bastante espaço, tem funções úteis em viagens. Os encostos dos bancos dianteiros, por exemplo, têm bolsos pra guardar objetos.

Mas o destaque fica escondido no apoio de braço: chama-se Ingenius e tem dois suportes ajustáveis, que se abrem como um canivete, pra apoiar tablets ou smartphones pra ver sua série favorita. Há, ainda, entradas USB-C e porta-copos, além de uma gaveta forrada pra esconder o tablet.

Ao volante

O francês logo de cara já conquista pelo conforto. Os amortecedores filtram o asfalto impecavelmente, o ruído de rolamento é quase nulo e não há efeitos sonoros para o motor. Apenas um silêncio total, pelo menos até atingir velocidades mais altas, quando há um farfalhar perceptível na zona das colunas e dos retrovisores.

Também gostei da direção direta: é preciso virar pouco o volante, o que dá uma sensação gostosa de agilidade.

No geral, o novo Scenic (agora “ele”) é agradável de guiar, mesmo em curvas fechadas – a massa só começa a ser sentida quando se acelera demais.

(Divulgação)

(Divulgação)
(Divulgação)
(Divulgação)

A bateria maior que a do Megane E-Tech vendido hoje no Brasil é um ponto positivo, já que uma das poucas críticas que fizemos aqui ao excelente irmão, também um crossover-SUV, foi em relação à sua baixa autonomia. E, como a proposta aqui é bem mais familiar, é natural que o novo Scenic oferece menos esportividade ao volante

Na balança, porém, a bateria pesa e ele soma mais de 1.800 quilos, o que no mundo a combustão é muito, mas, no elétrico, até que é um resultado bom. E isso se reflete positivamente no consumo (os dados oficiais europeus falam em 6 km/kWh) e nas acelerações: a entrega dos 220 cv é incisiva e encorpada logo de cara, o que é ótimo para o uso urbano, mas vai se suavizando à medida em que a velocidade aumenta.

É uma personalidade que combina bastante com a natureza descontraída e voltada ao conforto o crossover francês – que pode chegar no Brasil ainda este ano, dentro da estratégia da renovação da marca Renault.

Renault Scenic E-Tech

Preço (Europa)R$ 270.000
Preço (Brasil, Estimado)R$ 290.000

Motor: elétrico, dianteiro, síncrono, rotor bobinado
Combustível: eletricidade
Potência: 220 cv
Torque: 300 Nm
Câmbio: automático, caixa redutora fixa com relação fixa
Direção: elétrica
Suspensões: MacPherson (d) e multilink (t)
Freios: discos ventilados (d) e discos sólidos (t)
Tração: dianteira
Dimensões: 4,57 m (c), 1,86 m (l), 1,57 m (a)
Entre-eixos: 2,78 m
Pneus: 195/60 R18
Porta-malas: 549 litros
Bateria: íons de lítio, 87 kWh
Peso: 1.860 kg 0-100 km/h: 7,9 segundos
Velocidade máxima: 160 km/h
Consumo médio: 6,0 km/kWh (Europa)
Autonomia: 625 quilômetros (na Europa)
Recarga máxima: 7,4 kW AC (22 opcional) e 150 kW DC