O novo Suzuki Jimny Sierra 2020 não é o que nos acostumamos a chamar de SUV compacto. Nada a ver. Não é um utilitário-esportivo compacto porque SUV compacto hoje, graças aos marqueteiros e ao mercado, virou outra coisa. Qualquer coisa. Com raríssimas exceções, são crossovers, “SUVs de shopping”. A coisa hoje se desfigurou de tal modo que, embora seja o único legítimo SUV compacto do mercado, tecnicamente falando, o Jimny nem está na categoria Utilitário Esportivo Compacto do Programa de Etiquetagem Veicular do Inmetro – que inclui até Renault Kwid Zen. É Fora de Estrada Compacto, categoria criada para esses modelos “raiz”, com tração 4×4. 

Entre os modelos compactos, uma das melhores exceções ao domínio dos “SUVs de shopping” é o Jeep Renegade. Teoricamente, a rigor, não seria um SUV na acepção antiga por usar monobloco. Mas, com chassi reforçado e formas quadradas, se sai um belo SUV nas versões a diesel com tração 4×4 (hoje muitos SUVs com monobloco são aceitos como “de verdade” – vide a linha Land Rover, que perdeu a construção sobre chassi, mas não a valentia).

VERSÕES, PREÇOS E EQUIPAMENTOS

O Suzuki Jimny Sierra 2020 vem importado do Japão em três versões e, exclusivamente no Brasil,  não aposenta o Jimny atual – que é nacional, menos potente e bem mais barato, na faixa de R$ 74 mil a R$ 92 mil, sempre com câmbio manual de cinco marchas. Confira aqui a última avaliação que fizemos dele.

Já este novo Jimny Sierra 2020 tem sempre o novo motor 1.5 16V de 108 cv, desde a versão básica 4You, que pode vir com câmbio manual, por R$ 103.990, ou, pela primeira vez, com uma caixa automática – um pedido constante dos fãs do modelo –, a partir de R$ 111.990.

O Jimny Sierra 4You manual custa R$ 103.990 e já vem com faróis de neblina, caixas de roda pretas, retrovisores externos elétricos, ar-condicionado manual, banco traseiro bipartido, ajuste de altura do volante, comandos de áudio no volante, maçanetas internas cromadas, porta-copos e tomada USB no console central, tomada 12V no console central, vidros e travas elétricas. Em segurança, tem os obrigatórios airbags e ABS, auxílio de partida em subidas (HSA) e assistente em descidas (HDC).

O Jimny Sierra 4You automático custa R$ 111.990 e soma a transmissão sem pedal da embreagem, única opção no Jimny Sierra 4Style avaliado, que tem preço de R$ 122.990. Esta versão topo de linha traz, ainda, acendimento automático dos faróis, que passam a ser de LED com projetor, lavador de faróis (para tirar a lama), maçanetas externas na cor da carroceria, ajuste de altura dos faróis, retrovisores externos preto brilhante, além de um eficiente ar condicionado automático digital, luggage box, tomada 12V no porta-malas, regulador de velocidade e volante revestido em couro. No pacote de segurança, soma-se a câmera de ré.

Apesar do conceito “raiz” e da valentia da construção, assim como o Jimny Sierra ganhou um câmbio automático, todas as suas versões também têm uma central multimídia moderna, compatível com Android Auto e Apple CarPlay, que é instalada no Brasil. É completa, mas podia ter mapas off-line, para uso off-road, onde o sinal do celular não chega, e botões giratórios em vez dos comandos de volume e faixa/estação por toque (os comandos do volante, claros e diretos, resolvem isso, ao menos para o motorista). Bancos em couro podem ser somados a qualquer versão por cerca de R$ 1.200. E qualquer versão, menos a preta, pode ter teto preto por R$ 1.350 extras.

HERDEIRO DO SAMURAI

O Jimny nasceu no japão com este nome ainda em 1970, e teve vários outros pelo mundo. Aqui, chegou em 1991 como Samurai com motor 1.3 de 62 cv. Em 1998 virou Jimny e ganhou um motor 1.3 de 85 cv. De 2003 a 2008, a Suzuki ficou fora do Brasil. Em 2008, voltou a ser importado, com acionamento elétrico do 4×4, e depois passou a ser feito em Itumbiara, Goiás, e então Catalão, no mesmo Estado, onde continua em produção na HPE Motors, que também fabrica os Mitsubishi nacionais. A marca luta para conseguir nacionalizar também este Jimny Sierra em alguns anos.

O novo Suzuki Jimny Sierra bebe dessa história: seu premiado design retrô reune os faróis da primeira geração, as lanternas da segunda e a grade da terceira –, o deixando ainda mais charmoso e simpático. As linhas quadradas e retas ajudam o motorista a sentir as dimensões do carro, bastante contidas dada a origem de kei-car japonês. São 3,645 m de comprimento (3,5 cm menos que um Kwid) e largura de 1,645 m (6 cm mais que no Renault). Dimensões que trazem vantagens tanto para o uso na cidade quanto no off-road.

PESSOAS OU BAGAGEM?

Claro que, com dimensões compactas, a cabine não seria espaçosa. Motorista e passageiro dianteiro não têm do que reclamar, a não ser das ausências de ajustes de altura do banco e de profundidade do volante. Ainda assim, a ergonomia é boa e os bancos estão mais confortáveis: rodamos o dia inteiro por trilhas, cidade  estrada e não sentimos nenhum desconforto. A grande área envidraçada ajuda a dar sensação de espaço, e o acabamento é bem feito, porém simples, em plástico duro – o que facilita a limpeza.

Já viajar no banco de trás é mais sofrido – não por causa das suspensões, que transmitem um conforto surpreendente considerando sua construção raiz, com eixo rígido “3-link” e molas helicoidais. O problema está no encosto do banco muito vertical e na falta de espaço para as pernas, pois o assoalho é alto. Normalmente donos de Jimny rebatem ou um ou os dois bancos, o que deixa o assoalho reto quando se tem o opcional luggage box (uma caixa removível que encaixa ali. Só assim para ter porta-malas: o espaço é de 835 litros (até o teto, com pontos nas laterais para fixar cargas). Sem rebater os bancos, cabem só duas ou três mochilas, das magrinhas. O bom é que o teto é preparado para levar cargas, dispensando barras longitudinais: bastam barras transversais para levar carga (a marca as venderá em breve).

NA TRILHA, PURA DIVERSÃO

Famoso pela valentia em trilhas, o Jimny Sierra é 50% mais rígido que o antecessor, pois adotou novas travessas no chassi – uma atrás do motor, outra, em X, que suporta a caixa de transferência do 4×4 (em V no Jimny atual) e mais uma bem atrás do chassi, no “fim” do carro. Esse tipo de construção garante máxima resistência “às torturas” da trilhas.

Na fazenda Guaxinduva, no interior de São Paulo, comecei meu teste nas trilhas estreitas em meio à mata fechada. As trilhas não eram tão difíceis, e o uso da reduzida foi mais para teste do que por necessidade. Multiplicando a relação, ela “dobra” o torque do motor a gasolina – normalmente de tímidos 14,1 kgfm. Ainda assim, mesmo sem ela, como o carro é leve, vai bem: superou ladeiras e valetas sem reclamar.

Foto de Flávio SIlveira
Torturando suspensão e tração do Jimny Sierra no teste em X do sistema de bloqueio eletrônico do diferencial

Em uma manobra mais difícil, atravessando um barranco na diagonal, em X, e travando o fundo o carro nele,  entrou em ação o LSD da tração AllGrip Pro – que tem o diferencial de deslizamento limitado (eletrônico, não há bloqueio mecânico) programado para o uso 4×4: a até 30 km/h no modo 4×4 ele bloqueia o “diferencial” e redistribui a tração em instantes, saindo da enrascada.

A tração 4×4 de uso temporário voltou a ser acionada por alavanca, a pedido dos consumidores fãs de off-road, que não se sentem tão seguros com o sistema eletrônico do “só Jimny” atual. A passagem do 4×2 (tração traseira) para o 4×4 pode ser feita a até 100 km/h (para a reduzida, é preciso parar e colocar em N). De novo, há ainda o auxílio em descidas (HDC): basta soltar o carro que ele desce o morro sozinho, limitando a velocidade a 10 km/h – ou 5 km/h, se a reduzida estiver engatada.

O sistema funciona muito bem, e não faltou aderência ao jipinho mesmo com os pneus que parecem de asfalto – mas são todo-terreno. A distância do solo é de 21,4 cm, e mesmo sem o snorkel, o Jimny Sierra supera trechos alagados de até 60 cm e profundidade. São 37 graus de ângulo de ataque e 49 graus de saída. Sim, o Jimny passa em quase qualquer lugar. E com um conforto surprendente, tudo considerado.

NA ESTRADA, O PREÇO A PAGAR

Se na trilha o Jimny Sierra é brilhante e o câmbio de quatro automático de quatro marchas atende bem, na estrada, voltando para São Paulo, o Jimny mostra parte do preço a pagar pela construção raiz, pelo design quadrado e etc. A 120 km/h, limite da estrada, o conta-giros marca quase 4.000 rpm, e fazem falta mais algumas  marchas – principalmente nas retomadas, por causa da excessiva distância entre as relações da segunda e da terceira marchas (em algumas situações, o botão overdrive off ajuda, mas o motor grita. Também falta opção manual – apenas da para limitar o funcionamento só à primeira marcha (modo L) ou às duas primeiras (modo 2).

A direção elétrica levinha que tanto agradou na trilhas passa uma certa sensação de falta de segurança na estrada, e a oscilação da carroceria com os ventos laterais é grande. Para piorar, o consumo é alto: segundo o Inmetro, o Jimny Sierra faz 10,2 km/l na estrada, menos que os 10,3 da cidade (a 120 km/h, ficamos em 9,7 km/h de média, já andando a 100 km/h, fizemos razoáveis 12,5 km/l). A nota de consumo é A porque a categoria é mais de grandalhões.

De qualquer modo, não é que não dê para pegar estrada: é só andar um pouquinho mais devagar que ele vai bem, e bem melhor que o modelo atual. A estrada é o pior cenário para o Jimny; não é um veículo para  ficar pegando estrada toda hora, mas também não precisa evitá-las a qualquer custo. Pode seguir sem medo.

NA CIDADE, ALTOS E BAIXOS

E na cidade? Foi onde terminamos nosso teste: nas marginais, no trânsito pesado de São Paulo. A altura elevada da carroceria ajuda a ver os obstáculos adiante e da uma sensação extra de segurança. Você ainda pode passar sem absolutamente nenhuma dó por buracos e valetas, e certamente se a cidade começar a alagar com as chuvas de verão, você estará entre os motoristas menos preocupados com os alagamentos. Ainda de positivo, a visibilidade é ótima, graças à boa área envidraçada e aos generosos retrovisores externos.

O câmbio de poucas marchas que atrapalha na estrada não atrapalha tanto no cenário urbano – onde agora os fãs do Jimny podem ter o conforto de não ficar trocando de marchas. Pena que o sistema de direção, apesar de agradar pela leveza, seja bastante lenta, requerendo mais cuidado em mudanças bruscas de faixa.

OPÇÃO ÚNICA

Depois de um dia inteiro de contato com o Jimny Sierra, comprovamos que ele continua sendo um bom e velho SUV compacto. Não esses SUVs compactos de hoje, nutella, mas um bem raiz, para quem curte trilhas de verdade e vai colocar o carro para ser desafiado. Não há nada igual no mercado com essa combinação de charme, valentia. Claro que não é um carro que se compre pela razão. Custa caro, é pequeno, gasta bem…

Mesmo que você tenha “”necessidades off-road”, a razão mandará você comprar um Jeep Renegade e diesel, muito mais espaçoso, muito mais forte e potente, ou até mesmo uma picape. Mas nada disso se parecerá com o Jimny Sierra, que é uma opção única.

 

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FICHA TÉCNICA

Suzuki Jimny Sierra 4Style
Preço básico: R$ 103.990
Carro avaliado: R$ 122.990
Motor: 4 cilindros em linha 1.5, 16V, comando variável
Cilindrada: 1462 cm3
Combustível: gasolina
Potência: 108 cv a 6.000 rpm
Torque: 14,1 kgfm a 4.000 rpm
Câmbio: automático, quatro marchas, modos 2 e L
Direção: elétrica
Suspensão: eixo rígido 3-link com molas helicoidais (d/t)
Freios: disco sólido (d) e tambor (t)
Tração: 4×2 (traseira) ou 4×4, com reduzida
Dimensões: 3,645 m (c), 1,645 m (l), 1,725 m (a)
Entre-eixos: 2,250 m
Pneus: 195/80 R15
Porta-malas: 120 litros (estimado); até 835 com bancos rebatidos
Tanque: 40 litros
Peso: 1.095 kg
0-100 km/h: 12 segundos (QRT)
Velocidade máxima: 150 km/h (QRT)
Consumo cidade: 10,3 km/l
Consumo estrada: 10,2 km/l
Emissão de CO2: 131 g/km
Nota do Inmetro: C
Classificação na categoria: A (Fora de Estrada Compacto)