Por  Rafael Poci Déa

Não é a primeira vez que a Porsche nos brinda com uma perua. Como não lembrar o carro-conceito 928 S4 H50 de quatro portas de 1987 ou o Panamera Sport Turismo? Mas aqui falamos de algo diferente: da união das formas de perua com o estilo “aventureiro” tão desejado pelos consumidores de SUVs. Tudo junto e misturado, mas sem abrir mão da esportividade, sem adotar as linhas dos onipresentes utilitários-esportivos.

Esta perua serve como um respiro não apenas neste especial de SUVs, mas, principalmente, nas ruas e na garagem do apaixonado por carros, que dirige pelo prazer ao volante – e sempre vai preferir um sedã, hatch ou SW a um utilitário alto, que não se comporta tão bem em curvas. Um cliente que deseja estar sempre no controle do carro, e não se interessa por direção autônoma. Neste caso, ele vai ter que abraçar ao menos a eletrificação, pois o Taycan Cross Turismo não traz o tradicional motor boxer (com cilindros contrapostos) ou o V8 do Cayenne. Ainda assim, vai de 0-100 km/h em 4,1 segundos – graças à força dos dois motores elétricos, um por eixo – e sem emitir (diretamente) poluentes na atmosfera.

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Com estilo mais exótico em do que estamos acostumados a ver no universo da Porsche, a SW tem faróis semirretangulares, que contrastam com os circulares do 911 e da dupla Cayman e Boxster, enquanto sua silhueta elegante, aliada ao caimento suave do teto, revela uma carroceria que é muito bem plantada no chão, apesar dos 4,974 metros de comprimento e 2,904 metros de entre-eixos.

Algo diferente no ar: é quase uma perua, mas com o estilo “aventureiro” dos SUVs

INTERIOR

• Ao abrir a porta, a posição de dirigir perfeita pode ser ajustada rapidamente, com o volante a 90º, como em todo bom Porsche (e como em um carro de corrida).

• Diante dos olhos do motorista, o quadro de instrumentos com tela curva é totalmente digital e muito bonito, mas há uma pequena falha: o sistema multimídia tem interface só para Apple Play sem fio.

• Há também uma terceira tela opcional, dedicada a quem viaja no banco do passageiro, e uma quarta, que fica no console central e mostra as informações do ar-condicionado (com quatro zonas) e permite abrir as tampas frontal e do porta-malas, assim como a portinhola de carregamento e mudar os modos de condução, entre outras funções.

•  O acesso à segunda fileira de bancos é facilitado pelo bom ângulo de abertura das portas traseiras, que também são grandes e sem moldura.

• Como toda boa perua, a Taycan 4S Cross Turismo não poderia deixar de ter um ótimo porta-malas, de 446 litros, e que – ainda mais importante – chega a 1.212 litros após o rebatimento dos bancos traseiros. A esse volume, se somam os 84 litros do compartimento frontal, que acomoda duas boas mochilas.

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A cabine espaçosa e o porta-malas generoso típicos das peruas (abaixo) (Crédito:Divulgação )
Os programas dos modos de condução (Crédito:Divulgação )
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A Porsche exagerou um pouco no uso das telas, prejudicando a praticidade, e errou em alguns pontos: parte do cluster digital, por exemplo, fica escondida pelo aro do volante

Velocidade e ação

O Porsche Taycan Cross Turismo é alimentado por motores elétricos síncronos alimentados por uma bateria de 93,4 kWh que pode ser carregada em (praticamente inexistentes) estações de 270 kW (0 a 100% em menos de 30 minutos). A aceleração é sempre brutal, pois estão disponíveis 490 cv de potência e bestiais 650 Nm (66,3 kgfm) de torque.

Por alguns instantes, a potência máxima pode ser elevada a 571 cv com o sistema overboost, que é acionado por um botão no volante e faz o carro ir de 0-100 km/h em 4,1 segundos (e de 0-200 km/h em 13). Toda essa potência é enviada ao asfalto por pneus 265/35 R21 na dianteira e 305/30 R21 na traseira, já que a tração é integral (sob demanda). Qualquer que seja a força exercida no pedal do acelerador, o Porsche sempre dispara com voracidade e ganha velocidade rapidamente, ignorando seu peso em ordem de marcha de 2.245 kg.

Ele pode ser um “jato” elétrico, mas também serve a uma ótima convivência diária, com alcance de até 300 quilômetros, segundo o PBEV.

O seletor de modos de condução reúne os seguintes programas, que alteram a entrega do desempenho (o último é para quando a bateria está baixa):
• Normal,
• Sport,
• Sport Plus,
• e Range.

Se no Normal o desempenho é oferecido de forma comedida, perfeita para o uso cotidiano, no Sport Plus a conversa muda de tom, com reações brutas e acelerações que nos fazem grudar o corpo no encosto do assento e perder a visão periférica. Também há disponível a função Sport Response, que configura o caro para o máximo desempenho por 20 segundos.

Ao volante

•  O Taycan 4S Cross Turismo parece ser menor do que é, por conta de sua dinâmica irrepreensível, típica dos esportivos da marca de Stuttgart.

• Embora tenha quase cinco metros de comprimento, ele impressiona pela forma que serpenteia nas curvas e muda de trajetória.

• A direção é muito conectada ao piso e ágil ao esterço (2,5 voltas de batente a batente), contribuindo na condução.

 Na suspensão, braços sobrepostos na frente e multilink atrás, com amortecedores adaptativos e molas pneumáticas para ajustar a altura em relação ao solo, dependendo do modo de condução (e também para erguer a dianteira e evitar raspar nas valetas ou nas lombadas).

• Apesar dos pneus com perfis baixos, 35 e 30, o conforto impressiona.

• Este Porsche também agrada pela rolagem mínima da carroceria, mesmo nas curvas mais ousadas – e isso mesmo com a maior distância do solo (14,6 cm, contra 12,7 no Taycan 4S). É ela que permite o uso em estradas de terra e terrenos irregulares, uma das facetas deste Porsche.

Este modelo é apenas mais uma prova de que a Porsche entrou no mundo da eletrificação com maestria, sem descuidar da “aura’ de seus produtos. Mesmo sem ter um propulsor flat-six ou um poderoso V8, o Taycan 4S Cross Turismo é um “canhão”.

E, para aqueles que torcem o nariz para um carro elétrico da marca, deixo um recado: “Guie antes de criticar.”

O único problema continua sendo a autonomia: os 300 quilômetros oficiais do PBEV-Inmetro, se você pisar um pouco mais, viram só 200. Sim, o verdadeiro problema, que é comum a todos os esportivos a bateria, é que a diversão – assumindo que seja esse o motivo da compra – está invariavelmente destinada a durar pouco. Já passamos por isso com vários esportivos, que tiveram os trajetos de avaliação forçosamente reduzidos por conta de não haver como carregá-los.

Será esse um limite destinado a empurrar os entusiastas do Porsche para outras marcas que sejam menos sensíveis à sustentabilidade, seja ela real ou apenas presumida? A fabricante alemã não parece preocupada com isso, e diz ter certeza de que o novo Macan é excelente, e perfeitamente alinhado com as expectativas dos seus fãs.

Não duvidamos disso. Resta a incógnita sobre sua usabilidade e a inclinação do dono em aceitar os limites funcionais e os problemas do universo de carregamento dos veículos elétricos, que independem do preço e do posicionamento.

Porsche Taycan 4S Cross Turismo

Preço básico R$ 775.000
Carro avaliado R$ 843.184

Motores: um por eixo, elétricos, síncronos
Combustível: eletricidade
Potência: 490 cv (571 cv no modo overboost)
Torque: 650 Nm
Câmbio: automático, duas marchas
Direção: elétrica
Suspensões: braços sobrepostos (d) e multilink (t)
Freios: discos ventilados (d/t)
Tração: integral sob demanda
Dimensões: 4,974 m (c), 1,967 m (l), 1,409 m (a)
Entre-eixos: 2,904 m
Pneus: 265/35 ZR21 (d) e 305/30 ZR21 (t)
Porta-malas: 446 a 1.212 litros (traseiro) + 89 litros (dianteiro)
Peso: 2.245 kg
Bateria: 93,4 kWh
Autonomia: 300 km
0-100 km/h: 4s1
Velocidade máxima: 240 km/h (limitada)
Consumo médio: 5,2 km/kWh (Europa)
Recarga máxima: 11 kW (AC) e 50 kW (DC)
Nota do Inmetro: A
Classificação na categoria: B (Esportivo)