Por Rafael Poci Déa

O Porsche 911 GT3 RS acaba de estrear no Brasil como um ícone ao qual quase nada pode – ou deve? – ser comparado. Mas isso não significa que seu irmão mais novo, este 718 Cayman – principalmente nas versões GT4 e GT4 RS recentemente avaliadas aqui na MOTOR SHOW – não possa proporcionar uma condução igualmente insana, com precisão também cirúrgica (além de uma dinâmica que, em alguns pontos, é até mais equilibrada, por uma questão construtiva).

Não é preciso, porém, ir tão “alto” assim na gama da Porsche para ter um esportivo maravilhoso: por menos da metade do valor dele, este 718 Cayman GTS 4.0 tem uma dirigibilidade magistral e ainda consegue ser mais agradável no uso cotidiano – como costumam ser as versões GTS, ou Gran Turismo Sport, nascidas no 904 Carrera GTS, ainda da década de 1960. Pensando com uma pequena dose de racionalidade, considerando custo e benefício, muitas vezes elegemos a configuração GTS como a melhor compra da gama.

+ Como é e quanto vale o Porsche 911 Carrera GTS, carro que Mirella Santos deu de presente ao namorado
+ Avaliação: Porsche Cayenne chega remodelado em 7 opções

No caso do 718 Cayman 2024, o maior atrativo é o motor 4.0 boxer (seis cilindros contrapostos) naturalmente aspirado – haveria uma melhor despedida para um esportivo que vai se tornar 100% elétrico em 2025? Colocado na posição central-traseira, colado no motorista, é o mesmo do 718 Cayman GT4 e do 718 Spyder (além de ter um grau de parentesco com o usado no absurdo 911 GT3). Ele vem associado à tradicional caixa automatizada com dupla embreagem (PDK) e sete velocidades. São 400 cv de potência e 430 Nm de torque, o que pode não impressionar a princípio. Porém, indo além dos números, é a experiência de condução, como sempre, que torna este esportivo tão viciante.

Logo ao dar a partida, obrigatoriamente encaixando a chave presencial – que fica localizada à esquerda do painel, uma herança das disputas nas 24 Horas de Le Mans –, em vez do silêncio absoluto dos novos carros elétricos, aparece o clássico estrondo sonoro, que passa de grave a uma sinfonia “borbulhante” à medida que a rotação desce e se estabiliza na marcha lenta.

A carroceria é curta, com 4,405 metros de comprimento e 2,475 de entre-eixos (no 911 Carrera GTS, são 4,533 e 2,450 metros), e a potência específica é de 100 cv/litro, fazendo do 718 Cayman GTS uma máquina única. Embora seja um carro baixo, ele não raspa tanto em lombadas e valetas graças às suspensões mais amigáveis para o uso urbano (enquanto as variantes GT4 e GT4 RS têm vocação para as pistas e sofrem em cenários comuns).

Trata-se de um cupê esportivo com uma condução totalmente sensorial – seja pelo ruído do ar sendo admitido próximo ao ouvido do motorista, seja pelo inconfundível urro do “flat-six” invadindo a cabine das 4.500 às quase 9.000 rpm. Sem turbocompressores, a potência é entregue sem atrasos, sem vacilo. É quase um motor de corrida, com as reações brutais levadas apenas ao eixo traseiro por trocas e reduções ultrarrápidas da transmissão (para quem prefere, há a opção de trocas sequenciais por aletas ou pela própria alavanca, mas raramente são necessárias).

A máxima é de 288 km/h e o 718 leva só quatro segundos para atingir os 100 km/h (a relação peso-potência é de 3,51 kg/cv). Por meio do seletor giratório no volante – posicionado a 90º, como num carro de corrida – pode-se optar entre os modos de direção, que alteram parâmetros como atuação do motor/câmbio, das suspensões e da direção, além de trazer no centro o botão “Sport Response”, que ajusta o carro para seu máximo desempenho durante 20 segundos (um cronômetro aparece no painel). Além disso, independentemente do programa escolhido, é possível ajustar eletronicamente, por meio de botões no console central, as aberturas da válvula de escape e da asa traseira, além da rigidez dos amortecedores (o Porsche Active Suspension Management). São comandos sempre simples e diretos, por botões – diferentemente do que se vê no sistema multimídia, muito complicado de usar.

O quadro de instrumentos ainda é o clássico, com três elementos circulares (o grande conta-giros analógico ao centro) e uma tela com informações ajustáveis à direita (bom que ele tenha ganhado menos telas que outros modelos da marca; o resultado não foi bom). No centro do painel, o tradicional cronômetro. O seletor de modo de condução no volante e as rodas de 20 polegadas (com pneus mais largos atrás, onde fica a tração). As pinças de freio em preto brilhante custam R$ 6.280 adicionais

Divulgação
Divulgação
Divulgação
Divulgação

A exatidão germânica ainda aparece na forma como ele serpenteia nas curvas. A caixa de direção é direta, e não há absolutamente nenhuma inclinação da carroceria nem transferências de cargas entre os eixos nas frenagens – essas muito bem moduladas pelos discos ventilados e perfurados de 350 mm na dianteira, com pinças de seis pistões, e de 330 mm na traseira, com quatro pistões. Já as rodas de 20” vestem pneus de alta aderência com medidas 235/35 no eixo frontal e de 265/35 atrás.

Como já dissemos, a próxima geração do 718 chega em 2025 e entra com tudo na era da eletrificação. Obviamente, será um carro muito rápido, considerando que terá entrega de torque instantânea, como todos os elétricos. Mas certamente não terá o ronco mágico desse motor seis cilindros cultuado entre os admiradores da Porsche. É algo a se lamentar? Sim e não, afinal são os sinais dos novos tempos. Agora, se você quiser guardar na sua garagem um pouco da nostalgia dos motores a combustão para apreciar nos próximos anos, aqui está uma bela oportunidade. Um carro como este deve se tornar um item raro, de colecionador, se os elétricos de fato dominarem o planeta.

Divulgação

Divulgação

O velocímetro do 718 indica até 330 km/h: o problema é que o marcador analógico tem intervalos de 50 km/h, o que o torna difícil de ler: foi preciso colocar outro, digital e redundante, abaixo do conta-giros. A soleira é para lembrar, a cada vez que você entra e sai, que está em um GTS. O câmbio manual de sete marchas (na foto abaixo) não está disponível no Brasil, infelizmente. O motor, com sonoridade espetacular, fica colado nos bancos esportivos (muito eficazes, porém nada confortáveis).

Porsche 718 Cayman GTS 4.0

Preço R$ 680.000
Carro avaliado R$ 700.525

Motor: central-traseiro, seis cilindros contrapostos (boxer) 4.0, 24V, injeção direta, duplo comando com variação na admissão e no escape
Combustível: gasolina
Potência: 400 cv a 7.800 rpm
Torque: 430 Nm a 5.000 rpm
Câmbio: automatizado sequencial, sete marchas, dupla embreagem
Direção: elétrica Suspensões: MacPherson (d/t)
Freios: discos ventilados (d/t)
Tração: traseira
Dimensões: 4,405 m (c), 1,801 m (l), 1,276 m (a)
Entre-eixos: 2,475 m
Pneus: 235/35 R20 (d) e 265/35 R20 (t)
Porta-malas: 150 litros (dianteiro) + 182 litros (na cabine, atrás dos bancos)
Peso: 1.435 kg
Tanque: 64 litros
0-100 km/h: 4s
Velocidade máxima: 288 km/h
Consumo cidade: 7,1 km/l
Consumo estrada: 8,9 km/l
Nota do Inmetro: D
Classificação na categoria: C (Esportivo)