A França, que um dia já foi humilhada vendo nazistas marchando nas ruas de Paris, de uns tempos para cá recebia com pompa as novidades da indústria automobilística mundial. Alemães, japoneses, coreanos e até ingleses já brilharam no Mondial de L‘Automobile, que se realiza a cada dois anos no enorme Paris Expo, em Porte de Versailles.  Mas este ano foi diferente: a França agora empunha a bandeira de uma Europa em crise econômica e não quis deixar barato para as marcas orientais, que vêm roubando mercado por lá. Os chineses nem sequer se atreveram a mostrar as caras no Salão de Paris, embora, como sempre, tenham mandado vários espiões para olhar os carros europeus em todos os detalhes e medir suas entranhas – usando para isso até espelhinhos de dentista. Assim, sobrou para os asiáticos: logo no primeiro dia do salão, reservado à imprensa, o ministro do Trabalho da França, Michel Sapin, conclamou os franceses a não comprar carros coreanos “enquanto seus empregados não tiverem as mesmas condições” oferecidas aos trabalhadores da indústria automobilística europeia. Sinais da crise.

Este foi o tom do Mondial de L’Automobile 2012: Europa contra o mundo. As marcas americanas ficaram em um pavilhão distante, como se fossem ETs, da mesma forma que as japonesas e coreanas. Sem grandes novidades para mostrar, a Honda ficou ao lado de irrelevantes marcas de autopeças e a Toyota só brilhou no cafezinho – montou uma enorme cafeteria que serviu o melhor capuccino do salão.

Entre os europeus, quem se destacou foram os franceses. Renault Clio, Peugeot 2008 e Citroën DS3 Cabrio arrancaram suspiros e encheram de orgulho os enfants de la patrie. O novo Fiat Panda 4×4, o Ford Fiesta remodelado, o Volkswagen Golf VII, o ousado Seat Leon, os Mercedes Classe A e SLS AMG Electric Drive pintados em azul brilhante, além do híbrido Porsche Panamera Sport Turismo e do protótipo do Bentley Continental GT3 (para as pistas) garantiram o brilho do resto da Europa. Mas, desses carros todos, quais virão para o Brasil?

Vamos começar pela Peugeot, que tinha grandes novidades para os brasileiros. O pequeno 208 foi mostrado nas versões XY (urbano e chique) com motores 1.6 de 92 a 155 cv, além da GTi – uma homenagem ao clássico 205 GTi – com motor turbo de 200 cavalos e aceleração de zero a 100 km/h inferior a sete segundos. Além do 208, que será produzido já em Porto Real, RJ, a marca apresentou o conceito 2008, um crossover compacto que será fabricado na
França, na China e no Brasil, a partir de 2013. Com 4,14 m, foi exibido em um amarelo-marca-texto nada discreto. Seu motor será um pequeno três cilindros turbo de 110 cavalos. Para um futuro distante, a marca mostrou o Onyx, um híbrido com motor 3.7 V8 central de 600 cv, estrutura de carbono e para-lamas e portas esculpidos em folha de cobre puro.

Já a Citroën apostou no DS3 Cabrio, com capota tipo sanfona, que, ao ser aberta (a até 120 km/h!), deixa as colunas intactas. A solução agradou bastante, e deve chegar logo ao mercado brasileiro. Mais “pé no chão” (e só para países emergentes) são os sedãs C4 L e C Elysée. O C4 L, mais longo que o C4 Pallas, estreia em 2013 na Rússia e na China. Já o C Elysée utiliza o novo motor VTi 72, de apenas três cilindros. Chamou a atenção no estande da marca
também o Número 9, conceito que já tinha sido visto no Salão de Pequim e antecipa os futuros modelos da linha DS.

Completando o trio francês, a Renault mostrou o novo Clio, um hatch espetacular, com o novo design mundial da marca – mas que não será vendido no Brasil. Afinal, no mercado nacional o Clio da segunda geração se transformou em um carro de entrada e seria complicado para a Renault trazer o Clio da quarta geração e posicioná-lo em outro segmento. Mesmo assim, vale a pena destacar as qualidades do novo Clio, que, além do belo design, tem um interior amplo e agradável e uma surpreendente versão perua (Estate). O carro ganhou um motor três cilindros turbo com apenas 0,9 litro e bons 90 cv. Ao lado do belíssimo estande da Renault – o mais bonito do Salão – estava a discreta Dacia, cujos modelos Logan, Sandero e Duster são vendidos no Brasil com a marca Renault. Logan e Sandero estavam de cara nova, com uma frente muito mais moderna e bonita graças aos faróis e grades redesenhados. Na Dacia, o downsizing também foi adotado: além do motor Renault três cilindros do Clio, há um 1.2 16V de 75 cv. Desses dois, só o novo Logan deverá ser vendido no Brasil, provavelmente em 2013.

Enquanto isso, a italiana Fiat mostrou o novo Panda 4×4, que chega à sua terceira geração mostrando qualidades vistas em SUVs maiores. Com 3,68 m de comprimento, e um novo motor 0.9 turbo de 85 cv, tem o sistema “Torque on Demand”, que distribui a tração entre a dianteira e a traseira de acordo com as condições da pista. Infelizmente, não será vendido no Brasil (mas deve inspirar um novo SUV nacional da marca). Outro destaque foi o interessante 500 L, substituto do Idea por lá. Do Cinquecento tradicional vendido no Brasil, ele só tem o visual. Com 4,15 m de comprimento, e 1,66 m de altura, é muito espaçoso e utiliza a plataforma do Punto alongada em 10 cm. Permite 1.500 con¬ gurações de interior e chamou a atenção pelo gigantesco teto-solar. Já a alemã Volkswagen, como faz sempre que apresenta uma nova geração de seu hatch de maior sucesso, dedicou 90% de seu espaço para o Golf VII. O modelo foi mostrado em várias versões, inclusive uma GTi com motor de 220 cv – ou 230 cv com o pacote Performance. Fabricado no México a partir de 2013, ele chegará ao Brasil com preços competitivos, aposentando finalmente o Golf IV que ainda roda no País.

Entre as americanas, a Ford atacou de New Fiesta (na Europa chamado só de Fiesta), que passou por uma reestilização leve e logo será fabricado também no Brasil. Ganhou faróis com LEDs e a opção de rodas de liga leve aro 17, além de um interior remodelado, com alavanca de câmbio reposicionada e novo quadro de instrumentos. Fazendo o caminho inverso, o EcoSport brasileiro será produzido no Velho Continente, mas isso ainda levará 18 meses. Lá, terá apenas o motor EcoBoost 1.0 de três cilindros, que também deve ser adotado no Brasil. Para brigar com ele, a GM mostrou o Chevrolet Trax – que vai se chamar Tracker no Brasil (revivendo o nome do Chevrolet que nem Chevrolet era, mas sim um Suzuki Vitara… enfim, muita confusão para um carro que poderia simplesmente se chamar Trax, como no resto do mundo). Sua versão de entrada tem motor 1.4 turbo de 140 cv, câmbio manual de 6 marchas e tração 4×4.