Confesso que experiências anteriores com chineses me deixaram com o pé atrás quando iniciei meus trabalhos para este comparativo. Tinha dirigido um Effa M100, no nal de 2008, e um Chery Tiggo no começo de 2010. Dois carros que, na época, me deixaram com uma impressão nada boa. Fora isso, os únicos contatos que eu tinha com produtos da China incluíram isqueiros que explodiram, calculadoras que pararam de funcionar e canetas que falharam quando eu mais precisava delas. Portanto, acredite, eu entendo perfeitamente a descon ança com a qual você deve estar lendo este texto.

No primeiro contato que tive com o Cielo, iniciei uma busca insana por desalinhamentos na carroceria, pontos de ferrugem, soldas à vista, pintura mal-acabada, encaixes malfeitos, rebarbas plásticas, costuras soltas, tecidos ásperos. Admito que não encontrei nada que já não tivesse visto em outros carros bem mais conhecidos e caros de nosso mercado. Isso me tranquilizou e resolvi me livrar do preconceito antes de tomar o volante do sedã. Seria um páreo duríssimo, já que o Honda City é aquele tipo de carro racional que não apaixona, mas também não dá dor de cabeça. Ainda assim, resolvi dar uma chance ao chinesinho. A nal, na avaliação dos proprietários feita pelo site Carros na Web, ele tem nota média de 8,7 contra 8,8 do City. Uma diferença desprezível, considerando que custa R$ 15.520 a menos.

O painel do Chery é mais simples. Há pouco jogo de cores, volumes e acabamentos, o que diminui a sensação de so sticação. Mais simples não signi ca, necessariamente, inferior. O City traz, por exemplo, mais plásticos duros que o rival, que, por outro lado, tem mais problemas no revestimento emborrachado – ondulado e com rugas. O volante do japonês também é superior, de melhor pegada – mas os bancos do rival acomodam melhor e seguram mais o corpo nas curvas. A Chery merece um puxão de orelhas por não oferecer ajustes de profundidade do volante e de altura do banco do motorista, enquanto o Honda irrita com seu rádio de funções pouco intuitivas. No nal das contas, por custar mais caro, o City decepciona mais que o Cielo quando o assunto é acabamento e habitabilidade.

 

O painel do City tem desenho mais moderno, mas não é superior em acabamento. O CD tem comandos pouco intuitivos e, atrás, o banco é mais estreito que o do rival chinês

Nas medidas, se equivalem. O entre-eixos é igual, mas o Cielo é mais largo – com mais espaço para os ombros que o City. Na altura, os dois têm linhas harmoniosas (assinadas pela Pininfarina no Cielo) que sacri cam o conforto. O City dá o troco no porta-malas (506 litros, contra 395 litros do concorrente).

Rodando, o Cielo mostra uma robustez que eu não esperava: tem construção so sticada, com reforços estruturais, boa rigidez e suspensão com subchassi e independente nas quatro rodas (no rival, há eixo de torção na traseira). Ambos têm acerto rígido, que faz sofrer um pouco na cidade (sem batidas secas, no entanto), mas bene cia a dirigibilidade. Aliás, nas curvas rápidas o Cielo surpreende, graças aos pneus maiores. Mas, apesar do motor maior, o Chery ca para trás. Seu moderno 1.6 16V austríaco, com duplo comando, desenvolve bons 119 cv, mas é penalizado pelo peso excessivo do carro.

 

Se cada cavalo do 1.5 do Honda precisa impulsionar 9,7 kg, a relação peso/potência do Cielo é de 11,5 kg/cv. Fora isso, o câmbio do Cielo é mais alongado e piora as retomadas. Na estrada, o câmbio curto do Honda só serve para produzir um ruído excessivo do motor. Já o do Cielo trabalha na faixa de maior e ciência e o silêncio impera. Os engates são bons em ambos, assim como os freios, mas o Cielo leva vantagem por ter disco nas quatro rodas (no Honda, os traseiros são a tambor) e ABS com EBD, indisponível no oponente.

Os dois têm três anos de garantia, mas o Honda tem manutenção mais barata. Em 30 mil quilômetros, o dono do City faz três revisões e gasta R$ 623. Já o do Cielo faz quatro e desembolsa R$ 1.450 (preços o ciais de SP). Claro que essa diferença se paga com a economia na compra, mas ainda assim a Honda tem 165 concessionárias contra 50 da Chery e desvalorização certamente menor. De qualquer modo, para quem prefere arriscar no futuro e economizar no presente, o Cielo é uma opção ao City, que, apesar de ser uma compra mais segura, cobra caro por isso.

No Cielo, uma gaveta debaixo dos comandos do ar serve para guardar documentos e há um portaobjetos sobre o rádio. O espaço traseiro é bom