Depois de meses de namoro, Fiat e Chrysler oficializam seu casamento. No final de abril, a montadora norte-americana entrou com pedido de concordata e se associou aos italianos para tentar fugir da bancarrota. Do acordo, nasce uma nova empresa, que ficará com os ativos da montadora, sem as dívidas. A maioria das ações dessa nova empresa (55%) ficará com a associação de funcionários da Chrysler e será administrada pelos governos dos EUA e do Canadá. A Fiat ganhou 35% das ações, mas só levou 20%.

Para colocar as mãos no percentual restante, precisa cumprir três metas pré-definidas em contrato, cada uma delas valendo mais 5% das ações. A primeira é a fabricação de motores Fire nos EUA; a segunda é a viabilização comercial da Chrysler fora do Nafta (que engloba Estados Unidos, Canadá e México) e a terceira é a produção, nos EUA, de um modelo Chrysler, baseado na tecnologia Fiat. Que produto seria esse? O martelo ainda não foi batido, mas as evidências apontam em uma só direção.

No segmento dos médios, o grupo americano está bem servido. Seus produtos são modernos e têm plataformas desenvolvidas em parceria com a Mercedes, sua última controladora. Se os italianos têm algo a oferecer é na base do mercado, nos carros de entrada. Assim, é possível que o produto Chrysler com plataforma Fiat a ser produzido nos EUA seja um compacto, provavelmente derivado do Punto. Isso sem descartar a possibilidade de se produzir por lá o Cinquecento que, por enquanto, é mais cotado para sair das linhas do México, onde a Chrysler produz atualmente apenas o Dodge Journey, já que o PT Cruiser foi descontinuado.

Fontes ligadas à Fiat, porém, dizem que é possível que a fábrica de Toluca passe a fabricar, na verdade, um novo sedã Chrysler montado sobre a plataforma C Evo, a mesma do Bravo e da qual sairá também um Alfa, provavelmente o novo 147. Essa estratégia permitirá que a Fiat realize o sonho de vender Alfa Romeo nos EUA. E, de quebra, que volte a comercializar os modelos da marca no Brasil.

Fábricas da Chrysler pelo mundo.

Quais ficarão de pé?

ESTADOS UNIDOS

Belvidere (Illinois):

Dodge Caliber, Jeep Patriot e Compass

Conner Avenue, Detroit (Michigan):

Dodge Viper

Jefferson North, Detroit (Michigan):

Jeep Grand Cherokee e Commander

Fenton (Montana):

Dodge Ram

Sterling Heights (Michigan):

Dodge Avenger, Chrysler Sebring e

Sbring Cabrio

Toledo (Ohio):

Jeep Cherokee, Dodge Nitro

Toledo (Ohio):

Jeep Wangler

Warren (Michigan):

Dodge Ram e Dakota

CANADÁ

Windsor (Ontário):

Chrysler Town&Country,

Dodge Grand Caravan

Brampton (Ontário):

Chrysler 300, Dodge Charger, Challenger

MÉXICO

Saltillo:

Dodge Ram Heavy Duty

Toluca: Dodge Journey

A venda dos carros da Chrysler fora do Nafta, segunda exigência do contrato, também pode se tornar uma boa notícia para os brasileiros, já que o País é um dos potenciais mercados a ser explorado. Mas, por enquanto, a estratégia não está definida. Em princípio, a ideia é comercializar os produtos da Chrysler em revendas premium da Fiat. Seriam escolhidas algumas lojas, que se somariam aos 30 concessionários da marca americana já existentes no Brasil para ampliar a penetração da marca no País. Em uma segunda etapa, começaríamos a ter produtos com DNA da Chrysler, mas adaptados para serem vendidos com a marca Fiat.

Entre os mais cobiçados estão as picapes e os utilitários, um segmento importante no qual a Fiat não tem (ou não tinha) know-how para se aventurar. Prova desse interesse são as unidades de Dodge Ram e Dakota que já fazem testes na fábrica mineira de Betim. Não é improvável que tenhamos uma Fiat Dakota, a médio prazo, concorrendo com as novas S10, Ranger e VW Robust, que chegam em breve.

Isso não significa que os outros segmentos estejam fora dos planos. A linha da Fiat para no Linea, e seria interessante para a montadora ter modelos maiores e mais sofisticados para concorrer, por exemplo, no segmento do Fusion e do Azera, que está em franca expansão. A Chrysler pode contribuir com o Sebring, um sedã grande, com cerca de 4,80 m de comprimento e 2,70 m de entre-eixos. Em um segmento ainda mais alto, o 300 C seria uma opção interessante, moderna e com atributos para se tornar o top de linha da marca italiana no Brasil.

A partir de janeiro de 2013, a Fiat poderá adquirir mais ações da nova empresa, mas não poderá ficar com mais de 49% enquanto a Chrysler não quitar suas dívidas com o governo. Quando isso acontecer, as possibilitades poderão ser ainda maiores.