Quando a gente acha que as coisas não podem piorar… elas pioram. Além da grave crise econômica brasileira, que derrubou praticamente à metade a venda de carros no País entre 2012 e 2016 – quando se iniciou uma discreta recuperação – a (ainda mais grave) crise econômica da Argentina, principal alvo das exportações brasileiras, fez com que as nossas remessas para o exterior caíssem quase 45% nesse quadrimestre.

E não é só. Formando um grande problema para a indústria automotiva nacional, ainda  se somam o fim das cotas de importação de carros mexicanos existentes desde 2012 e desde a última renovação, em 2015, prevista para acabar em março agora. Pior: o maior destino da exportação da indústria automobilística mexicana é, de longe, os Estados Unidos – que, sob o comando de Trump, rejeita e ameaça taxar pesadamente os carros mexicanos. Se o fizer, as marcas americanas terão dificuldade para vender seus carros feitos no México dentro dos EUA.

 

ALGUNS CARROS FEITOS NO MÉXICO

(o Jetta, por exemplo, era feito no Brasil; agora só vem do México)
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O resultado disso seriam fábricas mexicanas com capacidade produtiva bem acima da demanda – o que pode tornar o México mais agressivo na negociação de exportações para outros mercados, que interessam também ao Brasil para suprir a “falta” da Argentina (e, de novo, eles teriam vantagens).

E o problema para o Brasil, no caso dos Mexicanos, é que os carros produzidos lá, além de terem maior valor agregado e por isso serem mais lucrativos para quem os vende, são mais competitivos do que os nossos. Os veículos mexicanos são cerca de 18% mais baratos de produzir, como comprovou estudo da consultoria PWC encomendado pela Anfavea; considerando custos e impostos (se o custo total de um carro para os mexicanos – sem margem de lucro – é de R$ 100 mil, o mesmo carro aqui custará de R$ 137 mil a R$ 144 mil.

Então, sem ter muito o que exportar para a Argentina, não adianta o Brasil olhar para o México. É mais problema que solução. Os carros brasileiros exportados para lá não são competitivos (custam 24% mais que os locais), e, pior, os deles importados para cá são mais competitivos que os nossos fabricados aqui (que custam cerca de 10% mais).

Além de tudo, o México exporta para muitos mercados diferentes, mais de 40 países fora os EUA. Assim, mesmo que o Brasil tente entrar nesses mercados, vai encontrar concorrência ainda mais dura dos mexicanos caso sejam prejudicadas mesmo as vendas para os EUA (pois estarão em busca de novos mercados ou reforços nos que atua).

Há, ainda, outra questão. Com esse provável aumento de impostos para os carros mexicanos nos EUA, as marcas que têm operações tanto no México quanto no Brasil podem acabar cortando novos investimentos no Brasil e preferindo usar a capacidade já instalada no México para fazer carros por lá mesmo e mandá-los para cá – onde conseguiriam os vender com preço mais competitivo, ou margem de lucro maior.

Seria uma tempestade perfeita, para afundar de vez a indústria automotiva Brasileira. Para evitar isso, a Anfavea – associação nacional de fabricantes – defende a reforma da Previdência, que já está em discussão no Congresso, e também uma reforma tributária, para melhorar nossa competitividade, aumentar as exportações e nos tornar menos dependente do mercado interno. Resta ver se o resultado será o prometido. Por enquanto, a situação não poderia ser mais preocupante.