O médico entra na sala, com meu exame na mão. “Tenho duas notícias, uma boa e uma ruim. Qual você quer primeiro?” Respondo que prefiro a ruim primeiro. “Bem, você tem hérnia de disco, do tipo lombar”, ele diz. E já emenda: “E a boa notícia é que você pode comprar carros PCD com desconto”. Com “desconto”, ele se referia às isenções de impostos para a compra de carros por PCD.

Agora é minha vez de dar a boa notícia: as regras para compra de carro PCD devem mudar até o fim do ano. O controle será mais rigoroso. O novo convênio, 59/20, de 30 de julho de 2020, e publicado no Diário Oficial da União da última segunda, 3 de agosto, prevê que isenções de impostos na compra de carros para PCD só devam acontecer para quem possuir deficiências de grau moderado ou grave, excluindo-se as de grau leve. E a medida estará mais do que certa.

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Afinal, a quantidade de carros PCD vendidos com isenção de impostos há tempos passou do razoável (o T-Cross como carro mais vendido do Brasil é prova disso). Hoje praticamente qualquer pessoa, achando um médico que ateste, consegue essas isenções de impostos — que reduz a arrecadação do governo, por mais que ela seja excessiva e mal utilizada, e, a princípio, deveria ser dada a quem realmente precisa dela.

NÃO, OBRIGADO

Como mostrei no começo do texto, digo isso por experiência própria. Mas não me aproveitei do “passe livre” para me livrar de quase R$ 20.000 de impostos — um carro que custe o teto de R$ 70.000 para ter a isenção completa sai por pouco mais de
R$ 52.000. Veja aqui os SUVs para PCD à venda hoje.

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Por que abri mão da minha isenção, mesmo tendo direito a ela? Acima de tudo, porque tenho bom senso. Minha hérnia de disco nunca havia me incomodado antes. Faço trekking, subo montanhas caminhando, carrego peso, pratico esportes. A vida inteira fiz tudo isso, e nunca tive uma crise.

A crise que me levou ao médico foi de pegar minha filha Stella, 2, do chão fazendo um movimento totalmente errado. Sim, eu “travei”. Fiquei no chão por alguns minutos, tive que ir rastejando, quase chorando de dor, para um pronto-socorro tomar um remédio forte para a dor passar.

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Mas ela passou, eu segui minha vida, não respeitei muito os avisos do médico, as novas regras. Outro dia carreguei um sofá escada abaixo, pratico esportes… muito coisa bem mais “pesada” do que simplesmente trocar as marchas de um carro.

MOTIVO SECUNDÁRIO

E isso me leva a outro motivo, não fosse esse verdadeiramente importante citado, que me levaria a não comprar um carro com desconto para PCD. Aí já é bem específico meu: para cumprir o procedimento atual de compra para PCD, teria que mudar minha CNH e colocar que só posso dirigir carro automático. O que seriam dos meus testes de carros manuais, fossem eles populares ou esportivos?