Como aqui no Brasil, a moda dos SUVs dominou a Europa. Mas o velho continente não tem a aceitado tão bem. Em tempos de aquecimento global e metrópoles hiper poluídas, ter um SUV é mal visto. E, como gastar mais no posto de gasolina parece não bastar para afastar o consumidor que faz questão deste tipo de carro — principalmente os maiores –, alguns países europeus decidiram combater os SUVs com taxas extras de até R$ 90.000.

Na França, há tempos os carros com emissão de C02 muito alta – a emissão do gás é diretamente proporcional ao consumo do carro – pagam uma taxa de expressivos € 12.500 (R$ 56.500). Agora, um projeto de lei foi aprovado para aumentar o imposto adicional pra até € 20.000 (R$ 90.500) — no caso dos carros mais gastões, com emissão de CO2 acima de 185 g/km.

Na Alemanha, há meses parlamentares discutem medidas similares, e em outros países europeus elas já são adotadas, com critérios diferentes (alguns usam o peso do veículo). Mesmo nos EUA, “paraíso dos carros”, já há a taxa de gas gluzzer (beberrão, gastão)– mas, acredite, só dançam os superesportivos, pois ela é bem tolerante e, pior, os SUVs escapam (a lei é de 1978, não se atualizou com o mundo ao redor).

UM CARRO E UM QUARTO

Na França, com a nova lei, o imposto extra não é nada baixo – começa em € 12.552 para automóveis e SUVs com emissão de 173 g/km de C02 e chega aos € 20.000 para aqueles que emitem 185 g/km ou mais, segundo a escala abaixo:

173 g/km : € 12.552
174 g/km : € 13.109
175 g/km : € 13.682
176 g/km : € 14.273
177 g/km : € 14.881
178 g/km : € 15.506
179 g/km : € 16.149
180 g/km : € 16.810
181 g/km : € 17.490
182 g/km : € 18.188
183 g/km : € 18.905
184 g/km : € 19.641
185 g/km ou mais: € 20.000

Para se ter uma ideia, um BMW X6 na França custa € 79.100 (R$ 358.300) com o motor a diesel de 265 cv, que emite até 172 g/km e não paga a taxa extra. Já a versão a diesel com 400 cv emite de 181 a 190 g/km – o aumento de preço nesta versão, considerando o novo imposto, seria já de € 20.000 – ou 25% do valor da versão mais fraca. 

A questão é que a versão mais “fraca” do X6 já atende às necessidades dos consumidores e já atinge velocidades acima das permitidas nas estradas francesas – na maioria delas o limite é de 120 km/h. Quem quer mais que isso, vai ter que pagar para poder pisar fundo e queimar combustível desnecessariamente.

A lei vem pelo consumo e atinge mais os SUVS porque eles de fato gastam mais. Mesmo esse BMW X6 “mais fraco” já gasta muito mais que um Série 5 equivalente em espaço e função.  Na linha Mercedes, a mesma coisa: entre os sedãs Classe E, apenas as versões superesportivas AMG ficam acima do limite de emissão e pagam a taxa extra. Já no caso do Mercedes GLE, a versão SUV do Classe E, quase todas as suas versões ficam acima do limite da lei – e serão sobretaxadas.

Assim, a lei francesa acaba atingindo não só os SUVs grandes, mas também os modelos superesportivos. Todos os modelos de Ferrari, Lamborghini e cia terão que pagar a taxa extra, enquanto poucos Porsche escaparão. Por outro lado, as francesas Renault e Citroën, por exemplo, não têm um modelo sequer com emissões altas.

Nesta versão E-Hybrid, o grandalhão Porsche Cayenne se livra das taxas extras na Europa. Nos EUA não: os SUVs se safam

OPINIÃO DO BLOG SOBRE RODAS

Errados, o Blog Sobre Rodas acha que estes governos não estão. Não é porque alguém tem mais dinheiro que pode consumir recursos – e poluir – à vontade, e pior, desnecessariamente. Se um carro cumpre exatamente a mesma função que outro e gasta mais combustível, poluindo mais, quem optou pelo carro mais gastão vai ter que pagar pelo impacto que sua escolha provoca. 

É inegável que um “SUV” — mesmo estes com aspas, “de shopping”, sempre vai gastar mais que um sedã ou um hatch equivalente — Os SUVs são mais pesados e piores na aerodinâmica. Mesmo entre um sedã compacto e um SUV compacto, o SUV gasta mais — e não acho errado que fosse penalizado por isso.

Uma pena, sim, mas a questão ambiental, goste-se ou não, será cada vez mais central, e os carros a combustão, em alguns cenários, serão obrigados a sucumbir. Temos que lidar com as consequências de tudo que produzimos e consumimos. Que os governos saibam usar bem o dinheiro arrecadado, e que assim os exageros passem a financiar medidas mitigadoras, desenvolvimento de novas tecnologias, campanhas, etc.

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