MOTOR SHOW viajou até a China para fazer a cobertura do Salão de Pequim que você conferiu aqui em nosso site e também na revista. Em duas grandes cidades visitadas, vi muitas curiosidades sobre os carros e hábitos dos motoristas chineses. Veja o que mais chamou minha atenção:

1-Carro é artigo de luxo

É normal ver SUVs de luxo aos montes nas ruas de Pequim. Aqui dois Mercedes-Benz GLE novinhos (foto: Flavio R. Silveira)
É normal ver SUVs de luxo aos montes em Pequim. Aqui dois Mercedes-Benz GLE novinhos (foto: Flavio R. Silveira)

Nas metrópoles que visitei, Pequim e Chongqing (assim como em Xangai), ter um carro é caro. Muito caro. Além dos custos normais de estacionamento, impostos, seguro e manutenção, já elevados , ainda há pedágio urbano sendo implantado Mas o pior é a “taxa” que é cobrada para poder licenciar um carro nessas cidades. Em Pequim, a coisa funciona em uma espécie de leilão, e o preço aumento conforme a demanda. Esse ano já está em inacreditáveis US$ 14.000 dólares – bem mais caro que os carros mais acessíveis, como o Chevrolet Sail (equivalente a nosso Classic, custa US$ 9.150). Sendo assim, só tem carro que tem muito dinheiro. O que explica a quantidade exorbitante de Porsche, Mercedes-Benz, BMW, Audi e cia. nas ruas. A única opção para se livrar da taxa é comprar veículos elétricos. Mas como os bons também custam caro, então restam, em grande número, os rudimentares (ver item 7).

2-SUVs e crossovers são a última moda

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Assim como os brasileiros e os europeus, os chineses enlouqueceram com os crossovers/SUVs. O mercado era até dominado pelos sedãs, mas os SUVs e crossovers vem ganhando espaço incrivelmente rápido. De 2014 para 2015, cresceram impressionantes 49,7% – em um mercado cujas vendas totais subiram menos de 5%. Em 2015, já representaram quase 25% das vendas totais vendas totais de automóveis (mais do que os de participação no Brasil. E, como em Pequim todos que têm carros são ricos, o que se vê não é um monte de Jeep Renegade e Honda HR-V (vi raros), mas Porsche Cayenne, BMW X5, Audi Q5, Mercedes-Benz GLE… E no Salão e Pequim estrearam nada menos que 41 modelos inéditos!

3-Entre-eixos estendido é quase obrigatório…

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Não me pergunte por quê, mas os chineses gostam de carro com entre-eixos estendido (apesar de não serem tão altos). De olho nisso, as marcas ocidentais, principalmente as alemãs, oferecem versões espichadas de seus carros. Entre as centenas de Audi, BMW e Mercedes-Benz nas ruas, encontrei raríssimos “normais”. Os Audi A4, A6 e A8, por exemplo, são vendidos lá apenas nas versões L. No caso do A6, isso significa 10 cm adicionais no entre-eixos (e o mesmo acréscimo no comprimento, claro). Já no A4, são 7 cm a mais e no A8, 12,8 cm extras. No caso da BMW, os modelos da linha são oferecidos tanto nas versões tradicionais quanto nas estendidas (vi mais das últimas) e crescem ainda mais: 11 cm no Série 3, 14 cm no Série 5 e 11,4 cm no já avantajado Série 7. Até crossovers como o BMW X1 tem a distância esticada – mas no caso dele, em apenas 2 cm. Nesse caso, parece até que a letra “L” – usada por todas para caracterizar essas versões – já vale mais pelo status do que pelo efetivo ganho de espaço interno.

4-… e capacete é opcional (mas moto não circula no corredor)

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Apesar da grande quantidade de motos, não se vê quase ninguém usando capacete. Tudo bem que motos de grande cilindrada são proibidas e as scooters e motos pequenas, sejam a gasolina, sejam elétricas, podem circular nas ciclovias. Mesmo assim atingem velocidades perigosas em um ambiente tumultuado. As motos também podem circulam em avenidas, mas nunca no “corredor” entre os carros, como no Brasil. Têm que ficar na direita, espremidos entre os ônibus e o acostamento. Mas o pior é que, como na Índia (embora com menor frequência), é comum ver famílias inteiras em cima de uma moto. Sem capacete.

5-Há mais marcas do que você consegue registrar

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Além de todas as fabricantes de carros ocidentais que você já conhece – quase todas presentes na China em joint-ventures (obrigatórias) com empresas chinesas, o país tem nada menos que 68 marcas locais. Muitas nem nome em caracteres ocidentais têm, então fica quase impossível para nós, estrangeiros, distinguir qual é qual. Algumas são bem pequenas: da Lifan e da JAC, ambas já presentes no Brasil, vi poucos modelos. Ah, e eles ainda têm carros exclusivos, como o Citroën DS6 (veja galeria acima)

6-As cópias estão sumindo

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Depois de criar inúmeras cópias descaradas de modelos ocidentais, os Chineses enfim começam a desenvolver uma identidade (quase) própria. Mas ainda há, sim, cópias descaradas de carros ocidentais. Como se vê nos carros acima, um BAIC BJ80 “inspirado” no Mercedes Classe G, outro “similar” ao Toyota FJ Cruiser.

7-Carros elétricos já são realidade (na grande maioria rudimentares)

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Como há incentivos para elétricos, eles começam a crescer em número nas grandes metrópoles. Mas como os mais ricos gostam de carros grandes a gasolina, quem compra mais carros elétricos são os mais pobres – e buscam modelos baratos. São carrinhos pequeninos, a maioria com só três rodas, claramente desenvolvidos a partir de uma moto elétrica. Bastante curiosos, como você confere na galeria acima.

8-Insulfilm escuro, mas não no caminho do retrovisor

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A película que os chineses usam normalmente é até mais escura que essa, mas sempre precisa ser cortada na parte dianteira do vidro para não prejudicar a visibilidade. Fica feio, porém mais seguro (foto: Flavio R. Silveira)

Os chineses adoram as películas escurecidas nos vidros, e bem escuras. Mas eles não precisam abrir os vidros para manobrar na garagem do prédio de noite, como nós. Para não atrapalhar a visibilidade que o motorista tem dos retrovisores, os chineses são obrigados a fazer um recorte triangular no canto do vidro, como se vê nesse DS6 acima. 

9-Algumas regras de trânsito são ignoradas

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O Cruze estacionou na calçada (foto: Flavio R. Silveira)

Uma regra totalmente ignorada é a do uso do telefone ao dirigir. Parece até ser obrigatório, de tanta gente que usa. Estacionar em local proibido ou sobre a calçada é um pouco mais raro, mas também acontece.
Agora veja o que fez esse Audi A4 (com entre-eixos estendido, claro):

(foto: Flavio R. Silveira)
Bem na placa de retorno proibido, o A4 vira e trava o trânsito com ao dar de cara com o ônibus (foto: Flavio R. Silveira)
(foto: Flavio R. Silveira)
Alguns pedestres aproveitam para atravessa a avenida em local proibido (foto: Flavio R. Silveira)
(foto: Flavio R. Silveira)
Depois de alguns minutos, o ônibus sai e o Audi segue seu caminho (foto: Flavio R. Silveira)

Bem na placa que indica conversão proibida, ele fez a conversão. Deu de cara com a lateral do ônibus e travou por alguns minutos o fluxo na avenida. E não foi o único: em cerca de quinze minutos, vimos diversos carros fazer a manobra. Perguntei à guia chinesa por que não respeitavam a sinalização, e ela disse que é porque não havia câmera ou polícia ali para multá-los. O que nos leva a…

10-A “indústria da multa” também chegou lá

Radares fotográficos para controle de velocidade existem também do outro lado do mundo (foto: Flavio R. Silveira)
Radares fotográficos para controle de velocidade existem também do outro lado do mundo (foto: Flavio R. Silveira)

Embora aqui no Brasil muitos insistam em criticar os radares fotográficos e a suposta “indústria da multa”, nós sabemos que isso é uma falácia. Fiscalizar e punir quem comete infrações é simplesmente cumprir a lei. Os chineses sabem disso, e já adotaram esse tipo de fiscalização automática. Onde não há câmeras, entretanto, como acabamos de ver, eles são capazes de barbaridades.

11-O carro mais vendido é uma minivanzinha da Wuling (quem?)

DSC05127_1280x719O carro mais vendido na China em 2015 – e por isso mesmo o 11o mais vendido do mundo – chama Wuling Hongguang. Quem? A Wuling é parceira da GM na China, e produz essa van que serve para transportar passageiros ou carga. Na Índia, ela é comercializada como Chevrolet Enjoy. Tem 4,40 m de comprimento, tração traseira e motor 1.4 a gasolina ou 1.3 a diesel.

12-Os VW Santana sumiram

Entre os raros VW Santana antigos que vimos, estava essa perua Quantum.Afora só se vê o New Santana, bem diferente (foto: Flavio R. Silveira)
Entre os raros VW Santana antigos que vimos, estava essa perua Quantum. Agora só se vê o New Santana, que já é um carro bem diferente do que tivemos aqui (foto: Flavio R. Silveira)

Outro carro que já esteve no ranking dos mais vendidos da China foi o VW Santana, igualzinho ao nosso. Ele foi vendido lá em três gerações diferentes, desde 1986. No final da década de 2000, sua versão 3000, a última vendida aqui no Brasil, era muito usada como táxi. Claro que ele tinha entre-eixos estendido (10 cm a mais). Mas, misteriosamente, agora vi muitos sedãs da Volks – aliás, são tantos diferentes e com tantos nomes diferentes – Sagitar, Lavida, Bora, Lamando, Jetta, Passat, New Santana – que fica até difícil saber qual é qual.  Do velho Santana, porém, vi apenas um, e na versão perua (a Quantum acima). Que fim eles levaram? Devem estar nas cidades pobres do interior.

13-Motos são tratadas como bicicletas (e quase como pedestres)

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Além de poderem circular nas ciclovias, as motos, sempre pequenas e e muitas elétricas, podem atravessar as avenidas na faixa de pedestres (foto: Flavio R. Silveira)

É curioso observar o comportamento das motos na China. Além de circular livremente nas ciclovias, elas também atravessam as ruas por cima da faixa de pedestres, junto com eles. Só não costumam circular pelas calçadas, felizmente. É meio assustador ver aquelas motinhos cruzando a rua em meio aos transeuntes. Você fica esperando por acidentes e atropelamentos, mas, sabe-se lá o porquê, eles simplesmente não acontecem.

14-Fila não existe, e a preferência é de quem grita mais (…quero dizer, buzina)

Tudo parado no trânsito! Culpa daqueles que vão virar a direita mas vão até o limite na esquerda para cortar os demais (foto: Flavio R. Silveira)
Tudo parado no trânsito! Culpa daqueles que vão virar a direita mas vão até o limite na esquerda para cortar os demais (foto: Flavio R. Silveira)
Depois da saída, trânsito livre para quem, como nós, ia seguir reto. Fila pra quê? (foto: Flavio R. Silveira)
Depois da saída, trânsito livre para quem, como nós, ia seguir reto. Fila pra quê? (foto: Flavio R. Silveira)

Na imagem acima, uma cena comum em Pequim: quem pretende sair da via expressa devia estar nas duas faixas da direita, mas não está. As filas de carros seguem a mesma regra das filas de humanos na China: não há regra. Carros (e pessoas) que querem chegar a algum lugar simplesmente se enfiam pelo canto que dá. Assim, eu ia seguir reto nessa via, mas acabei perdendo meia-hora nesse congestionamento causado por esse péssimo hábito. E o pior: não basta furar fila, tem que ser buzinando. Quem buzina mais ganha o espaço. O lado bom é que não há rancor. Você buzina, vai até o limite para fazer o outro motorista desistir antes de bater, mas ninguém se xinga, tudo segue na santa paz. Fora o barulho.

15-Enfim, é tudo um caos. Mas o asfalto é excelente

O asfalto é sempre bom e em algumas vias, como esse calçadão aberto para carros, de pedra lisinha (foto: Flavio R. Silveira)
O asfalto é sempre bom e algumas vias, como esse calçadão aberto para carros, de pedra (foto: Flavio R. Silveira)

Bem, em termos de caos no trânsito, a China ainda está bem longe de ser uma Índia. Mas isso não quer dizer que para nós, brasileiros, a coisa não seja um tanto assustadora. Pelo menos o asfalto está sempre em ótimo estado e as ruas são bem sinalizadas e conservadas.