18/06/2016 - 9:40
Sempre que avaliava um carro chinês o texto saía cheio de poréns. “O preço é bom, porém as suspensões são macias demais, quase perigosas”; “O carro é muito bem equipado, porém a dirigibilidade é sofrível”; “Porte e espaço interno acima da média, porém com um acabamento cheio de falha s”. Mas aí veio o JAC T5 e eliminou quase todos esses poréns. É um chinês que chegou lá, forte concorrente para modelos ocidentais e japoneses.
Na faixa entre R$ 60.000 e R$ 70.000, o T5 custa o mesmo (ou é até mais barato) que versões de entrada de EcoSport, Duster e outros crossovers/SUVs. Todas elas com desempenho bem similar, porém muito menos equipadas. Na verdade, o T5 parte de muito pouco mais que hatches aventureiros bem menores, como Sandero Stepway e HB20X, e menos que um VW CrossFox. Já em porte e conteúdo, equivale às versões mais caras e/ou com opcionais dos rivais, na faixa de R$ 90 mil.
O fato é que o preço é atraente, e, se tudo der certo, ele passa a ser fabricado no Brasil no primeiro trimestre do ano que vem (a JAC teve alguns problemas na implantação da fábrica em Camaçari, Bahia, mas diz que o crossover será montado em outro local, na mesma cidade; atualmente está negociando com o governo para garantir a operação).
O conteúdo é muito bom. Desde a versão de entrada (R$ 59.990) há itens que nem o irmão maior T6 tem, como ar-condicionado digital automático, monitor de pressão dos pneus, isofix, sensor de estacionamento e faróis de acendimento automático, entre outros itens. A intermediária (R$ 64.990) ganha rodas aro 16, assistente de partida em subidas, luz de neblina, rack e controle de estabilidade (uma oferta única desse importante item de segurança em crossovers nessa faixa de preço). Já à avaliada, topo de linha, somam-se bancos de couro, kit multimídia completo e câmera de ré.
Mas isso é comum na estratégia das chinesas. As grandes evoluções do T5 em relação à maioria delas – e também aos demais JAC – estão no design, na qualidade construtiva, no conforto, no acabamento e na dirigibilidade.
O design externo e interno, se não chega a exalar originalidade, é bastante bonito. Ganhou muitos elogios nas ruas, e sabemos bem que esse é um fator que ajuda a dar mais status ao carro. Muitas pessoas se surpreenderam quando revelei o preço do modelo, pois achavam que custaria bem mais caro.
Tanto o amplo espaço interno do T5 quanto seu ótimo porta-malas equivalem aos dos melhores crossovers compactos, como o HR-V e o também chinês Lifan X60. O painel tem iluminação azul agradável, o para-brisa distante garante amplitude e a central multimídia é completíssima, embora os comandos requeiram certo tempo de adaptação. O acabamento capricha no uso do couro, principalmente na porta, e discretas rebarbas e descuidos no acabamento não fogem à regra da maioria dos modelos da categoria.
O motor 1.5 16V ainda não é totalmente “liso”, mas tem ótimos 125/127 cv e força razoável (15,5/15,7 kgfm). Graças ao comando variável, dá pra rodar sempre em baixas rotações. Em alguns momentos parece até motor turbo, com boas respostas ao acelerador entre 1.500 e 3.000 rpm (depois vem um pequeno “buraco”, mas ele recupera bem o fôlego acima das 4.000 rpm). Em meio ao trânsito urbano, com exigência menor do motor, essa elasticidade na entrega de força ajuda a manter a cabine silenciosa.
Na verdade, apesar de usar um motor menor que a média, a aceleração de 0-100 em 10s8 e a máxima de 194 km/h o deixam muito próximo de modelos como EcoSport 1.6 e 2.0 PowerShift, HR-V 1.8, Duster 1.6 (ou 2.0 automático). E se comparado com o pesado Renegade 1.8, o T5 é até mais ágil. No consumo, também equivale aos melhores rivais, com nota A (gasta quase o mesmo que o EcoSport 1.6).
Na estrada, o nível de ruído é bastante baixo e a 120 km/h, graças à sexta marcha, o motor gira a discretas 2.700 rpm (e ela ainda podia ser um pouco mais alongada). Falando nisso, os engates da transmissão manual são justos e agradáveis, embora levemente ruidosos (nada muito grave).
A direção elétrica é uma das coisas que mais agradou. Surpreendentemente bem acertada, é levíssima em manobras e precisa na estrada. Nesse ambiente, graças ao bom acerto das suspensões macias (porém não demais), a despeito da elevada altura da carroceria típica dos modelos da categoria, correções são raramente exigidas.
Em uma semana ao volante do crossover, surgiram sim alguns poréns, mas foram poucos, e nada fora do comum. Falta o ajuste de profundidade do volante, que fica bem “em cima” do motorista, mas pelo menos a mim isso não foi um incômodo. Encontrei rapidamente uma boa posição de guiar e não mexi mais no banco. O que atrapalhou um pouco foi seu encosto, com a parte lombar muito adiantada. Mas deitei-o um pouco e resolvi o problema.
No fim, pela primeira vez senti que poderia ter um carro chinês sem reclamar. Vendo a história dos japoneses e dos coreanos, cada um deles à sua época, já sabia que isso ia acontecer. Que assim como eles os chineses logo aprenderiam a fazer carros de qualidade. Mas não imaginei que seria assim tão “para já”. Claro que há modelos melhores, mas não nessa faixa de preços. Em qualidade e custo-benefício, o T5 é um produto forte.
Acabo com só um porém, que entretanto não acusa falta de qualidade e não afeta a todos os interessados de maneira igual: o T5 é um ótimo carro, porém falta a transmissão automática. Mas esse porém também será logo solucionado, pois a opção com um moderno CVT chega muito em breve – na época no Salão do Automóvel.