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Na semana passada (2/9), milhares fãs comemoram o Dia Nacional da Kombi. Saudosistas lamentavam o fim  de sua produção, ocorrida em 2013, 56 anos após seu início. Uma caríssima série especial de 1.200 unidades “Last Edition” foi vendida à época por exagerados R$ 85.000 – mas encalhou, ganhou bons descontos e hoje é encontrada usada por menos de R$ 37.000 (rodada) ou R$ 60.000 a R$ 70.000 (zerada). Depois disso, o modelo virou cult, com unidades enviadas à Europa e aos Estados Unidos para serem transformadas em motor homes (uma ótima oportunidade de nos livramos das que restaram).

Bem, desculpe-me os fãs e entusiastas, mas eu nunca gostei da Kombi. Claro que reconheço sua importância histórica, as inovações que trouxe à época. Claro que simpatizo com as Kombi “paz e amor” dos hippies nos anos 1960 e a paixão dos feirantes por ela, mas devo reconhecer que deveria ter saído de linha pelo menos 35 anos antes. Não tenho saudade nenhuma da Kombi. Talvez isso tenha a ver com as minhas experiências negativas a bordo e atrás do modelo. Mas não só.

Embora a Kombi tenha sofrido algumas evoluções ao longo nessas quase seis décadas de vida, ainda tinha praticamente o mesmo projeto original, dos anos 1950. E foi justamente essa a causa de sua aposentadoria. Agradeço à lei (embora adotada tardiamente) do governo Lula que obrigou os carros vendidos no Brasil a serem equipados com airbags e ABS, itens de segurança essenciais e que já eram obrigatórios há décadas nos mercados desenvolvidos. E o projeto arcaico da Kombi a impossibilitava de adotar esses recursos – daí sua aposentadoria compulsória.

Já na minha história, não guardo nenhuma recordação positiva da Kombi. As primeiras lembranças que me veem à memória são ainda da primeira infância. Uma Kombi Escolar vinha me buscar em casa. Quando me sentava no banco dianteiro, sempre levava um susto achando que a Kombi ia bater no carro adiante: como ela não tinha quase nada à frente das pernas de quem viajava ali, a sensação era de estar sempre muito exposto a qualquer choque (e claro que não se tratava apenas de uma sensação, era um fato).

Depois que comecei a dirigir, as Kombi passaram a me incomodar por outros motivos. Muitas delas estavam velhas, caindo aos pedaços, desreguladas e soltando fumaça preta, fazendo barulho demais e incomodando todos ao redor. Mesmo as mais novas frequentemente eram um transtorno. Não entendia se dirigir mal era exigência para se ter uma Kombi, ou a culpa era simplesmente de suas deficiência mecânicas, mas as Kombi estavam sempre atrapalhando o trânsito, andando devagar demais, fazendo barbeiragens.

Anos depois, tive a resposta para essa dúvida ao guiar pela primeira vez a Kombi. A culpa era dela mesmo, não dos motoristas. Foi uma experiência assustadora. Essa última geração, refrigerada a água e com motor 1.4 “segurado” em 80 cv, acelerava como uma lesma – 0 a 100 km/h em 22,7 segundos com gasolina e 19,8 com etanol – e atingia a velocidade máxima de 131 km/h.

Mas o pior era a folga da direção. Alguns dizem ser tão grande que não era folga, eram verdadeiras  ferias. Sabem aqueles desenhos animados em que o cara dirige em linha reta mas fica jogando o volante para lá e para cá? Então, dirigir a Kombi é assim. Um esforço enorme para se manter em linha reta. Outra coisa horrível é a posição do motorista, sentado acima e à frente do eixo dianteiro. É preciso se acostumar a virar o volante bem depois do normal. Se virar na hora em que se costuma nos carros normais, você sobe na calçada nas curvas ou fecha alguém. Foram apenas uns 50 km ao volante, mas o suficiente para não ter a mínima vontade de guiar uma Kombi. A não ser que seja de uma geração atual, que não é vendida no Brasil (veja foto no álbum acima).