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Se alguém avisasse que sua vida corre grande risco e apontasse uma solução simples e sem custo nenhum, você não hesitaria em aceitá-la, não parece óbvio? Pois é, mas centenas de milhares de pessoas alertadas pelos famosos recalls sobre gravíssimos problemas em seus carros – que colocam sua saúde e vidas em risco – não fazem absolutamente nada a respeito.E essa atitude se torna ainda mais inexplicável considerando que o conserto é sempre totalmente gratuito e, na maior parte dos casos, bastante rápido.

Entre janeiro e junho deste ano, nada menos que 57 recalls foram feitos no Brasil, convocando para reparos urgentes quase um milhão de veículos (911.028, para ser exato). Deles, só 116.830 responderam ao tal chamado – o que nos deixa com exatos 794.198 carros circulando em nossas ruas que podem ser considerados verdadeiras “bombas-relógio” (considerando só os recalls deste semestre!). Acha exagero?  

Não é. Esses são veículos que não freiam, pegam fogo, perdem a direção, desligam seus motores em movimento, não engatam marchas ou mesmo aceleram sozinhos; cintos de segurança que não prendem os ocupantes, portas que se abrem sozinhas, airbags que jogam estilhaços de metal contra os passageiros, capôs que saem voando. Vamos a alguns desses problemas apontados este ano. Note que não se limitam a marcas generalistas, afetam as consideradas premium também.

  • Em 412 Audi A3 a barra de direção pode se soltar, causando perda de controle do carro.
  • Em 5.159 unidades dos BMW X3 e X4, o sistema isofix pode não aguentar a cadeirinha, e em caso de acidente pode causar a morte.
  • No caso do Chevrolet Sonic, 1.156 podem pegar fogo por um problema na bomba de combustível
  • O limpador de para-brisas pode não funcionar em 329 unidades do Citroën C3, causando perda de visibilidade em caso de chuva.
  • Já em 187 dos Citroën C4 Picasso e Grand C4 Picasso os cintos traseiros podem não ser capazes de conter os ocupantes numa colisão e as portas traseiras podem se abrir com o carro andando.
  • Uma falha de montagem nos servofreios de 420 Citroën C4 Lounge pode fazer com que o carro seja incapaz de frear.
  • Infiltrações de água afetam 7.970 Dodge Journey e 10.307 Fiat Freemont, podendo fazer o ABS e o controle de estabilidade pararem de funcionar.
  • 16.193 unidades do Fiat 500 podem apresentar um problema na embreagem que impossibilita a troca de marchas, o que pode causar acidentes.
  • 3.615 unidades de Toyota Corolla e Prius podem apresentar vazamento de combustível com risco de incêndio.
  • Nada menos que 143.017 Mitsubishi L200 Triton, Pajero e Pajero Dakar podem ter problemas na trava do capô, que pode se abrir com o carro em movimento.
  • Mas a responsabilidade por grande parte dos recalls deste ano é a fabricante de airbags japonesa Takata: inúmeros modelos podem soltar estilhaços metálicos contra ocupantes ao serem disparar os airbags. Ao menos 14 pessoas morreram ao redor do mundo, além daquelas gravemente feridas, principalmente no rosto. O problema afetou pouco mais de 30 milhões de carros de diferentes marcas em todo o mundo.

Com se vê, não são problemas complicados, e seus riscos estão longe, mas muito longe mesmo de serem desprezíveis. Boa parte dos reparos pode ser agendados nas concessionárias e não demoram mais que duas horas. E, pensando bem, mesmo que você tivesse que deixar o carro uma semana na concessionária, valeria a pena. Afinal, qual a importância que você dá para a sua vida e a de seus familiares?

As marcas são obrigadas a fazer esse reparos, mas claro que se 90% dos consumidores não comparecem, melhor para elas. Economizam muito dinheiro assim. Por isso, não espere que o vendedor ou o atendimento da marca te liguem falando do defeito e oferecendo o reparo.

Para saber se seu carro já foi convocado, acesse http://www.procon.sp.gov.br/recall.asp e clique em Busca Modelo/Marca. Outro ferramenta chamada Consulta Recall foi lançada essa semana pelo Denatran, e permite buscar todos os recalls de seu carro digitando o número do chassi (mas desde 2011). Basta clicar em http://recall.serpro.gov.br e preencher com os dados de seu carro.

Algumas montadoras também têm sistemas de busca via número de chassi ou modelo em seus próprios sites para o consumidor conferir se houve recall. Já no caso de comprar um carro usado, caso o modelo tenha feito parte de recall, procure a montadora com o número do chassi para verificar se o veículo já passou pela troca do componente com defeito. Caso contrário, a marca deve fazer o reparo.