09/03/2016 - 12:09
A moda dos “jipinhos urbanos” pegou. Até demais. Todos os planos, projetos, estudos e conceitos miram nessa direção. O mercado só quer saber deles, agora chamados de SUVs urbanos ou de crossovers. E eu já não aguento mais.
O segmento aflorou no Brasil em 2003, com o Ford EcoSport, mas deve muito crédito à Fiat Palio Weekend Adventure, de 1999, que já identificava essa vontade do consumidor e é por alguns considerado um dos primeiros “crossovers” modernos.
Na realidade, há modelos mais antigos que poderiam se encaixar na definição técnica de crossover – um carro com cara de SUV (utilitário esportivo), mas construção sobre monobloco (e não cabine sobre chassi, como eram os SUVs antigos e ainda são modelos “durões” como Toyota SW4 e Chevrolet Trailblazer. Em 1955, o russo GAZ-M20 Pobedas modificado (M-72) foi o primeiro 4×4 feito com monobloco. Mas foi em 1988, com o norte-americano AMC Eagle, que a categoria nasceu. Ele fazia parte de uma nova “linha de veículos 4×4 com a dirigibilidade de um carro de tração traseira, mas construído com monobloco”, como conta Doug Shepard em um livro sobre seu desenvolvimento.
Já o termo crossover em si surgiu bem depois. Muito depois da Palio Weekend Adventure, e até depois do EcoSport, o mais marcante do advento da categoria no Brasil. Nasceu como termo de marketing, e em janeiro de 2008 o Wall Street Journal os chamou de “peruas que parecem SUVs mas têm rodar de carro”. Pouco depois, a CNNMoney escreveu que “muitos consumidores não sabem a diferença entre crossover e SUV”. De fato. É uma afirmação que se mantêm verdadeira até hoje, ainda mais porque cada marca comercializa seus modelos com o nome que o marketing quer. Exemplo? O Dodge Journey é vendido como crossover, enquanto o Fiat Freemont, exatamente igual, é propagandeado como SUV.
Enfim, sejam chamados de crossovers ou SUVs, esses carros com suspensão mais alta para encarar buracos e valetas e posição de dirigir elevada para garantir aos motoristas um certo senso de superioridade foram de moda passageira a “maldição eterna”. Ninguém parece disposto a abrir mão deles tão cedo. Mas o que oferecem de tão bom, além dessas pequenas – e relativas – vantagens citadas? O que herdaram dos SUVs? Cada vez menos, devo dizer.
Na transformação de SUVs em crossovers, primeiro abandonaram sua tradicional construção sobre chassi para eliminar peso. Depois, abriram mão da (quase sempre) desnecessária tração 4×4 para reduzir consumo e eliminar mais peso. Aí ficaram mais baixos e melhoraram a aerodinâmica para aprimorar a estabilidade em curvas e reduzir o consumo. Na busca por parecerem cada vez mais – principalmente em dirigibilidade – com carros de passeio, esses tais SUVs modernos ou crossovers estão se transformando em… carros de passeio!
Ao volante, alguns deles lembram muito as peruas. Foi o que senti recentemente ao andar por aí em carros como o Honda HR-V e, de forma ainda mais gritante, o BMW X1 – que não parece muito diferente de guiar que um Série 2 Active Tourer, a perua/minivan da mesma marca e que é feita sobre a mesma plataforma.
Diante disso, parece que daqui a alguns anos vamos ter ruas cheias de peruas e minivans, e aí vamos olhar para o passado e ver de onde elas vieram. Eu, já bem velhinho, estarei lá para responder: “Essas peruas evoluíram a partir dos crossovers, um tipo de carro que nasceu no início do século. Mas eles tinham aerodinâmica ruim, estabilidade bem inferior – a ponto de alguns trazerem avisos sobre risco de capotamento ou sistemas eletrônicos para impedi-lo –, consumo alto e, muitas vezes, porta-malas menores que os das nossas peruas atuais. Por muitos anos eram a única coisa que as pessoas compravam. Mas, depois de muito esforço, os departamentos de engenharia conseguiram melhorar esses defeitos. E transformaram os crossovers em peruas”.
Tomara.