Já falei sobre como o novo VW Nivus pode ajudar a Volkswagen a ser a marca mais vendida do Brasil (leia a análise aqui). Essa é a notícia boa para a marca alemã, que teve uma ótima recepção por parte de crítica e do público com o VW Nivus. A má notícia é que este mesmo modelo pode acabar atrapalhando o irmão T-Cross na disputa pela liderança do segmento de SUVs compactos. E ajudando o Chevrolet Tracker a se consolidar como novo líder da categoria.

O T-Cross chegou em abril do ano passado. Aos poucos foi crescendo: 3.002 carros vendidos em maio, 4.224 em agosto, 5.084 em outubro… e chegou à liderança nos dois últimos meses do ano. Foi por pouco, e por pouco tempo: 23 unidades a mais que o Jeep Renegade em novembro e seis (meia dúzia) a mais que o Hyundai Creta em dezembro.

Neste ano, janeiro foi atípico, e a Volks vendeu bem menos T-Cross. Em fevereiro, porém, o T-Cross voltou com tudo. Superou o Renegade por 20 unidades e foi líder de vendas novamente. Foram 5.374, ante 5.354 do rival. Em março, no entanto, o Jeep Renegade superou Volks por 75 unidades.

A PANDEMIA, MAS NÃO SÓ

Quando tudo estava para se decidir nessa acirrada disputa, veio a pandemia. Aí não dá para contar mais nada. Algumas fábricas tiveram que parar antes, outras depois, assim como as concessionárias.

Ah, e junto com a pandemia veio outro grande problema para a Volks: o novo e melhor (e agora nacional) Chevrolet Tracker (leia aqui nossa avaliação).

Chvevrolet Tracker 2021
Foto: Divulgação

O novo Tracker chega bastante forte. Mas, a princípio, chega roubando clientes tanto do T-Cross quanto do Renegade e de todos os outros rivais. Por similaridade, eu diria que mais do T-Cross. Mas nunca é apenas um fator que define os resultados.

Agora, de volta à outra “má notícia”. O VW Nivus. Embora não seja exatamente um rival do T-Cross e cia., pelo estilo e pelo custo, e também pelo espaço traseiro, o novo Volks deve fisgar consumidores destes modelos.

Volkswagen Nivus
Foto: Divulgação

E a Volks é uma marca com muitos clientes bastante fiéis, que não tenderiam a comprar um rival de outra marca. Mas, se virem o Nivus como opção mais barata e com porta-malas maior, mais estilo e sistema multimídia mais moderno, podem optar por ele.

Assim, mesmo que essa migração (“canibalização”, no jargão do marketing, mas algo normal e inevitável, na opinião deste blog) afete pouco o T-Cross (este Blog acha que será considerável), vimos que a disputa pela liderança do segmento estava na casa das dezenas, então… Pode, sim, ser o suficiente para tirar o T-Cross do topo do ranking.

Jeep Renegade (Roberto Assunção)

Deste modo, o T-Cross deixaria o Tracker “sozinho” na disputa com o Jeep Renegade. E este último está em desvantagem com sua mecânica ultrapassada, que usa o fraco e gastão motor 1.8 aspirado (leia aqui a avaliação), inferior em consumo e desempenho que os turbinados dos rivais.

RENEGADO, MAS NÃO POR MUITO TEMPO

Mas, se o Renegade ainda vai bem com a desvantagem mecânica, quando chegar o novo motor 1.3 turbo, talvez só no ano que vem, vai deixar de ser “renegado” por muitos consumidores. E este blog avalia que voltará para recuperar a liderança que está perdendo agora.

Aí, com Nivus ou sem, com Tracker ou sem, o T-Cross provavelmente não se manteria no topo do ranking (e ainda tem o Compass, que terá a mesma mudança, e por muitas vezes já vendeu mais que os compactos). Nessa disputa anda parecerá o novo Creta, mas o visual deve se encarregar de mantê-lo longe da liderança.

DIVIDIR PARA CONQUISTAR

O que importa é vender mais e ganhar mais dinheiro, não? A Volks faz os dois modelos na mesma base e com os mesmos componentes. Assim tem economia de escala (lucra mais). A Renault já tinha sacado isso e foi líder de vendas de SUVs compactos em 2018, somando Duster e Captur, como mostrou o Blog Sobre Rodas (leia aqui). Como T-Cross e Nivus, os dois Renault são o mesmo carro com uma casca diferente.

Então, desde que a soma das vendas de T-Cross e Nivus seja maior do que o que vendia o T-Cross sozinho (acho que será maior que de qualquer outro SUV compacto ou soma deles), tudo ótimo. Claro que devemos incluir as expectativas de venda e de retorno de investimento nessa conta. E também não deixar de conferir como as vendas do Polo também são afetadas. O importante é lucrar mais, claro.

Mas também é bom para qualquer marca dizer que tem “o SUV mais vendido do Brasil”. E quem mais provavelmente vai fazer isso nos próximos meses, e quem sabe também no ano que vem, dependendo de quando chegar o Renegade turbo, deve ser mesmo a Chevrolet.