O secretário do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços Uallace Moreira afirmou nesta terça-feira, 28, que algumas montadoras de automóveis no país podem paralisar suas produções dentro de duas a três semanas se uma crise internacional na oferta de chips persistir.

“Se não houver uma solução nesse espaço de tempo curto, em duas ou três semanas, pode haver um processo de paralisação de algumas montadoras”, disse o secretário.

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Reunião sobre a crise dos chips

O secretário e o presidente em exercício, e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin, se reuniram mais cedo com o presidente da associação de montadoras, Anfavea, Igor Calvet.

A crise de oferta foi provocada por uma disputa entre a Holanda e China sobre o controle da fabricante de microprocessadores Nexperia.

Reunião do governo com associações para tratar crise dos semicondutores
Reunião do governo com associações para tratar crise dos semicondutores – Foto: Júlio César Silva/MDIC

Moreira não identificou quais montadoras instaladas no Brasil podem ser as primeiras a serem afetadas por problemas na oferta de chips. A Anfavea já havia manifestado preocupação com a situação na semana passada, quando citou riscos gerados por uma escassez de chips semelhante à ocorrida na época da pandemia.

“O pedido do setor produtivo é uma tentativa de diálogo por parte do governo brasileiro com o governo chinês para deixar bem claro que o Brasil está fora desse conflito de natureza geopolítica e que, portanto, o Brasil não pode e não deve participar ou sofrer as consequências desse embargo”, disse o secretário.

Tratativas do governo com a China

Moreira disse também que Alckmin já entrou em contato com o embaixador brasileiro na China e com o embaixador chinês no Brasil para que ele dê início de negociações entre os países. Segundo ele, o representante chinês se comprometeu a falar com autoridades chinesas enquanto o embaixador brasileiro deve fazer a interlocução entre as embaixadas e a Nexperia.

Disputa pela Nexperia gerou crise dos chips
Disputa pela Nexperia gerou crise dos chips – Foto: REUTERS/Jonas Walzberg

Nexperia tem 40% do mercado

Moreira destacou ainda que, pela forma como os setores de semicondutores operam e o espaço que a Nexperia ocupa no mercado, cerca de 40%, não é possível mudar o fornecimento das peças para outro fornecedor.

Pequim anunciou as restrições depois que o governo holandês assumiu o controle da Nexperia devido a questões de propriedade intelectual relacionadas à controladora chinesa Wingtech, que foi colocada em uma lista de sanções do governo dos Estados Unidos no ano passado, sinalizando-a como um possível risco à segurança nacional norte-americana.

A Nexperia fabrica chips que não são considerados sofisticados, mas são necessários em grandes volumes e amplamente utilizados nas indústrias automotiva e de eletrônicos de consumo. A maioria dos chips da empresa é produzida na Europa e finalizada na China e não está claro quanto tempo os estoques vão durar.

Segundo a Anfavea, um veículo moderno usa, em média, de 1.000 a 3.000 chips.

Fontes do setor afirmaram à Reuters na semana passada que a troca de fornecedores é possível, com a Infineon, NXP e Texas Instruments sendo citadas como possíveis alternativas, mas isso demanda tempo devido aos processos de aprovação necessários pelas montadoras.

crise dos chips
Crise dos microchips – Foto: Arquivo Motor Show

Industria de autopeças diz que há restrição no fornecimento de chips

Montadoras instaladas no Brasil como Volkswagen, Stellantis, GM, Toyota, Hyundai, BYD, entre outras, poderão paralisar suas produções devido a escassez de chips.

“Nas últimas semanas, observamos uma redução significativa na disponibilidade de componentes eletrônicos essenciais para módulos de controle, sistemas de injeção e produtos de alta tecnologia aplicados em veículos leves, comerciais e industriais”, afirma a Abipeças (Associação Brasileira da Indústria de Autopeças) e o Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores), em carta enviada ao Geraldo Alckmin, vice-presidente do Brasil e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

Impacto da crise dos chips

Segundo a Abipeças e o Sindipeças, o impacto se estende também às empresas de autopeças e de eletrônica embarcada. A falta de componentes pode gerar um risco real de paralisação de linhas de produção. As entidades pedem uma intervenção do governo para resolver o problema.

“Solicitamos o apoio do governo federal, em especial do MDIC e do MRE, por meio de gestões técnicas e diplomáticas junto ao governo da China, de forma a garantir a continuidade do fornecimento e a estabilidade da cadeia automotiva e eletrônica nacional.”

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