A competência técnica de nossa indústria é indiscutível. Até Fórmula 1 já concebemos dentro de nossas fronteiras, coisa que muito país desenvolvido ainda não foi capaz de fazer. Mas sempre existe uma pedra no meio do caminho. A Global NCap, uma entidade sem fins lucrativos, foi criada com o objetivo de checar a segurança dos carros na Europa. Com seu corpo técnico conduzido por especialistas e engenheiros conhecedores de segurança veicular, criaram normas e desenvolveram métodos para avaliar a segurança dos automóveis. O resultado prático desse empenho? Sob o crivo da entidade, os fabricantes europeus foram melhorando a qualidade de seus produtos até que eles passassem a obter as sonhadas cinco estrelas nos testes da entidade. E, claro, passaram a utilizar isso como argumento de vendas.

Pois bem. Recentemente, um braço da Global Ncap, a Latin NCap, ligada à poderosa Federação Internacional de Automobilismo (FIA), ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e à Fundación Gonzalo Rodriguez, começou a avaliar a segurança dos carros produzidos na América Latina. Os resultados foram catastróficos. Uma vergonha, principalmente quando lembramos como os carros chineses foram criticados pela indústrica local em virtude de sua “segurança precária”. Enquanto o mais simples carro europeu obtém pelo menos quatro estrelas, os nossos de entrada não passaram de uma. E olha que eu, como jornalista, já cansei de participar de eventos de lançamentos de novos produtos com similares na Europa em que os fabricantes afirmavam: “O carro vendido aqui é idêntico ao modelo europeu, portanto tão seguro quanto…” Os testes mostraram que não é bem assim. Não basta o modelo também ser produzido na Europa para obter a mesma performance nos crash tests.

Nossa indústria não sabe fazer carros seguros? Claro que sabe. Tanto que a maioria delas, se não a totalidade, também está presente no mercado europeu e, portanto, atende às exigências rigorosas de lá. Como até agora ninguém controlava e tornava público os resultados, porque investir em aços mais nobres no monobloco, estruturas mais complexas na carroceria? Todos sabemos que aqui esses argumentos não vendem um carro a mais e, construído com base na segurança, o carro perderia competitividade. Agora com os testes da Latin NCap esse cenário muda. Que mude também nossa cabeça como consumidor. Vamos passar a colocar a segurança como decisão de compra. O Brasil agradece!

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