“Carro antigo é investimento e pode valorizar de 20% a 30% ao ano”, afirma Alex Fabiano, dono da loja GG World Classic Cars, especializada no tema. Isso não é por acaso, o último levantamento do setor mostra que esse mercado movimenta R$ 32 bilhões por ano no Brasil e há cerca de 1,2 milhão de colecionadores, que possuem em média de 2,7 veículos clássicos (FIVA/FBVA/2019).

Ao entrar no estabelecimento do GG, como é popularmente chamado, a reportagem se deparou com Porsches e Mercedes, mas o que chamou a atenção foram dois modelos da Ford: um Ranchero GT (1971) e um Thunderbird (1964) – este último acompanha o entrevistado na foto de destaque.

Ford Ranchero (1971) – Crédito: Mauro Balhessa/IstoÉ

Atualmente uma celebridade sobre o assunto na internet, com 1 milhão de seguidores entre Instagram, Facebook, TikTok e Youtube, GG contou a sua história com brilho no olhar e sorriso na voz, principalmente quando detalhava cada modelo, seja placa dos autos que teve ou motor, ou mesmo os perrengues que passou ao longo da sua estrada.

Paixão por carros

Tudo começou com o seu pai, que trabalhava na Chrysler do Brasil, em Santo André (SP), em 1971. Na infância já acelerava um “jipinho” e uma pequena moto, diz. Além disso, seu pai conseguia liberações da empresa e chegava em casa com carros como Polara e Charger R/T. A primeira vez que foi dirigir já sabia tudo.

“Eu peguei o carro, liguei, saí engatando, acelerando. Meu pai falou: isso não é possível. Eu aprendi só de olhar, para você ver o quanto que eu gostava.”

Alex entrou no negócio de carro como vendedor de consórcio, na época a prática estava começando, conta. E como adorava o tema, vendeu bastante e faturou. Depois, como vendedor. Com isso, comprou o seu primeiro automóvel, um Fusca 1974 na cor Ocre Marajó.

Foi crescendo e teve um “estalo”, como ele diz, aos 22 anos, de abrir a sua própria loja. Ele ficou um ano, mas explica que não soube manter.

“Foi a minha primeira queda, o meu negócio quebrou. Eu não consegui sustentar. Mas ali, naquele momento que eu fui para o buraco, eu fiquei pensando o seguinte, eu não vou considerar isso como uma derrota e sim como uma experiência, uma vitória. Todos os nossos erros servem como investimento para nossa vida profissional”. 

E voltou com o serviço de polimento de carros, depois aviões e helicópteros no Campo de Marte, aeroporto localizado na zona norte da cidade de São Paulo.

Mas ele queria mais e a sua paixão por automóvel falou mais alto, mas agora como piloto. Ao longo da carreira no automobilismo, que começou em 2012, GG passou pela categoria Audi DTCC Brasil e depois por Endurance, GT e NASCAR Whelen Euro Series. Em 2015 foi para os caminhões da Fórmula Truck, competindo por cinco temporadas (2015, 2016, 2017, 2018 e 2022).

Carros antigos

Em 2016 decidiu dar uma trégua nas competições e partiu para uma nova empreitada, os carros antigos. Quando estava pensando em parar com as corridas, ele viu um Opala SS 1972 na internet e adquiriu em troca de uma Amarok 0 km e mais uma quantia de R$ 80 mil, juntamente com outro Opala SS 1980.

Ele já tinha muitos seguidores no Facebook e utilizou a plataforma para vender os modelos. Isso viralizou e atingiu mais de 4 milhões de visualizações, ressalta. Nessa, ele viu que o negócio podia render. Fez seu portfólio, pegava os modelos, melhorava e colocava na internet.

“Eu comecei a ficar conhecido como GG dos carros antigos, não mais somente como GG piloto. Pela qualidade dos meus carros, por já gostar, por fazer no capricho, por procurar mercadoria de alto nível”. 

Ford Thunderbird (1964) – Crédito: Mauro Balhessa/IstoÉ

Para isso, Alex criou o selo “GG de qualidade”, que está presente em seus carros. A empresa começou a crescer e tomou corpo.

“Hoje é uma das maiores e mais respeitadas empresas do ramo. Geralmente, nós compramos carros prontos, de baixa quilometragem, originais de fábrica e com extrema qualidade.”

Ford Thunderbird (1964) – Crédito: Mauro Balhessa/IstoÉ

A lista engloba veículos como: Variante (0km), Polara (0km e com plástico no banco), Monza (0km), XR3 (0km), Gol GTI (20 mil km) e Del Rey (0km).

“A gente consegue essas mercadorias porque elas foram guardadas. Muitas eram de coleção e outras de espólio. Também dou assessoria para colecionadores.”

Ford Thunderbird (1964) – Crédito: Mauro Balhessa/IstoÉ

São cerca de 150 carros comercializados anualmente, sendo que os valores ficam em torno de R$ 100 mil a R$ 500 mil. Os esportivos nacionais, Maverick, SS, Charger R/T, Gol GTI, são o topo da cadeia, de R$ 350 a R$ 500 mil, dependendo do estado dos carros. Um dos mais valorizados é o Fusca alemão Split Window (1949 até 1953), que pode chegar até R$ 1 milhão.

“O carro chega aqui e passar por uma revisão completa e um detailing. [Nesse detailing], é corrigido qualquer tipo de detalhe. Depois, ele vai para o estúdio onde é fotografado e filmado.”

Alex Fabiano – Crédito: Mauro Balhessa/IstoÉ

Expansão dos carros antigos no Brasil

Segundo GG, as empresas como a dele foram divulgando e profissionalizando esse serviço, o que favoreceu a expansão da cultura.

“As pessoas começaram a entender que carro antigo não é somente uma nostalgia, não é apenas a realização de uma sonho, mas também um investimento. Com a entrada dos carros elétricos, os antigos vão ficar cada dia mais raros.”