Alguns carros automáticos vendidos no Brasil tem, bem ao lado da alavanca do câmbio, um botão com o desenho de um floco de neve. Não é o comando do ar-condicionado, e sim o controle que ativa o “modo neve”. Trata-se de um recurso que altera as trocas de marchas, normalmente forçando a saída em segunda e deixando o conversor de torque “escorregar” mais no caso de perda de tração, permitindo que o carro saia de uma situação de pouca aderência, como acontece quando neva – exatamente o que você faria instintivamente, dosando embreagem e acelerador.

E aí você deve estar se perguntando: “a não ser que que eu more em São Joaquim, SC, onde usaria o sistema uma vez por ano – se nevasse –, qual é a utilidade desse troço?”

Pois saiba que ele é muito útil, como descobri há alguns anos, a bordo de uma Peugeot 307 SW. Fui passar as férias na Serra da Mantiqueira e fui agraciado com dez dias de chuva praticamente ininterrupta. As rádios avisavam que a estrada por onde fui estava totalmente bloqueada, e restava apenas uma opção de caminho – também em condições deploráveis, praticamente intransitável, exceto para veículos 4×4.

Bem, eu tinha que ir embora e resolvi encarar o desafio, junto com um amigo em um modelo “aventureiro”, desses com visual “diferenciado”, suspensão elevada e pneus lameiros, mas nenhum recurso difererente de tração – 4×4, locker, XDS, nada disso.

Depois de muito sufoco, chegamos a uma enorme ladeira, completamente coberta de lama fofa, daquelas difíceis até para 4×4. Primeiro, meu amigo e seu carro aventureiro tentaram subir. No meio do caminho, as rodas patinavam, ele voltava. Duas, três tentativas… e ele acabou encalhado.

Por sorte, bem nessa hora apareceu um bom samaritano em um Toyota Bandeirante. Rebocou meu amigo para o alto do morro e ficou esperando para me salvar.

Antes de tentar minha subida, vi o botão “neve” junto ao câmbio e pensei “qual a diferença entre neve e lama, fora a cor? Apertei o botãozinho, acelerei tudo e fui na fé. E não é que a eletrônica deu conta? O carro deu uma patinada aqui e ali, o motor variava a potência, o conversor de torque segurava a tração nas rodas e – para surpresa geral – dispensei a ajuda do Bandeirante.

Esse episódio me deixou pensando que, se fosse executivo de uma montadora, trocaria todos os botões “neve” por “lama”. Afinal, não temos neve no Brasil, mas temos muita lama – onde o recurso se mostrou muito útil.

Hoje, recurso similar, porém muito mais sofisticado – pois trabalha em conjunto com o ESP e outros sistemas – é usado em veículos como o Peugeot 2008, que tem um seletor de terreno com modos areia, lama e, claro, neve (que você não vai precisar usar).