Quedas de energia prolongadas deixaram de ser exceção em grandes cidades brasileiras, vide os bairros em São Paulo que ficaram dias no escuro após tempestades no início do mês. Com isso, uma pergunta começou a surgir fora do círculo técnico e entrou no debate do consumidor comum: um carro elétrico pode manter a casa funcionando quando a luz acaba? A resposta é sim. E, na maioria dos casos, sem necessidade de sistemas complexos.

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Kia EV9 V2L – Foto: divulgação

Como o carro elétrico fornece energia

A base dessa solução é a tecnologia V2L, sigla para Vehicle to Load. Ela permite que a energia armazenada na bateria do carro seja usada externamente, transformando o veículo em uma fonte móvel de eletricidade. Esse recurso já está disponível em boa parte dos carros elétricos e híbridos plug-in vendidos no Brasil, especialmente em modelos das marcas que hoje lideram o segmento. Todos os EVs ou PHEVs da BYD e da GWM, por exemplo, já trazem a função.

V2L BYD – Foto: divulgação

Na prática, o carro elétrico passa a funcionar como um grande banco de energia. A bateria alimenta equipamentos domésticos por meio de uma saída de corrente alternada, semelhante à de uma tomada convencional. Geladeira, iluminação, televisão, roteador e carregadores eletrônicos entram facilmente nessa conta.

Dá para alimentar a casa inteira?

Audi e-tron em raio-X – Foto: divulgação

Depende do consumo e da forma de uso. Com uma bateria entre 50 e 70 kWh, comum num carro elétrico atual, é possível manter os itens essenciais da residência funcionando por vários dias, desde que haja controle de carga. Com uso moderado, esse período pode chegar a três ou até quatro dias.

O limite aparece quando entram equipamentos de alto consumo, como ar-condicionado, forno elétrico, secadora ou chuveiro. Esses itens aceleram o esgotamento da bateria e reduzem drasticamente o tempo de autonomia. Por isso, o uso do V2L costuma ser pensado como energia de contingência, não como substituto permanente da rede elétrica. Basicamente, o carro deve ser visto como um gerador de energia emergencial, nada além.

V2L Hyundai – Foto: divulgação

Como essa energia chega à casa

Existem duas formas principais de usar o V2L. A mais simples é conectar os equipamentos diretamente ao carro elétrico, usando o adaptador V2L e extensões adequadas. Funciona bem em situações emergenciais, mas não é a solução mais organizada.

Cabo V2L GWM – Foto: divulgação

A alternativa mais segura envolve preparar a instalação elétrica da casa para receber essa energia. Nesse caso, cria-se um ponto dedicado, isolado da rede pública, que distribui a eletricidade apenas para circuitos específicos. Isso evita retorno de energia para a rua e reduz riscos de sobrecarga.

Existe custo de instalação?

O custo não está no carro elétrico, que muitas vezes já sai de fábrica com a função V2L, mas sim na adaptação da casa. O primeiro item é o adaptador V2L, geralmente vendido separadamente, como acessório: a GWM, por exemplo, vende um que permite ligar até três aparelhos elétricos simultâneos, e custa pouco menos de R$ 1 mil.

Cabo adaptador V2L da GWM – Foto: divulgação

Além disso, se o proprietário optar por uma solução mais segura e organizada, será necessário investir em ajustes no quadro elétrico, disjuntores específicos e mão de obra especializada. O valor dessa empreitada depende de muitos fatores: nível de instalação elétrica do imóvel, facilidade de adaptações, ou mesmo se ele fica num condomínio ou não, por exemplo.

O que considerar antes de usar

Cabo V2L no BYD Seal – Foto: divulgação

Usar o carro elétrico como fonte de energia exige planejamento. Improvisações aumentam o risco de choque elétrico e danos aos equipamentos. Outro ponto importante é a gestão da bateria. Toda energia usada na casa é energia que deixa de estar disponível para rodar depois. Em um apagão prolongado, esse equilíbrio precisa ser considerado.

Mesmo com essas limitações, o V2L muda o papel do carro elétrico. Em vez de ser apenas um meio de transporte, ele passa a atuar também como reserva energética móvel, algo que veículos a combustão nunca conseguiram oferecer.