01/05/2009 - 0:00
Desde o início da crise econômica mundial, no final de 2008, o mercado automotivo virou de cabeça para baixo. O governo diminuiu o IPI para alavancar a venda de carros novos, liberou dinheiro para financiamento de usados, e conseguiu manter as vendas em um patamar de fazer inveja a qualquer país desenvolvido. Ainda assim, as consequências da tempestade existem e devem mudar o panorama do mercado.
A margem de lucro das montadoras deve diminuir, e o governo, provavelmente, buscará um modo de reduzir a tributação dos carros. Afinal, percebeu que pode manter a arrecadação, com aumento nas vendas. Segundo analistas de mercado, nunca mais o carro usado voltará a ser tão valorizado. O Brasil tinha uma realidade diferente da vista no resto do mundo. Ainda era um dos únicos países nos quais se comprava um carro 0 km por R$ 40 mil e se revendia, dois anos depois, perdendo apenas R$ 4 mil. Carros são bem de consumo e, como tal, desvalorizam. E muito.
Portanto, se você está esperando a crise passar para vender seu usado, pense bem. Essa pode não ser uma boa ideia. Se por um lado, seu usado está valendo menos, a boa notícia é que você também pode conseguir preços ótimos na hora de comprar um 0km. Mesmo sobre as incríveis ofertas que têm sido anunciadas nos jornais, é possível conseguir excelentes descontos. Saímos atrás dos anúncios mais tentadores dos jornais e pechinchamos o máximo possível. Os resultados foram surpreendentes.
Algumas negociações assustam pela facilidade, outras pela dificuldade. Foi o caso do Fiat Linea 1.9, por exemplo. Apesar de suas vendas estarem abaixo das expectativas, o carro não tem os descontos que se imagina. Com preço sugerido de R$ 57.537, aparece nos anúncios por R$ 53.900 e, mesmo com muita choradeira, é difícil conseguir arrancar alguns centavos de desconto. Depois da pechincha, conseguimos apenas uma promessa de um vendedor de que tentaria tirar R$ 3.900 do preço, e que, se conseguisse, nos ligaria; o que não aconteceu. Com o Mille foi o mesmo. Como carros baratos têm menor margem de lucro, não nos fizeram abatimento. E pior: pediram um valor maior que o sugerido pela fábrica.
Há também as armadilhas que se escondem por trás dos anúncios e que podem pegar o consumidor distraído. Quer um exemplo: o carro é zero-quilômetro, mas o modelo é 2008 e isso está escrito naquelas letrinhas miúdas do rodapé. Ou ainda: o modelo é 2009, mas ninguém faz questão de avisar que a montadora já lançou a linha 2010. Claro que, dependendo da situação, pode até valer a pena comprar um carro desatualizado, se o desconto for bom, mas o consumidor tem que ser claramente avisado disso.
As concessionárias Toyota, por exemplo, estão vendendo um modelo 2010, cerca de R$ 6 mil mais caro do que o 2009, só que o carro, nas palavras da própria vendedora, “não teve absolutamente nenhuma alteração”. “Estamos fazendo como as outras montadoras, a Fiat também já lançou sua linha 2010”, justificou. Mas ela só esqueceu de dizer que a linha 2010 da Fiat não teve esse acréscimo de R$ 6 mil. Pelo contrário, alguns modelos até baixaram de preço.
Na hora da pechincha, alguns modelos assustaram pela facilidade de negociação. Foi o caso do Focus Sedan GLX automático, que tem preço sugerido de R$ 60.685. Nas últimas semanas, o modelo vem sendo oferecido nos jornais por R$ 59.400. Depois de muitas idas e vindas, nossos repórteres chegaram com o menor preço obtido na pesquisa: R$ 57.980, divididos em uma entrada de R$ 28.750, mais 24 prestações de R$ 1.238, com juro zero (segundo a concessionária). Apesar de estarmos animados com o valor, o consultor financeiro José Rubens, da ZR Consultoria, que nos auxiliou durante a realização da reportagem, foi categórico: “Não existe juros zero, a taxa está embutida”, alertou. Então voltamos a campo e, de fato, para pagamento à vista, conseguimos valores mais baixos: R$ 54.500 na revenda Lemar e R$ 53.990 na concessionária Sandrecar, que, curiosamente, fez esse abatimento sem ter o carro no estoque.
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No caso do Focus, a chegada iminente da configuração flex é uma explicação bem razoável para esses grandes descontos, mas e no caso dos modelos recém-lançados como o sedã Vectra e sua versão hatch, o Vectra GT, que acabam de chegar às lojas reestilizados? Por que conseguimos “comprá-lo” por um preço tão abaixo do sugerido? “Quando a montadora ou a concessionária está precisando de capital de giro, desova os estoques e os preços caem muito”, afirma o nosso consultor, Rubens. No hatch, que tem preço de tabela de R$ 56.034, conseguimos chegar a R$ 51.990. Já no Vectra Next Edition, chegamos ao valor de R$ 49.500, quando o anunciado, no mesmo período em que cotamos, era R$ 49.990. O valor desse modelo no site da montadora, na época era de R$ 54.098.
Mais incríveis ainda foram os descontos que conseguimos nos caros de montadoras coreanas, que estão aproveitando este momento de crise para aumentar sua participação de mercado, conquistando novos clientes. Negociando um Hyundai Azera 0km, o valor mais baixo que chegamos foi na concessionária Nova Hyundai, onde o preço ficou R$ 68.000, à vista. O sedã grande com motor 3.3 V6 de 245 cv, câmbio automático e oito airbags (a marca anuncia 10), chegou ao Brasil custando cerca de R$ 130 mil e hoje na tabela sai por R$ 88.250.
Anunciado em promoções por R$ 74.900, pode seguramente ser comprado por valores bem mais baixos, como ficou comprovado.
Outro modelo fácil de negociar é o Hyundai Santa Fé: um SUV de grande porte, belo design e eficiente motor 2.7 de 200 cv. Com preço de tabela de R$ 120.340 (já abaixo dos concorrentes), ultimamente vem sendo anunciado em promoções por R$ 99.900. Mas, com uma boa conversa, “fechamos negócio” por R$ 94.700. Um desconto total de R$ 25.640! Na Kia, um Sportage básico anunciado por R$ 69.990 e com preço de tabela de R$ 77.200, pode ser negociado por um valor ainda menor. Em uma das concessionárias consultadas por telefone, o vendedor não quis informar seu preço mínimo, mas quando a repórter perguntou se conseguiria comprar o modelo à vista com o valor que tinha na conta (R$ 65.000), o vendedor sorriu e afirmou: “com certeza dá pra comprar!”. Em outra concessionária, conseguimos R$ 67.500 à vista ou financiado.
Na verdade, em todas as consultas saímos com algum desconto, ainda que pequeno, sobre o valor da “promoção” mas, em alguns casos, foram para pagamento à vista e carros na cor sólida. Se a intenção for financiar, a dica é negociar até o limite máximo, afirmando que pagará o carro à vista. Quando descobrir qual é o menor preço do modelo, anuncie que vai financiar. Terá que reabrir a negociação, mas pelo menos estará a par de qual é o real valor daquele produto. “Financiando, o valor demora para entrar na conta da concessionária por isso eles aumentam o preço. Por outro lado, elas ganham comissão dos bancos quando o cliente financia”, explica Rubens. Portanto, na dúvida, o melhor negócio é pechinchar!
* Todos os preços foram cotados entre os dias 10 e 16 de abril