Chico Lameirão “Ainda bem que eu vivi os anos dourados do automobilismo brasileiro”

O piloto Chico Lameirão foi um dos principais personagens do automobilismo brasileiro nas décadas de 60 e 70. Seus grandes feitos foram as conquistas dos campeonatos brasileiros de Fórmula Ford em 1971 e de Fórmula Super V em 1975, além da quebra do recorde da pista de Interlagos pilotando um DKW Malzoni de motor um litro. A marca superada por Lameirão pertencia ao renomado piloto argentino Juan Manuel Fangio, que seis anos antes a conquistou a bordo de um potente Maserati com motor 2.5.

Conta-se que naquela época os pilotos realmente colocavam a mão na massa, desenvolvendo e acertando seus carros por contra própria. Alguns arriscam dizer que essa característica não era apenas por necessidade, mas também por gosto de mexer no carro. Como é o caso do personagem desta matéria. Hoje com 66 anos, Lameirão ainda não conseguiu tirar as mãos da graxa. Ele passa a maior parte de seu tempo em uma oficina trabalhando com carros de competição. Por pura paixão! Além de preparar os carros para as pistas, o veterano também se arrisca a projetar alguns veículos. Vale lembrar que tudo sem nenhum tipo de auxílio tecnológico. Atualmente os principais projetos em andamento na oficina são dois protótipos. Um que foi inspirado no Porsche Spyder, e que deve disputar a categoria Classic Cup, e outro que está sendo construído para bater o recorde de velocidade em linha reta.

 

Antes de descobrir a paixão pelo automobilismo, Lameirão praticava esqui aquático no Clube de Campo de São Paulo, que ficava perto do circuito de Interlagos. Não demorou muito para que o som dos carros acelerando no autódromo o atraísse para dentro da pista. A convite de um amigo, em 1962, o piloto fez sua estreia pilotando seu próprio carro de rua em uma corrida para estreantes. “Corri com meu Fusca 1.200 de pneus recauchutados e escapamento aberto, e logo de cara fiquei em terceiro”, relembra.

 

Depois disso, o piloto nunca mais se afastou da velocidade. Apenas um ano após essa corrida, foi convidado a participar de uma prova de longa duração, dividindo o volante do carro com o já renomado Luiz Pereira Bueno, na equipe Willys. “Tenho o Luizinho como um mentor. Ele era muito talentoso, para mim tinha o nível dos grandes vencedores da F-1”, conta o piloto, que teve como companheiros feras como José Carlos Pace, Bird Clemente, Carol Figueiredo e o então garoto Emerson Fittipaldi, que exercia a função de piloto reserva.

Depois da equipe Willys, o paulistano migrou para a Vemag e, na sequência, para a Joy Gancia, na qual continuou dominando as corridas no final da década de 60. Em 1969, obteve um excelente quinto lugar no torneio internacional de Fórmula Ford, realizado em Interlagos. Os resultados o empolgaram tanto que decidiu vender tudo que tinha no Brasil para correr de Fórmula Ford na Europa. Mas a falta de patrocínio e a dificuldade de viver sozinho na Inglaterra fizeram com que voltasse ao Brasil. “Eu não tinha ninguém. Eu levava o carro para a pista, o alinhava no grid, corria e o levava embora”, relembra Lameirão. De volta ao Brasil, o piloto correu na equipe Hollywood. Logo depois, em 1972, resolveu montar sua própria escuderia, a Motoradio, e pôde testar soluções para deixar o carro mais rápido. O uso de calotas para melhorar a aerodinâmica foi uma de suas descobertas.

Frequentemente o piloto volta a Interlagos para matar a saudade da pista onde sua carreira começou. Mas o veterano não esconde a saudade que sente do traçado antigo (para conhecê-lo melhor, assista a um trecho do GP Brasil de 1973 em http://www.youtube.com/ watch?v=EvmgC_dqP5M). “Até minha avó, se levantasse do túmulo, correria nessa pista atual”, brinca. “Aquele traçado separava os homens dos meninos! Ainda bem que vivi os anos dourados do automobilismo brasileiro”, completa. Lameirão, inclusive, encabeça um movimento para revitalizar a pista original sem alterar a nova e você também pode participar desse projeto acessando o blog www.interlagosantigo.blogspot.com.