Depois de divulgar o ranking dos carros mais limpos (e mais poluentes) do Brasil, o Ministério do Meio Ambiente foi duramente criticado por especialistas em combustíveis e meio ambiente, pela Anfavea (associação dos fabricantes de veículos), pela Unica (união dos produtores de álcool) e também por nós, e já admite rever o ranking – assim como a metodologia para determinar as notas.

O que há de errado com o ranking?

O problema começa na elaboração da “Nota Verde”: ela só considera três poluentes (CO, HC e NOx), desconsiderando o enxofre – responsável palas chuvas ácidas – e o material particulado, ambos emitidos apenas por motores a gasolina e diesel. O mais grave é que a emissão de CO2, principal responsável pelo aquecimento global (já considerado poluente nos EUA), não foi considerada no ranking – e nem ao menos se fez uma média entre as duas notas, a “verde” e a de “CO2”.

A emissão de dióxido de carbono dos carros flex é “zerada” com sua absorção nas plantações de cana, matériaprima da produção do álcool. Além disso, considere também que mesmo os veículos com os piores resultados ainda respeitam, com folga, os limites estabelecidos por lei – e emitem de 92% a 98% menos que os veículos produzidos na década de 80 (com maior evolução desta melhora nos anos 90). O mais importante seria fazer um programa de renovação da frota, como em outros países, onde há incentivos financeiros para a troca de automóveis antigos, mais poluentes, por novos.

Carro que consome mais polui mais?

O Ford Edge tem um motor grande mais moderno e, mesmo gastando muito, conseguiu se sair bem no ranking porque polui pouco (pois queima bem o combustível). Mas, além de a emissão de CO2 do Edge ser muito maior, o combustível que ele queima precisa ser produzido (processo que também emite poluentes). E, ainda, estamos falando de um carro importado, e transportá-lo do Exterior para cá também causa impacto ambiental.

Álcool polui mais? Devo usar gasolina no flex?

Tomemos como exemplo o Fit, que poderia ser considerado o carro mais limpo do Brasil, pois tem boa “Nota Verde” e boa “Nota de CO2”. Com motor pequeno, ainda tem a vantagem de ser flex (sua emissão de CO2 é zerada) e um dos mais baixos níveis de emissão do gás causador do efeito estufa, quando abastecido com gasolina. Comparando a “Nota Verde” de todos os carros flex, 47,9% têm emissões menores quando abastecidos com álcool e 45,8% são mais “limpos” com gasolina.

Os outros 6,3% tiveram notas iguais com os dois combustíveis. Ou seja, para estas emissões, você tem que consultar como seu carro, especificamente, se sai com cada combustível. Lembre-se que com álcool a emissão de CO2 é neutralizada – uma bela vantagem, já que, em todo o mundo, a grande preocupação ambiental é com a emissão de dióxido de carbono dos carros, muito mais difícil de controlar do que a de gases tóxicos como o monóxido de carbono e os hidrocarbonetos.

A MOTOR SHOW vai adotar a Nota Verde?

Como o próprio Ministério do Meio Ambiente decidiu formar um grupo de trabalho para “aprimorar” as informações divulgadas, propondo “uma metodologia que permita o perfeito entendimento do uso de combustíveis renováveis quanto às emissões de gases do efeito estufa”, não adotamos a Nota Verde até que saiam os resultados desta nova análise, esperada para este mês.