01/07/2007 - 0:00
A onda do álcool avança sobre o mundo, e muitos o vêem como a solução para salvar o planeta do efeito estufa e do aquecimento global. Por outro lado, os críticos argumentam que transformar o Brasil – e outros países – em imensos canaviais pode causar fome e até a morte de milhões de pessoas.
Em relação ao aquecimento global e a emissão de poluentes, a substituição da gasolina e do diesel pelo álcool representa uma enorme vantagem. Isso é quase uma unanimidade: até o Greenpeace defende o uso do álcool combustível.
“A solução para a redução dramática na emissão de poluentes é a biomassa, principalmente o etanol”, explica Ingo Plöger, engenheiro mecânico formado na Alemanha, especialista em combustíveis e sustentabilidade. Plöger explica que um carro que roda 20 mil quilômetros por ano com gasolina (ou diesel, que tem números próximos) emite cerca de 5,3 toneladas de CO2. O mesmo carro, com álcool hidratado, emite 3,7 toneladas a menos. Ou seja, um carro com motor flexível, se rodar dez anos usando álcool, deixa de emitir 37 toneladas do poluente.
Além disso, o gás carbônico emitido pela queima de álcool é absorvido pelas plantações quando a cana cresce. “O etanol, assim como o biodiesel, também emite CO2 quando é queimado. Mas no processo de crescimento, ele absorve CO2 e libera oxigênio”, explica Plöger. No final das contas, trata-se de uma emissão neutra, “que não aumenta o efeito estufa”, completa.
Quanto às queimadas, feitas para facilitar a colheita, a solução está mais próxima. Um protocolo assinado por José Serra, governador de São Paulo, e a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), diminuiu o prazo final para serem abandonadas de 2031 para 2017, e outros Estados devem seguir o exemplo.
Outra grande polêmica a respeito do álcool está nas previsões catastróficas de que, competindo com outros alimentos, ele causará fome e morte de milhões de pessoas. Nos EUA, o preço do milho subiu, mas outros fatores também contribuíram para isso. Aqui, a situação é diferente. Silvia Sagari, representante do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), afirma que a produção de cana é uma “oportunidade histórica” e que “menos de 20% do solo cultivável é usado hoje na América Latina”.
Oscar Braunbeck, professor da Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp, diz que “temos terras suficientes para não nos preocuparmos com a competição com alimentos pelo menos nos próximos 30 anos”. E analisa que, até lá, já teremos novas tecnologias e maior produtividade, que devem evitar o problema.
Plöger concorda: “O álcool não compete com alimentos. Temos 60 milhões de hectares agricultáveis utilizados hoje no Brasil, e algo entre 200 e 240 milhões de hectares para pastos. Deles, 40 a 60 milhões são pastos abandonados, totalmente agricultáveis. Dá para crescer muito”.
Nos quadros desta página, podemos verificar que no Brasil como um todo, todas as principais culturas agrícolas têm crescido, e não só a da cana. E, embora em São Paulo a cana venha substituindo outras culturas, seu maior crescimento se dá na região Centro- Oeste, principalmente no Cerrado. O importante é que a exploração destas áreas seja fiscalizada para se obter um desenvolvimento sustentável.
O que o mundo precisa, agora, é definir os melhores caminhos e tecnologias para substituir o petróleo e ajudar a salvar o planeta sem tornar os alimentos mais caros, muito menos matar a população das regiões mais pobres de fome.