Não é nada fácil esconder carros de testes das lentes poderosas dos fotógrafos caçadores de segredos, capazes de captar todos os detalhes dos protótipos a uma grande distância. Os fotojornalistas especializados nisso são capazes de passar horas e horas pendurados em uma árvore ou atrás de um arbusto à espera da imagem perfeita. Suas “presas” são os protótipos dos fabricantes – os carros do futuro – que tentam enganá-los com camu agens. Algumas delas são bem-sucedidas; outras, nem tanto. E enquanto as técnicas fotográficas (e de tratamento de imagem) se tornam mais sofisticadas, as camuflagens também se aprimoram para atrapalhar a vida dos paparazzi automotivos.

No processo de desenvolvimento de um carro, depois que as simulações por computador são todas realizadas, é preciso ir para as ruas. E aí entram em cena os técnicos especializados em disfarçar carros. Inicialmente, os traços mais marcantes da carroceria são alterados com enchimentos de poliuretano colados na lataria e pedaços falsos. Às vezes, enfiam parafusos e folhas de metal ou plástico diretamente na carroceria, fazendo buracos sem dó. Alguns sistemas mais sofisticados têm partes como capô e apêndices aerodinâmicos moldados de modo que pareçam verdadeiros, mas diferentes dos originais. O toque final é uma pintura preto fosco, pouco re exiva.

Durante as fases finais dos testes, no entanto, as formas, as peças e a aerodinâmica precisam ficar mais reais. E o disfarce mais usado para esse estágio de desenvolvimento de um carro são desenhos digitais: linhas e guras bizarras, que vão de blocos irregulares pixelados a listras de zebras, que servem para enganar os sensores das câmeras. Há quem vá ainda mais longe, usando um padrão de círculos concêntricos de efeito hipnótico. Um outro objetivo desses gráficos malucos é tornar mais difícil notar as formas do carro, principalmente quando em movimento. A alternância de linhas claras e escuras é concebida para confundir a visão, e o efeito é mais claro quando o carro está em alta velocidade. Não por acaso, os pilotos de testes são instruídos a se manter sempre em movimento, e jamais parar em um lugar onde possam ser fotografados.

Em Nova York, EUA, um piloto de testes estacionou um BMW X3 protótipo, ainda parcialmente disfarçado, perto do Museu de História Natural. Aí uma mulher, suspeitando da estranha aparência do carro, chamou a polícia. Os policiais, temendo um possível ataque terrorista, isolaram a área e quebraram a janela traseira do carro para ver o que havia dentro dele. Nem precisamos dizer que ali não havia uma bomba, mas o incidente causou constrangimento para a marca alemã e atraiu para o protótipo a atenção do mundo – exatamente o oposto do que se queria. Ou não? Alguns dizem que camuflagens tão exageradas são, na verdade, uma forma de criar expectativa nos consumidores.

DA NATUREZA AO EXÉRCITO
A arte de enganar a visão é antiga e, nem é preciso dizer, inspirada na natureza. (Ainda) é difícil imitar o camaleão, o rei da camuflagem, mas são muitos os animais com formas e cores destinados a confundi-los com o ambiente circundante para que escapem dos predadores, como as zebras e os leopardos. Da natureza para o homem, o passo foi pequeno. Os primeiros a estudar os animais para desenvolver camuflagens foram os militares. São eles os que mais investem, também, no desenvolvimento de novas técnicas. Tome-se, por exemplo, os uniformes militares. Muitos exércitos abandonaram os velhos tecidos com manchas de várias formas e tamanhos e adotaram esquemas feitos por computador, que parecem com fotos digitais de baixíssima resolução, todas “pixealizadas”. O padrão na foto acima (dos Marine Corps americanos) não parece nada mimético, mas basta colocá-lo em um local com fundo desértico ou arenoso para perceber como engana o observador, criando um efeito que torna difícil identificar o contorno do corpo do soldado, mesmo usando binóculos avançados. Ainda no mundo militar, outra camuflagem singular é o estranho capacete usado por soldados israelenses: parece um chapéu de chef de cozinha, só que é um pouco maior. Pode até parecer ridículo, mas é eficaz: impede que os atiradores inimigos apontem corretamente para a cabeça do combatente. Nos carros, as listras das zebras são bem eficientes e impedem que você defina com exatidão onde está a linha de cintura, por exemplo.