28/06/2019 - 8:10
Os carros chineses costumam ser as verdadeiras pechinchas do nosso mercado, mas como hoje os modelos mexicanos não pagam o Imposto de Importação, eles também podem acabar sendo “negócios da China”. Então o novo JAC T80, SUV grande e veículo chinês mais caro vendido no Brasil hoje, não tem vida fácil ao encarar mexicanos como os médios-quase-grandes Volkswagen Tiguan Allspace e Chevrolet Equinox. Esse último foi o escolhido para confrontar o novato oriental aqui porque, partindo da mesma faixa de R$ 150 mil – valor de alguns SUVs médios tradicionais – também oferece “algo a mais”. Enquanto o T80 tem sete lugares como o Tiguan, mas com espaço interno acima da média, o Equinox tem o mesmo porte do Volks, mas com uma potência acima da média. São duas pechinchas, que oferecem mais por menos. Qual é o ideal para você?
No Equinox, o motor 2.0 turbo tem 262 cv e 37 kgfm e o câmbio tem nove marchas, mas a aleta no lado direito do volante controla o volume e a do lado esquerdo, a faixa/estação. Isso já deixa bastante claro que, apesar de andar muito bem, o SUV não tem pretensões verdadeiramente esportivas. Essa impressão é reforçada pela direção de respostas lentas e pelas suspensões que, embora sejam um tanto firmes, sacrificando parte do conforto, ainda deixam o Equinox deitar demais nas curvas e até sair de frente com certa facilidade quando a tração integral (AWD) não está acionada. E o problema aqui é que só há AWD na versão Premier fotografada, de R$ 170.390 – que ganha também um visual externo com mais cromados, sistemas de direção semiautônoma (mas não ACC), rodas aro 19 e teto panorâmico, entre outros itens (leia tabela abaixo).
Já o motor também 2.0 turbo do JAC T80 não tem a injeção direta de combustível, e por isso é um pouco mais fraco: 210 cv e 30,5 kgfm. O chinês tampouco tem tração integral, e está muito mais distante de oferecer qualquer esportividade – culpa também de seu câmbio de dupla embreagem e seis marchas ainda mal calibrado, que demora a responder e nem sempre sabe bem o que deve fazer. O T80 ainda fica devendo ao Equinox topo de linha os já citados sistemas semiautônomos e outros itens. Mas tem quase tudo que o Chevrolet de valor equivalente (o LT) oferece, além de itens exclusivos como os bancos elétricos dianteiros com sistemas de ventilação e massagem para o motorista (bizarro não ter ajuste de profundidade do volante). Então, se o apelo de esportivo do Equinox diminui com a dinâmica ruim, o apelo do T80 está exatamente no que ele é – um enorme e confortável SUV familiar, com espaço de sobra e, ainda, dois lugares extras “escondidos” no porta-malas.
Olhando de fora, o T80, além de ser mais bonito, é bem mais imponente que o rival por causa das dimensões maiores, principalmente na largura e na altura – são 1,90 m e 1,76 m, respectivamente. Ao entrar no SUV chinês, então, a maioria reage com espanto. Não apenas pelo espaço enorme – que faz com que o Equinox pareça até pequeno – mas principalmente pelo seu acabamento. Ele pode não ser assim tão original, com saídas de ar parecidas com as dos Mercedes e tela com moldura que lembra as dos BMW, mas os materiais são todos macios ao toque, intercalados com couro e (imitação de) fibra de carbono. O console central largo e com diversos comandos impressiona, e o teto panorâmico enorme é o único opcional, vendido em um pacote com o som hi-fi de 20 alto-falantes – que iguala o preço do T80 ao do Equinox LT (que não tem esses itens). A sensação geral a bordo do chinês é de se estar em um carro muito mais caro do que de fato custa.
Já o design do Equinox é mais controverso (questão de gosto, claro), e sua cabine é apenas mediana: tem excelente montagem e usa materiais macios, porém eles são misturados a alguns plásticos duros e o banco do passageiro, por exemplo, não tem ajuste de altura (os do banco do motorista são elétricos só no Premier, que também ganha a prática tampa do porta-malas motorizada com sistema de abertura passando o pé debaixo do para-choque traseiro). Quem viaja atrás encontra assoalho plano e um banco espaçoso e reclinável, mas não deslizante como o do T80 (ao menos ele “ajoelha” quando rebatido, abrindo bastante espaço para objetos). Os porta-malas são enormes, e no Equinox há uma útil parte separada abaixo do assoalho. Mas só o JAC pode abrir ali dois assentos extras – bons, mas de acesso ruim, servem bem a um uso ocasional.
QUEM VAI SORRIR
A cabine do JAC pode ser bem mais espaçosa e luxuosa, e por isso os passageiros vão gostar mais de viajar nele, que tem suspensões macias como a de um ônibus interestadual. Quem estiver ao volante, porém, vai preferir o Equinox. Não só pela potência extra e pelo desempenho melhor, mas porque ele trata melhor o motorista, com uma ergonomia melhor, uma posição de dirigir bem mais fácil de ajustar e comandos – no volante, painel e central multimídia mais intuitivos. Falando na central, ela é outra grande vantagem do Chevrolet: a bela tela wide (larga) do T80 não tem muito o que mostrar, pois não há nada ali interessante sobre o carro e nem ao menos GPS off-line ou Android Auto e Apple CarPlay. Há só um complicado sistema de espelhamento que apenas projeta as imagens do celular (não permite nem controlá-lo pela tela central). Para completar, a interface é ruim. Enquanto isso, o Equinox tem um dos melhores sistemas de infotainment do mercado, muito fácil, rápido e prático.
Em movimento, apesar dos pesares, o Equinox é mais envolvente. Reage muito mais prontamente aos comandos, principalmente nas retomadas, e com mais vigor (0-100 km/h em 7s6, contra 9s2 do JAC). As trocas sequenciais de marcha podem ser feitas por um péssimo botão na alavanca, mas se você só precisa de disposição extra ou deixar o carro “cheio” na serra, por exemplo, basta optar pelo modo L (Low), que mantém as rotações altas. O rival T80 até permite (lentas) trocas manuais usando a alavanca (melhor, mas ainda não ideal) e tem o modo S, que transforma as respostas lentas em brutas até demais (falta um meio termo). Mas as aceleradas súbitas às vezes são respondidas com estranhas patinadas, como se tivesse “errado’ a marcha. É um carro para se dirigir sem emoção, calmamente, enquanto curte a família e a cabine.
Uma outra vantagem do JAC T80 está na altura em que o motorista dirige – de novo, por causa do porte generoso. Você fica mais alto que no Equinox, que já é bem alto. Mais ou menos como um “SUV raiz”, e isso dá a muitos motoristas uma desejada sensação de superioridade (e, por outro lado, o torna ainda pior em curvas que o rival). Outras vantagens do modelo chinês estão no painel digital com diversas opções de visualização e três configurações gerais – mesmo número de opções que há para o peso do volante (o mais leve é para usar apenas na cidade e ajudar nas manobras; há também câmeras 360o; mas só o Equinox Premier estaciona sozinho).
Um ponto positivo em ambos está no isolamento acústico. Apesar de só o Chevrolet ter um sofisticado sistema que anula ruídos brancos (como o do motor) emitindo frequências contrárias, o T80 tem isolamento acústico primoroso (é mais difícil ouvir suas suspensões do que as do rival). Já um ponto negativo, também de ambos, está no consumo. Na cidade, não passamos de 7 km/l e, na estrada a 120 km/h (2.100 rpm no T80 em sexta marcha, 1.700 rpm no Equinox em nona) marcamos apenas 10 km/l nos dois (Equinox Premier no modo 2WD; sua versão LT gasta menos). É o preço a pagar pelo desempenho extra, no Equinox, e pelo espaço extra, no T80. Esse custo não vem na etiqueta, mas aparece depois, no posto de gasolina.
REDE, GARANTIA, ETC.
Analisar os carros às vezes é suficiente, às vezes não – rede de atendimento, garantia e pós-venda podem ser decisivos, ainda mais se tratando de uma disputa entre um Chevrolet, com centenas de concessionárias e ampla cobertura nacional, e um JAC – com 37 pontos de venda. Para tentar compensar, a marca chinesa dá garantia de seis anos (o dobro) e pacotes de revisões fechados (um pouco mais caros que os do rival). E suas peças são muito mais baratas (veja tabela). Apesar disso, a vantagem aqui é mesmo do Chevrolet.
CONCLUSÃO
É preciso escolher. Você quer um carro para a família, mas está disposto a sacrificar parte do conforto e gastar mais combustível para ter um desempenho brutal? Leve o Equinox – mas se você vai pisar mesmo, melhor investir no Premier, que tem o AWD. A versão LT, com tração dianteira, vai ajudar bem nas ultrapassagens, mas nas serras você vai ter que guiá-la mais lentamente, como o T80. Nesse caso, o chinês oferecerá mais espaço e equipamentos, pelo mesmo valor.
Agora, se você não costuma ter pressa ao volante, prioriza o espaço para sua família, um bom acabamento e suspensões macias, o JAC T80 é opção única com seu porte, potência e sete lugares. Os demais modelos para sete são ou bem mais caros (o Toyota SW4 Flex parte de R$ 182.370) ou bem mais fracos (o Tiguan Allspace de R$ 150 mil tem motor 1.4 turbo de 150 cv e 25,5 kgfm). Assim, o chinês perde nas notas (ao lado) para o Equinox, por causa principalmente da mecânica, que se reflete em desempenho e prazer de dirigir, mas fará sua família mais feliz. Se o Equinox é a escolha do motorista, o T80 é a opção dos passageiros.