04/01/2023 - 8:00
Neste especial que começa aqui, parte da mais nova edição da revista MOTOR SHOW, os carros mais vendidos do Brasil são desafiados pelos melhores rivais e/ou novidades mais quentes (leia mais aqui). Começamos uma disputa de compactos: após o reinado do Chevrolet Onix, o Hyundai HB20 foi o carro mais vendido do País em 2021 e 2022 (até setembro, excluindo a Fiat Strada, hoje sem rival à altura).
Trata-se de um feito da marca, que, menos de dez anos após inaugurar sua fábrica no Brasil, superou as “quatro grandes” no segmento de entrada – excluindo Fiat Mobi e Renault Kwid, carros “de nicho”. E, contra o Hyundai HB20, convocamos o Peugeot 208, que já foi nossa Compra do Ano e hoje aparece como opção mais interessante ao líder.
O plano era ter aqui as versões de entrada, mas a Hyundai não tinha o HB20 Sense, de R$ 77.190, e a Peugeot não tinha o 208 Like, de R$ 79.990 (de qualquer modo, não são elas as melhores em custo-benefício).
Os carros das fotos são HB20 Comfort, de R$ 80.490, e Peugeot 208 Style, de R$ 84.990. Já voltaremos ao que oferecem, mas, antes de mais nada, queremos falar da origem deles.
(Atenção: os preços aqui são de dezembro, quando a reportagem foi lançada na revista; eles podem ter mudado desde então).
Neste ponto, a vantagem, ao menos teoricamente, seria do Peugeot: enquanto HB20 foi desenvolvido para o mercado nacional, se distanciando da qualidade do i20, modelo equivalente, porém mais sofisticado, do mercado europeu (já avaliamos aqui), o 208 nacional seria igual ao do Velho Continente.
Mas sabemos que ele foi empobrecido, uma prática normal na indústria nacional ao adotar modelos de “primeiro mundo”. Isso acontece tanto no que se vê, como acabamento e motor (lá, no lugar do 1.6, por exemplo, tem o 1.2 turbo PSA), quanto no que não vemos.
Então, isso não muda muita coisa aqui. Mas, mesmo que briguem no mesmo segmento, este comparativo está cheio de contrastes que podem definir a compra. Vamos lá…
Hyundai HB20 vs. Peugeot 208: design, porte, cabine e conteúdo
Apesar do design polêmico da segunda geração, que chegou em 2019, foi com ele que o HB20 se tornou o líder de vendas. Porém, a Hyundai não aceitou bem as críticas ao design e adotou, três anos depois, um desenho bem diferente, mais genérico… que talvez agrade a mais clientes, mas perdeu personalidade.
O Peugeot 208, por outro lado, estreou a segunda geração em 2020 com um design original e quase unânime – que melhora na versão Style, com belas rodas de liga-leve, aerofólio e outros adereços. Ponto para o francês.
O Peugeot 208 oferece menos espaço que o rival tanto na cabine quanto no porta-malas, mas compensa com o teto panorâmico, que ajudar a iluminar e dá sensação de mais espaço
Em relação ao porte, como todos os hatches compactos recentes, ambos passaram dos quatro metros. Mesmo sendo quase do mesmo tamanho, o HB20 tem porta-malas maior (300 litros, contra 265 do rival) e acomoda melhor os ocupantes.
Para quem usa bastante o banco traseiro, a vantagem do HB20 está no espaço e, também, nas portas maiores e com um maior ângulo de abertura (no 208, o vão é pequeno demais)
Há sensação de mais espaço tanto na frente, graças ao console central baixo e à posição de dirigir mais alta, quanto atrás, onde a cadeirinha de bebê entrou mais fácil.
Além disso, as portas traseiras do 208 são menores e têm ângulo de abertura pequeno, dificultando bastante o acesso. Ponto para o coreano.
Já na cabine, a vantagem é do 208 em design e acabamento. Além do teto panorâmico desta versão Style, que ilumina a cabine, tem o i-cockpit, painel “diferentão”, visto por cima do volante pequeno e de design inusitado.
No 208, o cluster é visto por cima do volante, o plástico imita carbono e a multimídia tem tela wide com 10,3”. O carregador por indução tem compartimento com tampa. O cluster tem “contra-giros” e há poucos botões físicos no painel
É tudo criativo, mas sacrifica a praticidade – o ar-condicionado, por exemplo, só tem botão físico para “máximo” e “recirculação”, e a temperatura só é ajustada na tela multimpidia, exigindo vários toques, distraindo o motorista e tirando a exibição do mapa em horas cruciais (pior: não tem controle automático de temperatura).
O Hyundai HB20 é mais prático, por ter botões “normais”, além de atalhos personalizáveis (no volante e painel). Já o cluster de ambos é simples, mas de boa leitura. No Peugeot é mais elegante e tem o velocímetro digital sempre exibido – mas não gosto do “contra-giros” (ponteiro invertido).
No acabamento, o 208 também agrada mais – aos olhos, pois ambos usam plásticos duros, mas o francês, além de formas mais atraentes, abusa de texturas que imitam fibra de carbono.
Olhando montagem e encaixes, porém, o coreano é melhor. Além disso, o ajuste de altura do banco no HB20 é mais suave e fácil (o do rival tem localização péssima). Falando em bancos, ambos capricham no estilo, mas o 208 Style tem material tipo jeans, mais bonito e de melhor qualidade.
O HB20 tem tela multimídia menor e cluster que fica devendo velocímetro digital fixo e indicador de troca de marchas. Mas os controles físicos do ar-condicionado são bem mais rápidos e práticos, e a montagem é mais caprichada e há mais espaço para colocar objetos
Já em conectividade, entre esses 1.0 só o HB20 pode ter controle do carro por aplicativo – no Comfort, com preço do 208 Like (que não tem essa função).
Mas, na central multimídia, a vantagem do Peugeot é grande. Além da tela maior, wide e mais voltada para o motorista, tem Android Auto e Apple CarPlay sem fio (com carregador por indução, outra vantagem), e uma moldura bonita, para apoiar a mão ao usar o touch (bem pensado)!
No mais, esta nova versão Like do 208 oferece como grande destaque o grande teto panorâmico e o visual mais esportivo, já citados, além de faróis de LED (já desregulado na unidade avaliada).
Pelo valor desta versão do francês, porém, você leva o HB20 Limited, que ainda fica devendo a ele só o teto (que pode pesar na escolha) e o Android Auto/Apple Carplay sem fio – mas, por outro lado, oferece comodidades que o rival não tem, como luzes na cabine (traseira), porta-luvas e porta-malas, e abertura e fechamento global via controle remoto na chave.
Outras vantagens do Hyundai, essas desde a versão Comfort das fotos, estão no ajuste de altura dos cintos, no regulador e limitador de velocidade e, principalmente, nos airbags de cortina, que o 208 nunca tem. Veja mais detalhes na tabela de equipamentos abaixo.
Hyundai HB20 vs. Peugeot 208: ao volante
Antes de colocar os carros em movimento, a Peugeot leva vantagem por ter sempre a coluna de direção com ajuste de altura e de profundidade – no rival, a de profundidade só vem a partir da versão Comfort.
Mas é preciso considerar que, no 208, o ajuste mais amplo do volante é praticamente uma necessidade, por causa do design do painel. Não que no HB20 ela seja dispensável: a posição que ficou
melhor para as minhas pernas deixou o volante mais longe do que gostaria – mas isso não pode ser considerado uma falha grave.
Os dois tem motor 1.0 tricilíndrico aspirado e câmbio manual de cinco marchas, nessas configurações que privilegiam a economia de combustível.
Potência e torque são bem similares (até 75 cv e 105 Nm no Peugeot e até 80 cv e 100 Nm no Hyundai). Mas os comportamentos são mais distintos do que pode parecer, porque o novo (no 208) motor Fiat Firefly é uma unidade 6V, enquanto o motor do Hyundai tem 12V (quatro válvulas por cilindro)]
O consumo deles é excelente, na faixa de 13 km/l na cidade e 16 km/l na estrada usando gasolina (e 10 e 13 km/l, respectivamente, com etanol). Nos dados oficiais do Inmetro, vantagem desprezível do 208 (veja fichas técnicas abaixo).
Em relação ao desempenho, o 208 pode “puxar” melhor em baixas/médias rotações, até 2.500 rpm, mas logo perde o fôlego. Agrada principalmente na cidade, sendo discretamente mais ágil em médias rotações, e acelera de 0-100 km/h em quase um segundo a menos – mas ainda longos 13,4 segundos.
Mas o HB20 não demora a embalar por ser 12V: mais leve, até surpreende nas saídas, e é mais elástico, exigindo menos trocas de marcha – falando nisso, a transmissão é melhor, com os engates mais precisos e justos do que no rival.
Ainda na cidade, o HB20 ganha também no acerto fino mais “redondo” de direção, acelerador e freios, mas perde nas suspensões, menos confortáveis e mais barulhentas.
Aliás, essa geração do 208 tem uma ótima suspensão, robusta e boa de dinâmica ao mesmo tempo, muito diferente daquela dos antigos 206, 207 e 208.
Na estrada, a vantagem mecânica do HB20 só aumenta: enquanto o 208 exige que se faça reduzidas em qualquer subida, e sofreu para se manter no limite de 120 km/h – com o motor a altas 3.800 rpm (a 100 km/h, são 3.000 rpm)nas longas subidas da Rodovia dos Bandeirantes –, o Hyundai tem mais fôlego para manter a velocidade.
No Peugeot 208, parece faltar uma “quarta e meia”: às vezes o motor está no limite de giros na quarta, aí você passa a quinta e o 208 “murcha”. Por outro lado, tanto silêncio na cabine (isolamento acústico) quanto dinâmica do 208 são um pouco melhores nesse cenário.
Conclusão
No fim, a questão aqui fica entre priorizar imagem e cabine ou mecânica e relação custo-benefício. O Peugeot 208 é mais bonito por dentro e por fora, tem central multimídia melhor e é muito econômico, além de ter suspensões melhores.
Já o Hyundai HB20 é igualmente econômico e tem mecânica superior, tanto pela transmissão melhor na cidade quanto pelo maior fôlego na estrada, além de custos de revisões e manutenção menores (veja tabela). Além disso, a confiabilidade dos motores Fiat/Jeep anda em baixa.
O vencedor, aqui, teria plataforma, design e acabamento do Peugeot, mas motor e câmbio do Hyundai. Como isso não existe, e temos que indicar o vencedor em um segmento onde custos são essenciais e confiabilidade vale mais que aparência, ficamos com o Hyundai HB20 (mesmo apaixonados pelo visual e cabine do 208).
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